Rombo previdenciário pode quadruplicar em 75 anos com o envelhecimento da população, mesmo após reforma de 2019
Por Fernanda Cappellesso
Brasília – O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deve encerrar 2025 com um déficit de R$ 328 bilhões, segundo projeções divulgadas pelo Tesouro Nacional e pelo Ministério da Fazenda. Os dados integram o Relatório de Projeções Atuariais da Previdência Social 2025, que também alerta para o agravamento do cenário fiscal nas próximas décadas, impulsionado pelo envelhecimento populacional.
De acordo com as estimativas oficiais, o rombo nas contas do INSS pode chegar a R$ 1,3 trilhão até 2100 se nenhuma nova reforma estrutural for implementada. O número representa quase quatro vezes o montante previsto para este ano e reflete a pressão que o sistema previdenciário brasileiro sofrerá com o aumento da proporção de idosos na população economicamente dependente.
“A reforma da Previdência de 2019 representou um alívio importante, mas de caráter transitório. O desafio estrutural permanece, sobretudo com o crescimento acelerado da população idosa”, afirma o relatório.
Custo crescente do envelhecimento
Segundo o Ministério da Fazenda, o Brasil deve ver sua população acima de 65 anos quase triplicar nas próximas cinco décadas. Hoje, cerca de 10% da população está nessa faixa etária; em 2075, esse índice pode chegar a 30%. Como consequência, haverá maior pressão por benefícios previdenciários em relação à arrecadação, que tende a desacelerar com a redução da população economicamente ativa.
O relatório ainda projeta que, sem novas medidas de controle de gastos ou aumento de receitas, o déficit previdenciário pode se tornar o principal fator de desestabilização das contas públicas a médio e longo prazo.
O impacto da reforma de 2019
A reforma da Previdência aprovada em 2019 impôs regras mais rígidas para aposentadoria, como idade mínima e transição por pontos. A medida teve efeito direto na redução do crescimento do déficit, que chegou a ultrapassar R$ 290 bilhões em 2022.
Ainda assim, os técnicos da área econômica alertam que o impacto da reforma tende a diminuir a partir da década de 2030, especialmente se o mercado de trabalho formal continuar estagnado e a informalidade seguir alta — fatores que limitam a arrecadação previdenciária.
Regimes próprios também preocupam
Além do INSS, os regimes próprios de previdência de servidores estaduais e municipais também enfrentam desequilíbrios. Segundo o Tesouro Nacional, quase 80% dos estados brasileiros apresentaram déficit nos seus fundos de pensão em 2024. A tendência, de acordo com o relatório, é que esses passivos aumentem com a judicialização de direitos adquiridos e a resistência a novas reformas locais.
Debates e soluções
A equipe econômica do governo federal estuda alternativas para mitigar o impacto fiscal do envelhecimento populacional. Entre as possibilidades, estão a ampliação da base de contribuintes, incentivos à formalização do trabalho, criação de fundos previdenciários complementares e até mesmo uma nova rodada de reformas paramétricas a partir de 2027.
Especialistas em contas públicas, como o economista Paulo Tafner, sugerem uma revisão profunda do modelo previdenciário brasileiro: “É necessário rediscutir a sustentabilidade do sistema e buscar soluções mais integradas com o novo perfil demográfico do país”.
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