Ambientalistas e especialistas veem na dificuldade de estruturar Belém para o evento uma ameaça à imagem do Brasil e à liderança na pauta ambiental global
A menos de um ano da realização da COP-30, prevista para novembro de 2025, em Belém (PA), cresce a apreensão entre representantes da comunidade ambiental, da diplomacia internacional e do setor científico sobre as condições logísticas e estruturais da cidade-sede.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revela que delegações estrangeiras expressaram preocupação com a capacidade do Brasil de oferecer infraestrutura adequada para o maior evento climático do mundo. Nos bastidores, há inclusive países avaliando reduzir o tamanho de suas comitivas ou até repensar a participação caso não haja uma resposta concreta nas próximas semanas.
Ambientalistas soam o alarme: ‘É mais que logística, é credibilidade ambiental’
Para ambientalistas e pesquisadores, o problema não se resume à capacidade operacional do evento, mas sim à credibilidade internacional do Brasil na liderança climática global.
“Se o país não consegue garantir um ambiente minimamente estruturado para receber os líderes que vão discutir a crise climática, o que o mundo pode esperar da sua capacidade de proteger a Amazônia e implementar acordos de preservação? Isso não é apenas sobre hotéis, é sobre a coerência entre discurso e prática”, afirma uma fonte ligada à comunidade científica da Amazônia.
A avaliação entre especialistas é unânime: o fracasso em entregar uma COP funcional seria devastador para a imagem do Brasil e um retrocesso na luta por financiamento internacional para preservação ambiental.
Desafios logísticos vão além da cidade-sede
As preocupações não se restringem a Belém. Especialistas alertam que a logística de acesso ao Norte do Brasil, a capacidade limitada do transporte aéreo internacional, a fragilidade dos sistemas de saneamento, energia e internet, além da infraestrutura hoteleira muito aquém da demanda, são gargalos que, se não forem solucionados rapidamente, podem comprometer o sucesso do evento.
“Uma COP não é apenas um evento diplomático, é uma operação logística comparável aos Jogos Olímpicos ou a uma cúpula do G20. Estamos falando de receber mais de 60 mil pessoas, incluindo chefes de Estado, pesquisadores, investidores, negociadores e representantes da sociedade civil. Isso exige uma infraestrutura que hoje não existe na cidade”, alerta um especialista em mudanças climáticas ouvido pela reportagem.
Risco de esvaziamento das negociações
Nos bastidores, diplomatas ligados às negociações internacionais apontam que, sem avanços imediatos, o risco não é apenas simbólico. O temor é que um evento desorganizado gere esvaziamento nas negociações, impactando diretamente os acordos de financiamento climático, proteção dos biomas e mecanismos de compensação por emissões.
“O Brasil pleiteou sediar a COP na Amazônia para mostrar protagonismo. Se não conseguir entregar um evento à altura, perde autoridade para cobrar compromissos de outros países. É simples assim”, resume um ambientalista que acompanha as tratativas da conferência.
A responsabilidade é coletiva — mas a cobrança recai sobre o Brasil
Para analistas, o cenário exige ação emergencial e coordenada. A avaliação é que, se necessário, o governo brasileiro deverá buscar apoio técnico, financeiro e logístico internacional para garantir que a COP-30 não se transforme em um fracasso diplomático.
“O mundo não quer apenas discursos bonitos sobre floresta em pé. Quer ver capacidade, entrega e governança. Se não resolvermos isso, a credibilidade do Brasil como líder climático vai por água abaixo — e com ela, a chance de garantir investimentos bilionários em preservação e desenvolvimento sustentável para a Amazônia”, alerta um especialista em política ambiental.
Um risco real de retrocesso ambiental e diplomático
A menos de um ano da abertura da COP-30, o Brasil enfrenta mais do que um desafio operacional. Está diante de uma batalha para preservar sua posição como ator relevante no debate climático global. Fracassar na organização significa, para ambientalistas e cientistas, comprometer não apenas um evento, mas uma década de avanços na diplomacia ambiental e na luta pela proteção da Amazônia.
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