Proposta de Moscou encontra resistência entre aliados da Otan; especialistas apontam manobra estratégica diante do prolongamento do conflito
O governo da Rússia elevou o tom diplomático e passou a pressionar por um tratado formal de paz com a Ucrânia, mais de dois anos após o início da guerra. A proposta, apresentada nesta semana por autoridades do Kremlin, condiciona qualquer cessar-fogo a garantias territoriais e ao reconhecimento do controle russo sobre áreas ocupadas, como Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia.
A iniciativa foi interpretada por analistas ocidentais como uma tentativa de consolidar posições militares já conquistadas em campo, travar o avanço ucraniano e forçar uma saída diplomática que preserve os interesses estratégicos de Moscou.
A Casa Branca reagiu com cautela. Em nota, o Departamento de Estado dos Estados Unidos afirmou que “qualquer acordo de paz deve respeitar a integridade territorial da Ucrânia e ser decidido pelo governo de Kiev”. Representantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) reforçaram a posição americana e consideraram a proposta russa “prematura e assimétrica”.
“Essa ofensiva diplomática busca normalizar a ocupação de territórios ucranianos, sem que haja retirada ou garantias de desmilitarização. Trata-se de uma pressão mais política do que viável no campo jurídico internacional”, avalia o professor Maurício Santoro, especialista em geopolítica da Uerj.
A Ucrânia, por sua vez, rejeitou qualquer discussão que envolva a cessão formal de territórios. O presidente Volodymyr Zelensky reiterou que a soberania nacional é inegociável e voltou a exigir a retirada completa das tropas russas como pré-condição para qualquer tratado.
ONU mantém posição de neutralidade, mas cobra diálogo efetivo
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que a entidade está “comprometida com a mediação de uma solução pacífica” e destacou a importância de uma abordagem multilateral para garantir a estabilidade regional. No entanto, o Conselho de Segurança permanece dividido, com a Rússia mantendo poder de veto.
A proposta de paz surge em meio a um impasse militar no leste ucraniano e a uma crescente fadiga entre países europeus que vêm arcando com os custos humanitários e financeiros do conflito. Pesquisas internas na Alemanha e na Polônia apontam queda no apoio popular ao envio contínuo de armas e recursos para Kiev.
“Moscou está jogando com o tempo e com a exaustão diplomática. Ao colocar um ‘tratado’ sobre a mesa, tenta mostrar racionalidade ao mundo e desgastar a coalizão ocidental”, afirma Tatiana Rocha, pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da UnB.
Impactos e próximos passos
A movimentação russa deve ser discutida em reuniões paralelas da cúpula do G7, marcada para este mês, na Itália. A Ucrânia já indicou que deve intensificar pedidos por mais armamentos e por uma ofensiva diplomática coordenada para isolar Moscou.
Em paralelo, sanções econômicas adicionais contra setores estratégicos russos estão em avaliação por parte da União Europeia. Fontes diplomáticas indicam que o novo pacote poderá incluir restrições ao setor de energia e à movimentação de bens de luxo entre oligarcas russos.
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