Novo valor tem ganho real, mas perde força diante da inflação persistente e da perda do poder de compra acumulado nos últimos anos
O governo federal confirmou para 2025 o reajuste do salário mínimo para R$ 1.502, valor que representa um aumento nominal de 6,6% em relação ao piso atual de R$ 1.412. A medida segue a política de valorização do mínimo, com base na reposição da inflação do ano anterior (INPC) mais o crescimento real do PIB de dois anos antes (2023), que foi de 2,9%.
Embora o novo valor traga um ganho real estimado de cerca de 1,3%, especialistas alertam que o reajuste, embora positivo em termos formais, pode ter efeito limitado sobre o poder de compra das famílias, especialmente em um cenário de inflação resiliente e pressões nos preços dos alimentos, combustíveis e aluguéis.
“É um reajuste com viés técnico e previsível, que respeita a regra vigente, mas não rompe a tendência de recomposição parcial das perdas acumuladas”, afirma Leonardo Ribeiro, economista. “Para quem depende exclusivamente do mínimo, o alívio é marginal diante do aumento do custo da cesta básica e das tarifas públicas.”
Impacto fiscal e previdenciário
O novo valor também tem implicações significativas sobre as contas públicas. Estimativas da equipe econômica indicam que cada R$ 1 de aumento no salário mínimo representa cerca de R$ 370 milhões a mais por ano em despesas federais, devido ao reajuste automático de benefícios vinculados, como aposentadorias do INSS, pensões e o BPC (Benefício de Prestação Continuada).
Somente com o novo reajuste, o impacto fiscal adicional em 2025 será de aproximadamente R$ 33 bilhões. O governo, no entanto, sustenta que a política de valorização é sustentável e necessária para garantir poder aquisitivo à base da pirâmide de renda.
“O salário mínimo tem efeito de arrasto sobre os rendimentos informais e sobre políticas de transferência de renda. Embora haja impacto orçamentário, é uma medida de proteção social e estímulo ao consumo”, defende o economista Paulo Pimenta.
Consumo e mercado de trabalho
Na prática, o novo mínimo deve injetar liquidez adicional em regiões com forte presença de trabalhadores formais de baixa renda e em cidades onde os repasses do INSS têm peso expressivo na economia local. O efeito multiplicador no varejo, sobretudo no interior do país, pode compensar parte da desaceleração esperada no crescimento do consumo das famílias.
Entretanto, analistas alertam que o reajuste não corrige distorções estruturais. De acordo com cálculos do Dieese, o salário mínimo necessário para cobrir despesas básicas de uma família de quatro pessoas seria, em abril de 2025, de R$ 6.912,00— mais de quatro vezes o valor oficial.
“O novo piso tem importância simbólica e política, mas está longe de garantir dignidade plena ao trabalhador. Serve como base de cálculo, mas não como referência real de subsistência”, afirma Ana Carolina Menezes.
Expectativas para 2026
Com o crescimento modesto do PIB previsto para 2024 e uma inflação que ainda preocupa o Banco Central, a expectativa é de que o reajuste para 2026 mantenha o mesmo padrão técnico. A manutenção da política de valorização do salário mínimo deve seguir como um ponto de tensão entre a responsabilidade fiscal e as pressões sociais.
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