Relatório do Banco Central indica cenário de desaceleração inflacionária moderada, manutenção dos juros altos e leve revisão positiva no crescimento econômico.
As cinco instituições mais precisas do mercado financeiro, segundo classificação do Banco Central, ajustaram suas projeções para os principais indicadores da economia brasileira em 2025. As novas estimativas constam no boletim Focus Top 5 de maio e indicam leve recuo na inflação, manutenção da taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado, revisão positiva do Produto Interno Bruto (PIB) e um dólar mais controlado, ainda acima de R$ 5,80.
De acordo com o documento, a estimativa para o IPCA — índice oficial da inflação — caiu de 5,46% para 5,44% em 2025. Para 2026, a projeção foi mantida em 4,50%, ainda acima da meta de 3%, mas dentro do intervalo de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional.
A Selic segue estimada em 14,75% ao fim de 2025, sinalizando a expectativa de que o Banco Central mantenha uma política monetária restritiva para conter a inflação persistente. Para 2026, a previsão é de um recuo mais acentuado, com a taxa encerrando o ano em 12,50%.
Já o PIB — que mede a soma de todas as riquezas produzidas no país — teve ligeira revisão para cima: passou de 2,14% para 2,18% neste ano. Para o próximo ano, a projeção caiu discretamente, de 1,83% para 1,81%, mantendo o tom moderado de crescimento.
No câmbio, a estimativa para o dólar recuou de R$ 5,83 para R$ 5,80 em 2025, e foi mantida em R$ 5,89 para 2026.
Especialistas destacam pressão fiscal e cenário externo
Para o economista André Perfeito, da ASA Investments, a estabilidade nas projeções da Selic reflete o receio do mercado em relação à condução das contas públicas. “Apesar de algum alívio na inflação, o governo ainda enfrenta desconfiança no campo fiscal. Isso dificulta uma queda mais rápida dos juros”, avalia.
Silvia Matos, pesquisadora do FGV Ibre, aponta que a expectativa de inflação ainda elevada, somada à resiliência do setor de serviços, tem impedido um alívio mais expressivo nos preços. “O núcleo da inflação segue pressionado. E o Banco Central prefere errar pelo excesso de cautela”, diz.
Reflexos no dia a dia
As projeções afetam diretamente o cotidiano da população. Uma inflação mais alta encarece alimentos, combustíveis e energia, pressionando o orçamento das famílias. Já a Selic elevada torna o crédito mais caro, com impacto no financiamento imobiliário, empréstimos e juros do cartão de crédito.
O crescimento econômico mais robusto, mesmo que discreto, tende a favorecer o mercado de trabalho, com impacto positivo sobre o nível de renda e consumo. E um dólar estabilizado contribui para segurar os preços de produtos importados e facilitar viagens internacionais.
Tensão nos bastidores do Copom
Apesar das projeções sinalizarem estabilidade, a expectativa para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para julho, segue dividida. Parte do mercado ainda aposta em uma última redução de 0,25 ponto percentual na Selic. Outra ala acredita que o ciclo de cortes se encerrou.
“Os dados de inflação e atividade econômica ainda não justificam um corte agressivo. A autoridade monetária deve manter a postura conservadora, especialmente com o cenário fiscal fragilizado”, explica Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.
Conclusão
O boletim Focus Top 5 confirma a percepção de um ano de transição cautelosa na economia brasileira: inflação resistente, juros ainda elevados, dólar sob controle e um crescimento moderado. O cenário é de estabilidade com alerta — e a evolução das contas públicas segue como fator determinante para qualquer mudança relevante nas projeções futuras.
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