Ana Paula Rehbein cita a Lei de Organização Criminosa e critica tentativa de interferência em investigações; Sandra Miranda acusa colegas de defenderem o prefeito preso mais do que seus próprios advogados
A repercussão da prisão do prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira (27) durante a Operação Siameses, provocou reações contundentes no meio jornalístico tocantinense. Duas profissionais de veículos distintos — Ana Paula Rehbein, da TV Anhanguera, e Sandra Miranda, colunista do portal Primeira Página — publicaram declarações nas redes sociais que passaram a circular com força em grupos políticos, jurídicos e da imprensa local.
Sem citar diretamente nomes ou situações específicas, Ana Paula Rehbein fez uma publicação de tom grave ao alertar que acessar e repassar informações sigilosas de inquéritos da Polícia Federal pode configurar crime previsto na Lei nº 12.850/2013, conhecida como Lei de Organização Criminosa.
“Acessar informações de inquéritos da PF com objetivo de impedir apuração de crimes e/ou repassar para alvos pode ser enquadrado no art. 2º, §1º da Lei de Organização Criminosa. A pena para a conduta de embaraçar a investigação é de 3 a 8 anos, mesmo sem integrar a organização”, escreveu.
A publicação foi interpretada nos bastidores como um recado direto a eventuais tentativas de interferência na investigação. Nas últimas 48 horas, a movimentação política em torno do caso tem sido intensa — com relatos de pressão nos bastidores e até supostos vazamentos de informações processuais.
A Operação Siameses, segundo fontes ligadas ao inquérito, expôs uma rede de favorecimento em contratos públicos que envolveria licitações dirigidas, empresas de fachada e vínculos pessoais entre agentes públicos e empresários beneficiados. O processo, com mais de mil páginas, foi remetido à Justiça Estadual após o declínio da competência da esfera federal, mas permanece baseado em provas colhidas pela PF e pelo Ministério Público Federal.
Eduardo Siqueira Campos segue preso preventivamente. A defesa do prefeito nega todas as acusações e afirma que irá provar a legalidade dos atos administrativos.
Sandra Miranda: “Jornalistas defendem mais que os advogados”
As declarações de Ana Paula foram seguidas por uma manifestação ainda mais direta da jornalista Sandra Miranda, que criticou o comportamento de colegas da imprensa que estariam atuando, segundo ela, como “escudo político” do prefeito preso.
“Tem jornalistas em Palmas defendendo mais o prefeito Eduardo Siqueira Campos do que os próprios advogados dele. Os argumentos? Eduardo não teria feito nada de mais, apenas ‘fofocado’ e falado demais. Ora, eles parecem debochar da Polícia Federal e do Poder Judiciário. E duvidar da inteligência do leitor. Tenham dó!”, publicou.
Em outra postagem, Sandra Miranda reconheceu que a gestão de Eduardo vinha surpreendendo positivamente após um período de administrações consideradas frágeis, mas afirmou que a tentativa de blindagem pública diante das acusações ultrapassa os limites do jornalismo responsável.
“Jornalistas podem até defender, mas sem ultrapassar o mínimo do bom senso. O pior é que essas defesas têm sido uma constante no Tocantins”, escreveu.
Crise política e ruído na imprensa
As declarações de Ana Paula e Sandra ocorrem em um contexto de forte tensão institucional. A prisão do prefeito — figura histórica da política tocantinense, filho do ex-governador Siqueira Campos — escancarou a divisão dentro da elite política e econômica da capital. A narrativa de perseguição política, disseminada por aliados de Eduardo, tem sido confrontada com a robustez dos documentos que embasam a operação.
No centro dessa disputa, parte da imprensa local se vê pressionada por dois extremos: de um lado, o compromisso com a apuração e a denúncia dos fatos; de outro, a proximidade histórica com figuras de poder e estruturas político-partidárias tradicionais. O conflito entre os dois papéis se materializa agora nas redes sociais, onde jornalistas se enfrentam publicamente em torno da conduta esperada da profissão.
Enquanto isso, o caso avança na Justiça Estadual, com expectativa de novos desdobramentos ao longo da semana. O Ministério Público e a Polícia Federal mantêm silêncio oficial, mas indicam que novas fases da operação não estão descartadas. Nos bastidores, há consenso: o que está em jogo é mais do que a queda de um prefeito — é a credibilidade das instituições em um estado marcado por ciclos recorrentes de escândalos e impunidade.
Link para compartilhar: