Um dos eventos que marcariam mais uma entrega do governo estadual à população acabou se tornando palco para uma nova tensão política entre líderes do Tocantins. Na cerimônia de inauguração da nova sede do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins), realizada nesta segunda-feira (15), o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) usou o microfone para lançar críticas — sem citar nomes, mas com alvo claramente identificado: o senador Irajá Abreu (PSD).
“Ele nunca colocou [emendas para o governo], e sabe por quê? Porque não tem coragem de assumir que não fui eu que tirei ele da eleição. Quem tirou ele, e a mãe dele, foi o povo. Não fui eu que tirei ninguém”, afirmou Wanderlei, referindo-se ao desempenho eleitoral do senador nas eleições de 2022, quando obteve cerca de 7% dos votos ao disputar o governo estadual. A mãe do senador, a ex-senadora Kátia Abreu, também ficou sem mandato após as eleições daquele ano.
A declaração, feita durante um evento de tom institucional, deixou clara a ruptura entre o governador e o senador — um distanciamento que já vinha sendo percebido nos bastidores, mas que agora ganha novos contornos públicos.
Acusações de omissão e “aposta no caos”
Ainda durante seu discurso, Wanderlei ampliou as críticas:
“Às vezes, a gente precisa responder a essas pessoas que trabalham para tirar o governo, quando deveriam estar ajudando a tirar as dificuldades do nosso povo, que não são poucas,” disse, elevando o tom contra o que chamou de “aposta no caos”.
Sem mencionar diretamente o senador, o governador expôs o incômodo com as movimentações de bastidores e com a postura crítica de lideranças que, segundo ele, não contribuem com o Executivo estadual, mas buscam desestabilizá-lo politicamente.
Irajá rebate e acusa governador de se esconder da PF
A resposta veio em nota oficial assinada pelo senador Irajá, que não poupou críticas ao governador e o acusou de tentar transferir responsabilidades. “Quem anda se escondendo da Polícia Federal no exterior tem nome e sobrenome: Wanderlei Barbosa”, declarou o parlamentar, em referência a investigações que envolvem membros da administração estadual.
O senador também contestou as declarações sobre repasses. “Governador há três anos, Wanderlei foi incapaz de começar e concluir uma obra relevante. Em 2025, foram R$ 67 milhões pagos na área da Saúde do Tocantins, valor superior ao investimento feito pelo governo estadual no mesmo período”, rebateu.
Irajá ainda atacou diretamente a conduta do governador:
“Enquanto falta atendimento na rede pública, eu firmo parcerias com prefeitos para garantir exames e cirurgias. Quando a Ponte JK caiu, fui ao Ministério dos Transportes cobrar soluções. Wanderlei foi para o sítio e postou foto deitado na rede.”
Clima eleitoral de 2026 já contamina bastidores
A troca de farpas expõe o clima de antecipação da disputa eleitoral de 2026, especialmente em um estado historicamente marcado por alianças instáveis e rupturas públicas. Embora ainda distante do calendário oficial, o embate entre Wanderlei e Irajá ilustra a busca por protagonismo entre os principais atores políticos do Tocantins.
Para o cientista político Carlos Murilo Rocha, o episódio demonstra a fragilidade das pontes institucionais entre Executivo e Legislativo federal no estado:
“O Tocantins vive uma reorganização de forças. Wanderlei tenta consolidar uma base pragmática, enquanto Irajá articula de forma mais nacionalizada. O embate não é apenas pessoal: é disputa por espaço e narrativa,” afirma.
Gomes avança no governo Wanderlei com nova nomeação
Enquanto o embate se acirra entre Wanderlei e Irajá, outro nome da política tocantinense segue ampliando influência: o senador Eduardo Gomes (PL) emplacou mais um aliado no Executivo estadual. Após indicar o novo secretário das Cidades, Ubiratan Fonseca, vice-prefeito de Paraíso, agora Gomes viu o irmão, André Gomes, ser nomeado secretário extraordinário de Desenvolvimento da Região Metropolitana.
Com dois nomes-chave do PL em pastas estratégicas, a movimentação fortalece a aliança entre Gomes e o governador, em contraste com o isolamento político de Irajá.
Ruraltins e protagonismo disputado
Durante a inauguração do novo prédio do Ruraltins, aliados do deputado federal Vicentinho Júnior (PP) reivindicaram o protagonismo pela entrega. Segundo sua assessoria, a obra de R$ 28 milhões só foi possível graças à atuação de dois presidentes do órgão indicados por ele e à destinação de emendas parlamentares ao longo de vários anos. “100% da estrutura executada deve-se ao trabalho de gestão e articulação desde a presidência de Washington Ayres até Flávio Terêncio”, afirmaram.
Atualmente, o Ruraltins é presidido pelo ex-deputado federal Osires Damaso, aliado de Wanderlei. Apesar da disputa pelo crédito político, a inauguração da nova sede foi marcada pela polarização de discursos e pela ausência de unidade entre as principais lideranças estaduais e federais.
Outras frentes de tensão: Carlesse, Dorinha e a saúde pública
A instabilidade política se manifesta também em outras frentes. O ex-governador Mauro Carlesse (Agir), em entrevista ao CT Entrevista, criticou o direcionamento de emendas parlamentares e afirmou que os deputados priorizam shows em detrimento de obras como o Hospital Geral de Gurupi. O deputado Eduardo Fortes (PSD) reagiu:
“Carlesse não concluiu nem 30% do hospital. O que entregou está com infiltrações e falhas estruturais. Foi uma obra eleitoreira,” disse, lembrando que, como deputado, Carlesse também não destinou emendas ao hospital.
Enquanto isso, a senadora Dorinha Seabra (UB) esclareceu que os R$ 18,2 milhões da bancada federal direcionados ao Hospital do Amor, em Barretos (SP), se justificam pelo grande número de pacientes tocantinenses atendidos na unidade.
Movimentações regionais ganham corpo
No município de Xambioá, o ex-vereador Jardel Rocha (MDB) e o advogado André Luiz articulam um projeto conjunto para as eleições de 2026, com foco em desenvolvimento regional e plataformas de inclusão social. A movimentação local reflete o cenário estadual: alianças sendo costuradas com olhos voltados ao futuro, enquanto lideranças buscam reposicionar suas bases.
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