O Tocantins inteiro sabe — até quem finge que não — que Dorinha não chegou sozinha onde está. Sua eleição para o Senado foi fruto de um consórcio pesado de forças políticas que moveram céu, terra e subterrâneo para colocá-la lá. E não foi pouco. Eduardo Gomes, Gaguim e o próprio Wanderlei Barbosa trabalharam arduamente, sem descanso, noite e dia, para empurrá-la até o Congresso.
Agora, quem observa de fora vê um filme velho: a senadora cospe no prato. E o prato, diga-se, era bem servido.
Nos bastidores, a indignação é generalizada. Não apenas pela ruptura, mas pela forma como Dorinha se movimenta. Porque se dependesse só de seu próprio capital político, não seguraria nem o mandato. A conta é simples: estatisticamente, trabalhou menos do que Kátia Abreu — justamente quem derrotou nas urnas. E Kátia, com todas as suas polêmicas, sempre teve voz, presença, enfrentamento e, sobretudo, um protagonismo que nunca precisou de muleta.
Dorinha não tem esse estofo. E, por isso, carrega o peso de quem chegou empurrada, carregada no colo de um sistema que agora ela mesma tenta demolir.
A relação escancarada com Eduardo Siqueira, prefeito de Palmas, adiciona pimenta ao caldo. A mesma Dorinha que orbitava os gabinetes de Wanderlei, Eduardo Gomes e Gaguim agora desfila alinhada politicamente com Eduardo, que não faz questão de esconder seu distanciamento do atual governo. As fotos, os eventos e os bastidores não mentem.
A federação com o PP é a senha definitiva do rompimento. Uma jogada que fecha qualquer possibilidade de composição com quem, até ontem, carregava sua candidatura nas costas. Uma matemática cruel, onde se salva quem pode — e, se preciso, passando por cima de quem for.
E, que se diga, o Tocantins sente falta, sim, de uma Kátia em campo. Porque, concordando ou não com seus métodos, Kátia nunca foi de abaixar a cabeça. Era briga de cachorro grande. Dorinha, não. A senadora não consegue sustentar uma postura de firmeza, não lidera, não impõe. Vive mais de ausências do que de presenças. O mandato se sustenta não pela força de quem ocupa, mas pelos escombros do grupo que a pariu politicamente.
Agora, o que sobra desse enredo? Um grupo político esfarelado. Um projeto de poder que nasceu unido, e que hoje se alimenta de facadas, rasteiras e traições. E o eleitor tocantinense assiste a tudo isso se perguntando: isso é projeto de futuro… ou é só mais um episódio de “Mal de Quem, Jesus?”
Porque, no final, não é sobre projetos. É sobre sobrevivência. E, nesse jogo, quem sabe trair primeiro acha que sobrevive mais. Até perceber que, no Tocantins, quem trai uma vez, trai sempre — e nunca volta a ser o que foi.
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