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Divulgar ou não divulgar: o básico que se chama caráter

Por Fernanda Cappellesso | Opinião*

Se existe algo que a CPI das Bets deixou absolutamente claro é que o influenciador digital não é — e nunca foi — uma peça neutra no mercado. Quem vive de atenção, vive também de responsabilidade. E, ao contrário do que muitos tentam transformar em discurso de autoelogio nas redes, negar a divulgação de produtos que podem gerar prejuízo, vício ou danos sociais não é feito heróico. É o básico. Isso se chama caráter.

Nos últimos dias, o que se viu foram stories e mais stories de criadores de conteúdo tentando surfar na onda da CPI para dizer que “eu nunca divulguei o Tigrinho”, “sempre neguei proposta”, “não vendo esse tipo de coisa”. Pois bem: parabéns, mas não há mérito em fazer o que é correto. Não há prêmio para quem não aceita dinheiro para enganar os outros. Isso não deveria ser diferencial competitivo, e sim pré-requisito básico para quem escolheu viver da influência sobre outras pessoas.

É preciso lembrar que, quando um influenciador recomenda um produto, ele não está apenas sugerindo: ele está transferindo parte da sua credibilidade para aquilo. Está colocando sua reputação, seu nome, seu rosto, sua voz e seu poder de convencimento a serviço da empresa ou do serviço anunciado. Se essa indicação leva pessoas a perder dinheiro, a cair em golpes, a entrar em ciclos de endividamento ou vício, essa responsabilidade é compartilhada.

O argumento do “faça por sua conta e risco” não se sustenta. Influência não é neutra. Quem tem alcance tem, sim, responsabilidade direta sobre o que promove, sobre o que estimula, sobre o que impulsiona. E a CPI das apostas revelou, de forma explícita, o tamanho desse impacto — e também a conivência de quem, até aqui, escolheu fingir que não era com ele.

O problema não é só o Tigrinho

Dizer que nunca divulgou o Tigrinho não significa, necessariamente, que esse influenciador é livre de culpa. Quantos produtos duvidosos foram empurrados para seus seguidores nos últimos anos? Quantos cursos milagrosos, esquemas de enriquecimento rápido, pirâmides disfarçadas de marketing, métodos de ganhar dinheiro dormindo ou, mais recentemente, apostas e roletas mascaradas de “jogos de habilidade”?

O debate precisa ir além do “divulguei ou não divulguei aquele aplicativo”. O debate real é sobre ética, sobre limite, sobre entender que quando você converte atenção em dinheiro, você também assume o compromisso de entender de onde vem e para onde vai esse dinheiro.

Caráter não é estratégia de marketing

O que estamos assistindo agora é uma tentativa desesperada de limpar a barra com discursos do tipo: “me ofereceram, mas eu neguei”. E, sejamos francos, negar não deveria gerar medalha. Não aceitar dinheiro para promover algo sabidamente lesivo não é virtude — é, no mínimo, coerência moral.

Se virou pauta é porque, infelizmente, parte do mercado normalizou o contrário: vender qualquer coisa, desde que o pix caia na conta. E essa é uma discussão que não termina na CPI das bets. Ela envolve cosméticos sem registro, suplementos sem autorização, cursos sem conteúdo, promessas sem lastro.

O básico nunca foi tão revolucionário

Diante de um mercado que monetiza a qualquer custo, cumprir o básico — que é ter caráter — virou quase revolucionário. Mas não deveria ser. E que fique o alerta: a era da internet sem responsabilidade está, aos poucos, chegando ao fim. E que bom.

*Fernanda Cappellesso é jornalista, especialista em comunicação digital e análise de comportamento nas redes.

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