discussão sobre a concessão de anistia aos envolvidos nos eventos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, tem se intensificado no cenário político e jurídico brasileiro. Recentemente, o senador Hamilton Mourão (Republicanos/RS) apresentou o Projeto de Lei nº 5064/2023, que propõe anistia aos acusados e condenados pelos crimes definidos nos artigos 359-L e 359-M do Código Penal, relacionados às manifestações ocorridas na Praça dos Três Poderes naquela data.
Divergências no Senado
A proposta de anistia não é consenso entre os senadores. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, afirmou que o tema não é prioridade para o Parlamento nem para o país, enfatizando a necessidade de focar em uma agenda que promova a pacificação nacional. Ele destacou que os senadores devem se dedicar a assuntos que promovam a concórdia, e não a discórdia.
Posicionamento do Presidente da República
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os pedidos de anistia, sugerindo que aqueles que solicitam perdão antes mesmo de serem julgados estão, de certa forma, admitindo culpa. Ele afirmou: “Quando as pessoas nem foram condenadas e estão pedindo anistia, é porque as pessoas estão se condenando”.
Opinião de Especialistas
Juristas e especialistas em direito constitucional têm se manifestado sobre a questão da anistia. Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional na PUC-SP, considera que a concessão de anistia pelo Congresso pode ser vista como um “imenso e grave erro político”. Ele alerta para a possibilidade de a medida ser questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) por desvio de poder, caso fique caracterizado que o Parlamento está substituindo o papel do STF como guardião da Constituição.
Além disso, a Advocacia-Geral da União (AGU) manifestou-se contrária à proposta de anistia, considerando-a inconstitucional. O ministro da AGU afirmou: “Na minha leitura, como jurista, isso é inconstitucional. Não se pode dar anistia a praticantes de crimes que tentem abolir o Estado de Direito, a democracia”.
Percepção Pública
Pesquisas de opinião indicam que a maioria da população brasileira é contrária à concessão de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. De acordo com levantamento do Datafolha divulgado em dezembro de 2024, 62% dos brasileiros são contra a anistia para os manifestantes, enquanto 33% são a favor. A rejeição é maior entre as mulheres (64%) e entre eleitores do presidente Lula (72%).
Desdobramentos Jurídicos
Até o momento, o Supremo Tribunal Federal responsabilizou criminalmente 898 pessoas pela participação nos eventos de 8 de janeiro, com 371 condenações a penas privativas de liberdade e 527 com a aplicação de penas alternativas. As investigações continuam, e o STF se prepara para julgar instigadores e mentores dos atos em 2025.
A proposta de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 continua a gerar debates acalorados no Brasil, envolvendo questões jurídicas, políticas e sociais. Enquanto alguns defendem a medida como um passo em direção à pacificação nacional, outros alertam para os riscos de impunidade e para a necessidade de responsabilização dos envolvidos em ataques contra as instituições democráticas. O desenrolar dessa discussão será crucial para o futuro da democracia brasileira e para o fortalecimento das instituições do país.
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