Às vésperas do dia de finados, a demanda por flores cresce em todo o Brasil, refletindo uma tradição que combina respeito e afeto. Dados da Associação Brasileira de Floricultura (ABRAFLO) indicam que, neste período, a procura por flores aumenta em média 25% em comparação a outros meses, chegando a um incremento de até 40% em algumas regiões, especialmente no Sudeste e no Nordeste, onde a tradição de homenagear entes queridos é mais forte. O aumento na demanda movimenta a economia e reforça o vínculo entre o presente e a memória dos que se foram.
Tradição secular e a escolha por flores
O historiador Antônio Freitas explica que a tradição de oferecer flores aos mortos remonta a civilizações antigas, como as culturas egípcia e grega. “Essas sociedades já utilizavam flores em rituais funerários, acreditando que elas representavam a transitoriedade da vida. No Brasil, o Dia de Finados, uma herança da colonização portuguesa, carrega essa simbologia, reforçada pela fé católica e pela cultura popular”, diz Freitas. Com o passar do tempo, a prática ganhou contornos específicos, com um simbolismo que mistura saudade e respeito.
Entre as flores mais buscadas no Dia de Finados estão as associadas à simplicidade e à durabilidade, como os crisântemos, que suportam bem o calor brasileiro e simbolizam longevidade e respeito. Margaridas, lírios e rosas também são populares, escolhidas pelo valor sentimental ou pelo simbolismo que carregam. Enquanto margaridas evocam pureza, os lírios representam paz e serenidade, sendo frequentemente escolhidos para homenagens discretas e significativas.
Economia e logística: valores e aumento da procura
Para atender à alta demanda do Dia de Finados, produtores e comerciantes de flores precisam de planejamento. Luana Soares, proprietária de uma floricultura em Goiânia, descreve o período como um dos mais movimentados do ano. “Finados é nosso segundo melhor período de vendas, só perde para o Dia das Mães. Preparamos o estoque com antecedência para garantir variedade e qualidade”, explica. Este ano, o preço dos crisântemos subiu 25%, com o vaso chegando a R$ 20, em razão do aumento nos custos de insumos e transporte.
A variação de preços segue o tipo e a demanda das flores. Margaridas, por exemplo, são vendidas a partir de R$ 10 o ramalhete, enquanto as rosas, dependendo do tamanho e da cor, podem custar até R$ 40 a unidade. Em média, o consumidor gasta entre R$ 25 e R$ 60 no Dia de Finados, segundo levantamento da ABRAFLO. Esse valor reflete o compromisso das famílias em manter a tradição, mesmo diante das flutuações econômicas.
Roberto Lima, gerente de uma cooperativa de floricultores em Holambra (SP), explica que a alta nos insumos agrícolas e nos custos de transporte representa um desafio para o setor. “Este ano, a inflação impactou diretamente a produção. Fertilizantes, por exemplo, subiram cerca de 15%, e o frete encareceu. Estamos absorvendo uma parte dos custos para não repassar tudo ao consumidor”, comenta Lima. Holambra, um dos principais polos de produção de flores no país, abastece grandes cidades do Sudeste, especialmente durante o Dia de Finados.
Impacto econômico e importância do setor de flores
O Dia de Finados representa uma oportunidade significativa para o setor de floricultura, que enfrenta a sazonalidade como um dos principais desafios. Estimativas da ABRAFLO indicam que o período gera uma receita adicional de R$ 150 milhões para pequenas e médias floriculturas em todo o país. Em cidades menores e do interior, onde a tradição se mantém forte, o impacto é mais evidente. Comerciantes próximos a cemitérios, por exemplo, dependem das vendas do Dia de Finados para equilibrar o fluxo de caixa anual.
As vendas digitais também cresceram. Segundo a consultoria Retail Tech, as vendas de flores online para o Dia de Finados aumentaram 20% no último ano, impulsionadas pela pandemia e pela adaptação do consumidor ao e-commerce. Muitas floriculturas oferecem arranjos personalizados com entrega direta nos cemitérios, um serviço que atrai consumidores que buscam praticidade.
Razões culturais: flores como expressão de afeto
Para Ana Paula Mendes, professora de literatura e frequentadora assídua de cemitérios no Dia de Finados, as flores representam mais do que uma simples homenagem. “É uma forma de preservar a memória de quem se foi. As flores simbolizam continuidade e carinho, como se estivéssemos mantendo a presença deles viva”, diz.
O vínculo emocional com a tradição faz com que muitos brasileiros se esforcem para comprar flores, mesmo em tempos de crise. “Prefiro economizar em outras áreas, mas sempre compro arranjos para meus pais e avós. Crisântemos e lírios me ajudam a lembrar deles com carinho e respeito”, completa Mendes.
Para o professor e sociólogo Roberto Arruda, as flores são parte importante dos rituais de memória. “Nas culturas latino-americanas, elas ultrapassam o momento do luto e tornam-se uma reafirmação da presença dos entes queridos. É um gesto de respeito e saudade, como se cada flor depositada fosse uma forma de dizer que a história deles segue presente.”
Desafios logísticos e inovações
Apesar do impacto positivo, o mercado de flores enfrenta desafios logísticos durante o período de Finados. Em Holambra, maior polo produtor de flores no país, os produtores precisam organizar colheita e transporte com precisão para que as flores cheguem frescas aos pontos de venda. A logística inclui câmaras refrigeradas e otimização de rotas de entrega, uma estratégia essencial para garantir que o consumidor receba o produto em boas condições. “Câmaras de resfriamento mantêm as flores em condições ideais para venda, preservando a qualidade e ajudando a manter viva a tradição de Finados”, explica Lima, da cooperativa em Holambra.
Outro ponto de destaque é a sustentabilidade. Floricultores têm investido em técnicas de cultivo que minimizam o impacto ambiental, como irrigação controlada e fertilizantes orgânicos. “Há uma demanda crescente por flores cultivadas de maneira sustentável, especialmente entre os jovens, que buscam homenagear seus entes de forma mais consciente”, completa Lima.
Transformação digital e novos hábitos de consumo
A adaptação ao comércio digital também transformou o mercado de flores. Muitas floriculturas tradicionais criaram catálogos digitais específicos para o Dia de Finados, com opções que vão de R$ 20 a R$ 200, dependendo da composição e personalização do arranjo. A conveniência e o apelo prático atraem consumidores que buscam praticidade e opções diferenciadas.
Aplicativos de entrega já oferecem flores, permitindo que o consumidor escolha e faça o pedido diretamente pelo celular. Segundo a Retail Tech, as vendas digitais para o Dia de Finados cresceram 35% no último ano, indicando que a mudança no perfil de consumo veio para ficar.
Perspectivas para o futuro do mercado de flores no Dia de Finados
A demanda por flores no Dia de Finados parece se manter estável, apesar dos desafios econômicos e da transformação digital. Especialistas do setor consideram que o valor emocional da tradição é profundo, o que a torna capaz de se adaptar às novas realidades sem perder sua essência. “A oferta de flores em Finados não é apenas uma homenagem simbólica; é uma reafirmação de laços, uma manifestação de carinho que vai além da data. O respeito à memória dos que partiram é parte do que define a cultura brasileira, e o setor responde a isso com inovação e cuidado”, conclui Arruda.
Em resumo, o Dia de Finados é um período que combina tradição e movimentação econômica, impulsionando o setor de floricultura e reforçando os laços culturais que conectam os brasileiros às suas raízes e às memórias dos entes queridos.
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