“Consumimos o vinho francês com alegria, enquanto eles criam barreiras para nossos produtos. Por que não exigir que eles sigam as mesmas regras ambientais que aplicam a nós?”, questiona Kátia Abreu

Durante sua participação no canal Times Brasil da CNBC, a ex-ministra da Agricultura e ex-senadora Kátia Abreu fez críticas contundentes à postura da França em relação ao agronegócio brasileiro. Defendendo a necessidade de reciprocidade nas relações comerciais, Kátia ressaltou as barreiras impostas ao Brasil por questões ambientais e apontou o desequilíbrio nas exigências feitas por países europeus.

Kátia Abreu destacou que, enquanto o Brasil segue padrões rigorosos de produção sustentável, enfrenta barreiras comerciais e críticas que muitas vezes mascaram protecionismo econômico. “Eles não computam nosso passivo ambiental, que prefiro chamar de ativo ambiental, e ignoram o sequestro de carbono que ocorre na agricultura e na pecuária brasileira. Querem nos fazer parecer os culpados, enquanto ignoram suas próprias práticas”, afirmou.

Exemplo do vinho francês

Como exemplo do desequilíbrio, Kátia citou a produção de vinhos franceses em encostas e áreas sensíveis, que no Brasil seriam consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs). “Nós consumimos o vinho francês com alegria, enquanto eles criam barreiras para nossos produtos. Por que não exigir que eles sigam as mesmas regras ambientais que aplicam a nós?”, questionou a ex-ministra.

Ela destacou que o Brasil mantém altos padrões ambientais e que o agronegócio nacional é um dos mais eficientes e sustentáveis do mundo. “Precisamos desmistificar essa narrativa que nos coloca como vilões. O Brasil é uma potência agropecuária responsável e merece reconhecimento.”

Kátia também criticou decisões recentes de empresas como Carrefour França e Danone, que restringiram a compra de produtos brasileiros, incluindo carne e soja. Segundo ela, esses boicotes são um ataque à reputação do Brasil. “Mesmo que o impacto financeiro seja pequeno, o dano à nossa imagem é inaceitável. Não podemos permitir que uma decisão populista local comprometa a confiança no agronegócio brasileiro no mercado global”, afirmou.

Ela lembrou que o Carrefour obtém cerca de 49% de seu lucro operacional no Brasil e pediu respeito às empresas que operam no país. “As empresas estrangeiras são bem-vindas, mas precisam nos respeitar. Não vamos aceitar ações que prejudiquem nossa economia e nossa reputação”, completou.

A ex-senadora também abordou como essas tensões comerciais afetam os pequenos produtores brasileiros, que representam 86% dos mais de 5 milhões de agricultores do país. Diferentemente dos agricultores franceses, que recebem amplos subsídios governamentais, os pequenos produtores brasileiros enfrentam desafios sem o mesmo suporte.

“O Brasil não tem o mesmo tamanho de tesouro que a França ou os Estados Unidos para subsidiar seus produtores. Por isso, precisamos proteger nossos agricultores e oferecer políticas de apoio mais robustas”, defendeu.

Acordo Mercosul-União Europeia vai além do vinho francês: um desafio necessário

Kátia expressou otimismo em relação ao acordo Mercosul-União Europeia, mas ressaltou que ele só será viável com negociações equilibradas. “Precisamos encontrar um meio-termo. Os europeus devem entender que o Brasil exige respeito e condições justas. Não podemos aceitar imposições unilaterais”, destacou.

Ela lembrou que o acordo é estratégico tanto para a Europa quanto para o Brasil, especialmente em um momento de mudanças no comércio global. “Acredito que esse acordo será fechado, se não pelo diálogo, pela necessidade. O Brasil é um parceiro essencial para o futuro da economia global.”

Com declarações firmes, Kátia Abreu reforçou o papel estratégico do agronegócio brasileiro e a necessidade de reciprocidade nas relações comerciais internacionais. “Não somos os devedores nesta história. Somos responsáveis, eficientes e contribuímos para a segurança alimentar global. O que queremos é respeito e justiça nas relações comerciais.”

Veja aqui toda a participação de Kátia Abreu 

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