Por Fernanda Cappellesso – Diário Tocantinense
26 de março de 2025
Safra 2024/2025 deve bater recordes em produção de grãos e rebanho bovino, puxada por clima favorável, incentivos fiscais e investimentos logísticos. Especialistas projetam avanço contínuo, mas alertam para gargalos de infraestrutura.
O Tocantins vive um momento singular em sua trajetória econômica. Com safra recorde, expansão da pecuária e crescimento sustentado por logística e incentivos fiscais, o estado se consolida como nova potência do agronegócio brasileiro. A safra 2024/2025 deve alcançar 8,5 milhões de toneladas de grãos, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que representa crescimento de 10,7% em relação à anterior.
A soja lidera com 5,12 milhões de toneladas previstas (+11,9%), seguida do milho, que deve alcançar 2,37 milhões de toneladas (+12,4%). A área plantada cresceu 2,9% e agora soma 2,26 milhões de hectares, com destaque para o uso produtivo de pastagens degradadas convertidas em lavoura.
Rebanho bovino atinge 11,2 milhões de cabeças
Na pecuária, o estado já registra 11,2 milhões de cabeças de gado, consolidando-se entre os maiores produtores nacionais. A expansão se dá, segundo especialistas, pela adoção de tecnologia, manejo eficiente e abertura de novos frigoríficos, além do avanço da integração lavoura-pecuária.
“O Tocantins possui uma das combinações mais favoráveis para o agro: clima estável, solo fértil e localização privilegiada”, afirma o engenheiro agrônomo Thadeu Teixeira Júnior, da Universidade Federal do Tocantins (UFT). “A produção aumenta ano a ano e com maior qualidade”.
Ferrovia e novas rotas ampliam competitividade
Desde a conclusão da Ferrovia Norte-Sul, em 2018, o estado melhorou consideravelmente sua eficiência logística. Os terminais em Porto Nacional e Palmeirante passaram a escoar a produção com mais rapidez, barateando custos e atraindo investidores.
“O Tocantins é hoje um hub logístico do Matopiba, com acesso à BR-153, ao porto de Itaqui (MA) e à malha ferroviária nacional”, destaca o pesquisador Carlos Pessanha, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). “Mas ainda enfrentamos gargalos em rodovias estaduais, armazenagem e conectividade”.
Um estudo publicado em 2024 no ResearchGate alerta para a necessidade de duplicação de trechos da TO-050, TO-070 e da TO-348, além da ampliação da capacidade de silos e armazéns nas regiões de Porto Nacional, Guaraí e Lagoa da Confusão.
Incentivos fiscais atraem novas empresas
Em novembro de 2024, o governo estadual anunciou incentivos fiscais para três grupos do setor agrícola, que projetam juntos investimentos da ordem de R$ 60 milhões em áreas como agroindústria, fertilizantes e transporte. A expectativa é que sejam gerados mais de 800 empregos diretos e indiretos.
“O ambiente de negócios em Tocantins está amadurecendo. Os empresários encontram segurança jurídica, agilidade e um ecossistema favorável para o agro”, aponta Juliana Garcia, economista do Centro de Liderança Pública (CLP). O estado liderou, inclusive, o Ranking de Potencial de Mercado 2024, elaborado pela entidade, com destaque para o crescimento do agronegócio e digitalização rural.
Desafio: crescer com sustentabilidade
Mesmo diante dos bons números, especialistas alertam para os riscos ambientais da expansão acelerada. A pressão sobre áreas de Cerrado nativo, especialmente no centro-oeste tocantinense, exige planejamento.
“É necessário ordenamento territorial, proteção de nascentes e ampliação de práticas regenerativas”, defende o agrônomo e consultor ambiental Henrique Vasconcelos. “O Tocantins pode ser exemplo de crescimento com sustentabilidade, se agir agora”.
O que esperar para 2025 e 2026
A Secretaria da Agricultura projeta que a produção estadual ultrapasse 9 milhões de toneladas de grãos já em 2025, com aumento também na exportação de carne bovina para o mercado asiático.
Nos bastidores do setor, fala-se no Tocantins como o “novo Mato Grosso da década”. Se os gargalos logísticos forem superados e a política pública mantiver o foco em inovação e responsabilidade ambiental, o estado tem tudo para se tornar referência nacional — e até internacional — em produção sustentável de alimentos
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