Servidores ativos, aposentados e pensionistas receberão salários exclusivamente pelo Banco de Brasília; mudança gera dúvidas, expectativa e debate sobre impacto econômico
O Governo do Tocantins firmou contrato com o Banco de Brasília (BRB) e, a partir da folha de pagamento de junho de 2025, todos os servidores públicos estaduais — ativos, aposentados e pensionistas — passarão a receber seus salários exclusivamente por meio da instituição. A abertura de conta é obrigatória, gratuita e pode ser feita de forma totalmente digital.
O contrato foi formalizado em abril de 2024 e prevê vigência de cinco anos. A mudança atinge diretamente mais de 50 mil servidores estaduais, incluindo efetivos, comissionados, temporários, aposentados e pensionistas.
Como será feita a transição
Segundo o governo, todo o processo pode ser realizado online, por meio do aplicativo do BRB ou pelo site oficial do banco. Para quem preferir, haverá também atendimento presencial nas agências do BRB em Palmas e unidades temporárias em Araguaína, Gurupi e Porto Nacional.
A conta é aberta de forma gratuita, sem tarifas de manutenção. Assim que a conta for criada, o servidor recebe um cartão de débito virtual em até 24 horas, e o cartão físico chega no endereço cadastrado em até 10 dias úteis.
O secretário de Administração do Tocantins, Paulo César Benfica Filho, afirmou que a medida “garante mais segurança, agilidade e benefícios aos servidores, além de gerar receitas diretas para o Estado, com a outorga contratual do BRB”.
O que muda para os servidores
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Abertura de conta obrigatória no BRB.
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Conta corrente, salário e poupança integrados em um único número.
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Acesso a cartão de crédito, débito e linhas de financiamento com taxas diferenciadas.
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Atendimento online e presencial.
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Possibilidade de portabilidade bancária para outro banco, após o primeiro pagamento, conforme regra do Banco Central.
Documentação exigida
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Documento de identificação com foto (RG ou CNH emitidos há menos de 10 anos).
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CPF regularizado.
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Comprovante de residência atualizado.
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Selfie em ambiente bem iluminado e fundo neutro.
Impacto econômico: dinheiro que sai ou que circula?
O economista e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Rafael Pimenta, avalia que a medida tem dois lados. “Por um lado, o contrato gera uma receita relevante para o Estado, que pode ser usada em investimentos públicos. Por outro, parte da movimentação financeira local migra para uma instituição que não tem sede no Tocantins, o que pode impactar bancos locais e a dinâmica do crédito no Estado”, afirma.
Dados do mercado financeiro apontam que, no Distrito Federal, onde o BRB administra a folha de pagamento desde 2019, a instituição cresceu mais de 400% em ativos, ampliou a oferta de crédito e se tornou o maior banco regional do país.
“Se o mesmo padrão se repetir no Tocantins, o BRB pode se tornar um importante agente financeiro local. Mas isso depende do nível de investimento que o banco fará na ampliação da rede de atendimento e de produtos específicos para a economia do Estado”, avalia Pimenta.
Contrato milionário
O contrato firmado pelo Tocantins com o BRB inclui uma outorga superior a R$ 300 milhões, pagos ao Estado pela administração da folha de pagamento. Esses recursos vão diretamente para o caixa do governo e podem ser aplicados em obras, custeio e outros investimentos.
O modelo segue o mesmo adotado por estados como o Distrito Federal e Mato Grosso.
Servidores divididos
Parte dos servidores manifesta dúvidas e preocupações. “É mais um banco, mais um aplicativo, mais burocracia. Minha maior dúvida é: e quem mora em cidades sem agência? Vai ser tudo resolvido no digital?”, questiona a professora da rede estadual, Sônia Machado.
Por outro lado, alguns enxergam benefícios. “Se as taxas forem realmente melhores, como dizem, pode ser uma vantagem. Mas precisa funcionar, não pode travar na hora que a gente mais precisa”, diz o agente penitenciário Anderson Costa.
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Tocantins (SISEPE-TO), Cleiton Pinheiro, afirmou que acompanha a situação de perto. “Estamos monitorando para garantir que não haja prejuízo ao servidor, nem custos extras e que o atendimento seja adequado, especialmente no interior.”
BRB promete expansão
O BRB anunciou que abrirá cinco novos pontos de atendimento no Tocantins, incluindo cidades como Araguaína, Gurupi, Porto Nacional e Palmas. A instituição garante que a maior parte dos serviços poderá ser feita digitalmente.
O banco também informou que disponibilizará linhas de crédito específicas para os servidores estaduais, com taxas mais baixas do que as praticadas atualmente no mercado.
Comparativo com outros estados
Estado | Banco responsável pela folha | Ano de contrato | Valor da outorga |
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Tocantins | BRB | 2024 | R$ 300 milhões |
Distrito Federal | BRB | 2019 | R$ 700 milhões |
Mato Grosso | Banco do Brasil | 2021 | R$ 200 milhões |
Goiás | Banco do Brasil | 2023 | R$ 500 milhões |
Fonte: Dados oficiais dos contratos estaduais.
Próximos passos
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A abertura de contas no BRB deve ser feita antes do pagamento da folha de junho.
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O BRB está realizando atendimentos presenciais nas principais cidades do Tocantins.
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Após o primeiro pagamento, os servidores podem optar pela portabilidade para qualquer outro banco.
O Governo do Tocantins defende que a mudança moderniza a gestão da folha, garante recursos para o Estado e oferece vantagens competitivas aos servidores. Economistas e sindicatos, no entanto, alertam para os riscos operacionais da transição e para o impacto econômico local, especialmente nas cidades que não contam com atendimento físico do BRB.
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