Fatores como aumento da concessão de crédito, melhora no varejo e ampliação de políticas públicas estimulam contratações; especialistas veem recuperação desigual e crescimento com freios
Os sinais de recuperação da economia brasileira vêm se consolidando nos dados de consumo, crédito e geração de emprego formal nos primeiros cinco meses de 2025. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o país criou 1,23 milhão de vagas com carteira assinada entre janeiro e maio, impulsionado principalmente pelos setores de serviços e comércio. A combinação entre maior concessão de crédito, aumento da massa salarial e programas de estímulo tem sustentado o crescimento, mas especialistas alertam: o avanço pode ser insustentável caso o endividamento das famílias continue crescendo.
Dados do Banco Central mostram que o volume total de crédito concedido às pessoas físicas cresceu 8,3% nos últimos 12 meses, com destaque para o financiamento de bens duráveis e o uso do cartão de crédito. Já o índice de inadimplência nas operações com recursos livres chegou a 4,9% em abril, maior patamar desde 2021. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estima que a carteira de crédito total do país pode crescer até 9,5% em 2025, puxada principalmente por linhas de consumo e crédito consignado.
“O mercado de trabalho está se beneficiando desse ciclo de expansão do consumo, mas é um modelo que precisa de atenção”, avalia a economista Paula Silva. “Boa parte do dinamismo atual depende do crédito, que cresceu mais rápido do que a renda. Se a taxa de juros não cair de forma sustentada, poderemos ver um aumento no nível de inadimplência.”
Entre os setores que mais geraram empregos, destacam-se comércio varejista de alimentos, serviços de educação e logística. O varejo também teve crescimento real de 3,1% no primeiro trimestre, segundo o IBGE, com destaque para regiões do Centro-Oeste e Sudeste.
O economista Alexandre Nóbrega avalia que a liberação de parcelas do FGTS, programas de microcrédito e a ampliação do Desenrola Brasil foram importantes para impulsionar o consumo imediato. “Há um otimismo no curto prazo, mas ainda não vimos uma recuperação sustentada da indústria, nem um avanço expressivo nos investimentos de longo prazo.”
No Tocantins, dados da Junta Comercial mostram aumento de 12,5% na abertura de microempresas em comparação com o mesmo período do ano passado. Em Goiânia, o setor de vestuário lidera em número de admissões formais no comércio local, impulsionado por datas comemorativas e pelo avanço da informalidade convertida em MEIs.
Para os especialistas, o desafio agora é calibrar a política econômica para que o crescimento se mantenha sem alimentar uma nova onda de endividamento. “Precisamos de estímulo ao crédito produtivo e políticas de educação financeira mais estruturadas. O consumo é importante, mas o crescimento precisa de alicerces sólidos”, conclui Paula Silva.
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