“Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu.” A citação é bíblica, do livro de Eclesiastes, e nunca fez tanto sentido na política quanto agora. Porque, assim como na vida, na política também há tempo para tudo: tempo de plantar, tempo de colher, tempo de começar… e tempo de parar de reclamar.
Seis meses se passaram desde que prefeitos eleitos no final do ano passado tomaram posse. Meio ano é mais do que suficiente para entender a máquina pública, organizar equipe, destravar projetos, buscar soluções e começar a cumprir promessas. Quem, até aqui, ainda insiste em se agarrar ao discurso de “herança pesada” ou “falta de recursos” está, na prática, confessando despreparo — e cavando sua própria derrota.
O tempo da mamata acabou. E, mais do que nunca, a gestão pública precisa começar a pensar — e agir — como quem vive na iniciativa privada. Porque, no mundo real, nenhum pequeno empresário pode se dar ao luxo de cruzar os braços e só reclamar.
Se fizer isso, o que acontece? O filho passa fome. A esposa, se doente, morre sem atendimento. A empresa fecha. O aluguel vence. As dívidas se acumulam. O nome vai pro Serasa. E, junto com a falência, vai embora a dignidade, a história e a esperança de uma vida inteira.
Se quem gera emprego, quem movimenta a economia, quem sustenta esse país não tem o direito de ficar lamentando — muito menos quem governa. Quem senta na cadeira de prefeito tem a caneta, tem o orçamento e tem, sobretudo, a obrigação de buscar soluções. Porque é pra isso que foi eleito. E é pra isso que serve o poder.
Se é difícil? Sim. Para todos. Para o cidadão, para o MEI, para o pai de família, para o produtor rural, para o pequeno empreendedor e também para o gestor público. A diferença é que quem ocupa um cargo público tem estrutura, tem equipe, tem instrumentos — e não foi colocado ali para chorar. Foi colocado para resolver.
Governar nunca foi, e nunca será, tarefa confortável. E ninguém chegou ao poder sem saber disso. Se nos primeiros dias de mandato era aceitável ouvir que “a situação é difícil” ou que “a casa estava desorganizada”, passados seis meses isso já não cabe mais. Soa como desculpa barata. E desculpa não paga boleto. Nem compra remédio. Nem entrega obra.
O eleitor não quer ouvir lamentos. Quer resultado. Quer o posto de saúde funcionando, a escola aberta, a rua asfaltada, a coleta de lixo em dia, o transporte operando. E quer, acima de tudo, um gestor que governe — e não alguém que só repita o mantra da dificuldade.
A política não é lugar para lamentadores profissionais. Quem governa não faz favor: cumpre um contrato social firmado nas urnas — e que será, sem dúvida, revisado nelas daqui a quatro anos.
No meio dessa reflexão, cabe também o ensinamento popular, que carrega a sabedoria do cerrado: assim como há o tempo do pequi e do ingá, há também o tempo da seca, da fartura, da espera e do trabalho. E quem não entende isso, seja na roça, na cidade ou na política, perde. Perde tempo. Perde oportunidade. E perde, sobretudo, o respeito.
O tempo da desculpa acabou. Agora é trabalhar. Quem não entender, está — politicamente — com os dias contados.
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