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Editorial: Eduardo Siqueira Campos não pode exigir lealdade quando nunca foi leal aos seus

Redação I Diário Tocantinense- O debate sobre lealdade política em Palmas ganhou contornos dramáticos após a prisão do prefeito Eduardo Siqueira Campos (Podemos) pela Polícia Federal, no último dia 27 de junho, no âmbito da Operação Sisamnes. Desde então, aliados do prefeito afastado passaram a cobrar publicamente que o vice-prefeito em exercício, Carlos Veloso (Agir), mantivesse o secretariado escolhido por Eduardo, como sinal de fidelidade política. Mas a cobrança expõe um ponto sensível da trajetória de Eduardo: sua própria dificuldade em ser leal aos que o ajudaram a ocupar e manter o poder.

A exoneração do chefe de gabinete Carlos Júnior provocou reações emocionadas nas redes sociais. A mãe do ex-assessor, Luciana Monturil, afirmou que o vice-prefeito foi desleal ao demitir um nome que era considerado de absoluta confiança de Eduardo. O próprio Carlos Júnior classificou a decisão como “estranha” e “injustificável”. Nos bastidores, há quem diga que Carlos Veloso apenas formalizou o que já era esperado: a reorganização da estrutura de governo sob uma nova lógica de alianças.

O que chama atenção é que os gritos por lealdade partem de um grupo político que, historicamente, conviveu com rupturas e traições internas promovidas pelo próprio Eduardo. Quando esteve à frente da gestão estadual, Eduardo Siqueira Campos manteve sob seu controle direto áreas estratégicas e excluiu da estrutura de poder figuras que haviam ajudado a consolidar a influência da família Siqueira no Tocantins. O caso mais emblemático é o do ex-deputado Alexandre Siqueira Campos, seu irmão, que foi sistematicamente enfraquecido nos bastidores e acabou afastado do núcleo político. Não foram poucos os aliados que, depois de anos de lealdade, foram abandonados, substituídos ou esquecidos sem explicações, tanto em cargos estratégicos quanto em momentos de crise.

Durante o governo de seu pai, Siqueira Campos, a lógica de poder foi verticalizada, mas Eduardo assumiu protagonismo nas articulações mais sensíveis. Foi ele quem conduziu boa parte das negociações com empresários, parlamentares e líderes regionais. Foi também ele quem coordenou campanhas e redes de influência. Nos bastidores do Palácio Araguaia e da prefeitura de Palmas, eram frequentes os relatos de que Eduardo traçava seus próprios planos e desmobilizava qualquer liderança que ganhasse projeção demais ao seu redor. Essa conduta, que se repetiu em várias ocasiões, deixou marcas profundas e alimentou ressentimentos silenciosos entre aliados antigos. Muitos dos que hoje se dizem leais a Eduardo, o foram apesar de suas atitudes, e não por causa delas.

A prisão do prefeito evidencia os efeitos colaterais dessa política de isolamento e personalismo. Acusado de liderar uma organização criminosa que manipulava decisões judiciais, Eduardo teria usado sua estrutura de poder para favorecer aliados com acesso privilegiado a informações sigilosas. A Operação Sisamnes aponta para uma rede de interesses que beneficiava um grupo muito restrito — o que também corrobora a percepção de que, em vez de construir alianças amplas, Eduardo se cercava de poucos, e mesmo esses poucos viviam sob o risco constante de substituição.

Carlos Veloso, ao assumir o comando da prefeitura interinamente, não rompeu apenas com o grupo de Eduardo. Rompeu com a ideia de tutela que ainda pairava sobre a máquina pública de Palmas. Ao exonerar figuras centrais do governo anterior, sinalizou que não pretende servir de fiador de uma gestão que naufragou politicamente. A escolha tem custos, é claro. Mas parece mais coerente com o momento institucional da capital. Em política, quem assume o poder costuma reconfigurar sua base. O que muda neste caso é a tentativa do grupo de Eduardo de transformar essa reorganização em um ato de traição, quando, na verdade, o histórico do próprio prefeito mostra que lealdade nunca foi critério definitivo para se manter ao seu lado.

O futuro político de Eduardo é incerto. A Justiça já negou o primeiro pedido de habeas corpus, e a Câmara Municipal começou a se articular para discutir o possível impeachment do prefeito afastado. Parte dos vereadores demonstra desconforto com a tentativa de setores aliados de impor uma narrativa de perseguição. Outros, mais cautelosos, aguardam o avanço das investigações. Mas é evidente que o capital político de Eduardo está em queda. Se não conseguir uma reabilitação judicial rápida, dificilmente manterá influência suficiente para reorganizar seu grupo.

A atual situação revela, com clareza, que fidelidade política não pode ser cobrada por quem não a praticou. Lealdade, em política, é construída na prática, nos gestos e na confiança mútua — e não pode ser imposta pela narrativa dos que abandonaram seus aliados no passado. Neste momento, Eduardo Siqueira Campos não é vítima de deslealdade. É o reflexo do próprio método político que sempre adotou.

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