O nome de José Wilson Siqueira Campos é unanimidade no Tocantins. Criador do Estado, idealizador de Palmas, pensador público respeitado por aliados e adversários, Siqueira foi um homem à frente de seu tempo, defensor da política como instrumento de construção do bem comum. Governou com coragem, planejou com método e inspirou com integridade. Morreu em 2023 como um dos poucos políticos brasileiros com biografia imaculada.
Mas se houve um erro profundo em sua trajetória pessoal, foi ter depositado tanto poder — e principalmente tanto amor — em um filho que não soube, ou não quis, honrar seu legado: Eduardo Siqueira Campos.
O irmão silenciado e o isolamento familiar
Além de Eduardo, Siqueira teve outros filhos, entre eles Alexandre Uchôa Siqueira Campos, fruto do segundo casamento com Mariluce Uchôa. Alexandre era discreto, sensato e com forte vocação pública. No entanto, nunca teve espaço político real, sendo progressivamente marginalizado pelo próprio irmão.
Eduardo não tolerava divisão de protagonismo, nem política nem familiar. Internamente, os relatos são de que Alexandre foi “morto politicamente no ninho”, afastado das estruturas de poder criadas pelo pai.
O ressentimento não parou por aí. Após a morte de Siqueira, a relação de Eduardo com os irmãos — especialmente os filhos de Mariluce Uchôa — deteriorou-se de forma quase irreversível. O núcleo familiar se fragmentou. Eduardo se isolou. Os irmãos, por sua vez, se afastaram dele com amargura e mágoa.
Um pai apaixonado, cego pela afeição
Diferente do que muitos tentaram fazer crer, Siqueira nunca reclamou publicamente de Eduardo. Nunca houve uma crítica sequer, uma bronca em público, um lamento formal. Mas isso não foi omissão, nem conivência — foi amor.
Siqueira era profundamente apaixonado pelo filho, e esse sentimento impedia que ele enxergasse com clareza quem Eduardo se tornava. A fidelidade emocional ao primogênito era tamanha que nem mesmo os alertas de amigos, aliados e familiares próximos foram suficientes para romper o encantamento.
Há, inclusive, entre os próprios irmãos de Eduardo, a queixa de que “o pai via tudo, mas não queria ver”. E essa cegueira emocional — tão humana — cobrou um preço alto.
Como a última gestão de Siqueira se desintegrou nos bastidores
Na reta final do quarto mandato de José Wilson Siqueira Campos, já fragilizado pela idade, Eduardo Siqueira Campos assumiu posições estratégicas — incluídas secretarias de peso como Planejamento e Relações Institucionais — e começou a atuar como principal operador informal do governo. Sua influência cresceu, mesmo sem cargo formal, fornecendo-lhe poder para modelar decisões e conduzir articulações.
Entre 2011 e 2014, sob pretexto de alinhamento gerencial, Eduardo centralizou o poder decisório, afastando aliados históricos e sufocando vozes importantes dentro da administração do pai . Fontes consultadas na época relatam que o clima no governo ficou hostil, marcado por crises internas constantes e medo de retaliação, inclusive entre secretários de longa data.
Em paralelo, Eduardo se envolveu, de maneira suspeita, na gestão do IGEPREV, instituto previdenciário do Estado, e em esquemas investigados pela Operação Ápia. A operação identificou indícios de direcionamento de contratos, favorecimento de bancos e uso do instituto para recompor bases eleitorais — tudo isso com indícios de seu aval ou participação.
O resultado político foi evidente:
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O governo, que já contava com desgaste natural de fim de mandato, entrou em desmoronamento acelerado;
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A militância histórica e bases do pai se sentiam traídas e abandonadas;
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Em 2014, ao renunciar — num gesto calculado para favorecer candidaturas, como a do filho — Siqueira saiu de cena enfraquecido, com seu último mandato marcado por desgaste, lamentos e melancolia .
Nos bastidores, repetia-se que Eduardo foi o estopim do fim do legado conjunto — aquele que havia construído Palmas, a previdência estadual e a própria imagem do pai como líder visionário. Não foi apenas poder informal: foi um desmonte metódico de alianças e da reputação construída ao longo de décadas.
IGEPREV e as investigações
A trajetória de Eduardo se tornou marcada por escândalos. Em diferentes momentos, ele foi citado por envolvimento indireto ou articulação de decisões suspeitas, como nos casos do IGEPREV — o Instituto de Gestão Previdenciária —, alvo de apurações da Operação Ápia, que denunciou fraudes e prejuízos bilionários à previdência dos servidores.
Embora Eduardo não tenha sido condenado, o seu nome surgiu nos bastidores como figura de influência nos contratos e investimentos que hoje estão sob questionamento jurídico.
A prisão no auge do poder
Eduardo chegou ao cargo de prefeito de Palmas em 2024, com votação expressiva. Mas a menos de uma semana de completar seis meses de mandato, foi preso pela Polícia Federal, acusado de chefiar uma organização criminosa que atuava no vazamento de decisões sigilosas do STJ, venda de sentenças e blindagem de aliados.
A Operação Sisamnes revelou uma rede de tráfico de influência que colocava Eduardo no centro das articulações. Áudios, relatórios e movimentações financeiras apontam para um esquema de manipulação do sistema judiciário para fins políticos. O nome do prefeito de Palmas agora figura nos principais inquéritos do país.
O isolamento de Eduardo e o início do desmonte político
A prisão de Eduardo escancarou não apenas a gravidade das acusações que pesam contra ele, mas também a fragilidade da rede política que o cercava. Desde a posse, ele promoveu rupturas, centralizou decisões e fechou-se em um gabinete cada vez mais isolado, onde poucos mandavam e quase ninguém era ouvido.
Com seu afastamento, o vice-prefeito que assumiu interinamente exonerou Carlos Júnior, nome que orbitava a gestão com influência, mas pouca entrega. A demissão, longe de surpreender, foi lida como o primeiro movimento de uma reestruturação inevitável.
Nos bastidores, Carlos é descrito como soberbo, arrogante, liso como uma cobra e profundamente falso. Carrega a má fama de ter traído o grupo de Kátia Abreu após 2010, episódio que o afastou de projetos consistentes e o colocou numa trajetória errante — sem profissão definida, sobrevivendo à sombra de políticos com mandato.
Não foi a última exoneração. Foi uma das primeiras.
Outras peças já estão na mira. Os nomes de Élcio Mendes e de toda a equipe de comunicação da Prefeitura de Palmas estão sendo avaliados pelo novo comando. A avaliação é clara: quem simboliza o estilo fechado, soberbo e autossuficiente da gestão Eduardo será substituído.
O esvaziamento do grupo já começou. E com ele, a verdade política que muitos fingiram não ver: Eduardo está colhendo, um a um, os frutos de tudo que semeou.
E lealdade, quando nunca foi mútua, não volta. Nem espera.
Um alerta que virou realidade
Durante a campanha de 2024, Janad Valcari foi duramente criticada por dizer em voz alta o que muitos apenas murmuravam: que Eduardo Siqueira Campos não tinha integridade para comandar a capital. Ela foi chamada de oportunista, acusada de atacar a memória do pai — mas jamais recuou.
Hoje, com Eduardo preso, isolado politicamente e com um habeas corpus pendente, a cidade assiste à queda de um homem que carregava o sobrenome Siqueira, mas envergonha, mais uma vez, a história que o pai construiu com tanto sacrifício.
A pergunta inevitável se impõe:
E se Janad estivesse certa o tempo todo?
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