Segundo turno entre Janad Valcari e Eduardo Siqueira Campos reflete polarização política no Tocantins

Pela primeira vez em sua história, Palmas, capital do Tocantins, enfrenta um segundo turno nas eleições municipais. A disputa, marcada para o dia 27 de outubro, coloca em confronto dois candidatos de perfis distintos: Janad Valcari (PL), deputada estadual e uma das líderes da direita bolsonarista na região, e Eduardo Siqueira Campos (Podemos), herdeiro de uma dinastia política liderada por seu pai, Siqueira Campos, fundador do estado do Tocantins. O pleito de 2024 evidencia não apenas a polarização local, mas também a influência do cenário político nacional na capital tocantinense.

 O embate entre Janad e Eduardo

No primeiro turno, realizado em 6 de outubro, Janad Valcari, que lidera um discurso conservador, alcançou 39,22% dos votos válidos, ou 62.126 eleitores. Ela chegou à eleição com a expectativa de vitória sem necessidade de segundo turno, amparada pelo apoio de grupos alinhados ao bolsonarismo e com uma campanha fortemente voltada à direita. Contudo, foi surpreendida por Eduardo Siqueira Campos, que obteve 32,42% dos votos (51.344), levando a disputa para o segundo turno. Eduardo, sem ocupar atualmente cargo eletivo, mobilizou uma base política que reconhece sua história e a de sua família, especialmente a do pai, Siqueira Campos, ex-governador e criador do estado de Tocantins.

Eduardo não apenas traz à tona a memória da fundação do estado, mas também sua própria trajetória política, marcada pelo fato de ter sido o primeiro prefeito eleito de Palmas e o senador mais bem votado da história do Tocantins. Ele tem enfatizado suas conquistas em infraestrutura e desenvolvimento da capital, buscando consolidar a imagem de um gestor experiente e vinculado ao progresso da cidade. Essa narrativa se choca diretamente com a proposta de Janad, que tenta imprimir um ar de novidade e renovação à sua candidatura, ancorada nos valores do conservadorismo bolsonarista.

 Pesquisas e empate técnico

A disputa pelo segundo turno ganhou contornos acirrados. As pesquisas indicam um cenário de empate técnico, mas com variações que podem alterar o resultado final, dependendo do instituto de pesquisa. De acordo com o levantamento mais recente do Instituto Paraná Pesquisas, divulgado em 18 de outubro, Eduardo aparece com 47,4% das intenções de voto, enquanto Janad registra 44,1%, uma diferença dentro da margem de erro de 3,7 pontos percentuais.

Contudo, a pesquisa FIETO/Veritá, realizada entre 12 e 16 de outubro, revela uma vantagem mais consolidada de Eduardo, com 53,9% dos votos válidos contra 46,1% de Janad. Esse levantamento, encomendado pela Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (FIETO), entrevistou 1.010 eleitores e tem uma margem de erro de 2,6 pontos percentuais. Segundo o cientista político André Soares, a diferença observada nesse levantamento “mostra que Eduardo conseguiu consolidar sua liderança entre os eleitores, especialmente nas últimas semanas, ao resgatar a memória do que seu pai representou para o estado e ao apresentar sua própria trajetória como político experiente”.

Já a pesquisa Exata, realizada de 10 a 13 de outubro, reforça essa vantagem de Eduardo, com 54% das intenções de voto contra 33,58% de Janad. Esse levantamento também revelou uma rejeição significativa da candidata do PL, que atingiu 35,58%, enquanto Eduardo tem uma rejeição de 18,25%. Segundo Ana Paula Mendes, cientista social, “a rejeição é um dos maiores desafios para Janad, já que, no segundo turno, o eleitorado tende a ter suas preferências mais cristalizadas. Reverter esse quadro em poucos dias é uma tarefa difícil”.

Em contraste, a pesquisa Vope, realizada em parceria com o Jornal Primeira Página, entre os dias 10 e 12 de outubro, aponta Janad com uma leve vantagem, com 46% das intenções de voto contra 41% de Eduardo. Com uma margem de erro de 3,5 pontos percentuais, esse levantamento coloca os dois candidatos tecnicamente empatados. Essa variação nos números mostra que o cenário eleitoral em Palmas ainda pode mudar até o dia da eleição, especialmente considerando o número de eleitores indecisos, que chegam a 9%, segundo a Vope.

Oposição de narrativas: direita e tradição política

Uma das características marcantes da campanha de Janad Valcari é sua tentativa de posicionar Eduardo como um candidato de esquerda, em uma estratégia que reflete a polarização nacional entre direita e esquerda. Curiosamente, Janad, que é apoiada por figuras do espectro político da direita bolsonarista,  tem também como Ivory de Lira e Luana Ribeiro (PC do B), na sua base de apoio. Por, sua campanha tem buscado associar Eduardo a valores progressistas. Contudo, como aponta o analista político André Soares, essa narrativa é frágil quando confrontada com a própria trajetória política de Eduardo e sua família.

“Janad tenta colocar Eduardo como um nome da esquerda, mas essa estratégia tem limites quando voltamos no tempo. Eduardo Siqueira Campos e seu pai, Siqueira Campos, sempre estiveram ligados ao campo conservador.  Siqueira não opôs a ditadura brasileira. Eduardo já recebeu elogios dos Bolsonaros, e, se olharmos para o passado, veremos que o clã Siqueira estava no PFL de ACM, um dos principais partidos conservadores do país na época”, explica Soares.

A estratégia de Janad, portanto, pode não ressoar com os eleitores mais informados, que conhecem a história política do Tocantins e de Eduardo. Ao mesmo tempo, Eduardo tem apostado em sua própria trajetória e na relação simbólica que sua família tem com a criação do estado, reforçando a ideia de que ele representa a continuidade de um legado que construiu Tocantins e, em especial, a cidade de Palmas.

Mobilização dos apoios e a importância do legado

Para o consultor eleitoral Paulo Lemos, outro fator importante na reta final da campanha é a mobilização de apoios políticos e o impacto que figuras como Bolsonaro e Lula podem ter nos eleitores. “O apoio de Bolsonaro é visto como positivo por 38,4% dos eleitores, o que pode beneficiar tanto Janad quanto  Eduardo, que também recebeu elogios dos Bolsonaros no passado. Já Lula tem impacto positivo para 21,1% dos eleitores, algo que Janad Valcari poderia explorar melhor, considerando os apoios que recebe de políticos de esquerda”, analisa Lemos.

Além disso, o papel dos vereadores eleitos no primeiro turno pode ser decisivo para ambos os candidatos, com alianças sendo negociadas nos bastidores para garantir maior adesão de lideranças locais. A cientista política Ana Paula Mendes destaca que “os apoios de vereadores e líderes regionais podem inclinar a balança para um dos lados, especialmente em um cenário de empate técnico”.

Desafios e perspectivas finais

A campanha de Eduardo Siqueira Campos se fortalece à medida que ele capitaliza sua história familiar e as realizações do passado. O ex-senador e prefeito de Palmas consegue mobilizar um eleitorado fiel, especialmente entre os mais velhos, que vivenciaram o processo de criação do Tocantins. No entanto, Janad Valcari ainda possui um forte apelo entre os eleitores de direita e conservadores, principalmente os jovens, o que pode equilibrar a disputa.

A rejeição de Janad, como apontado em diversas pesquisas, é um obstáculo importante para a candidata. Com um número expressivo de eleitores declarando que não votariam nela em hipótese alguma, Janad precisará focar na reversão dessa imagem nas próximas semanas. Além disso, com uma quantidade significativa de indecisos e eleitores que pretendem votar em branco ou nulo, tanto Janad quanto Eduardo ainda têm espaço para conquistar mais apoio.

As pesquisas apontam um cenário dinâmico e incerto. Eduardo lidera em alguns levantamentos, enquanto outros mostram um empate técnico ou até uma leve vantagem para Janad. Com o segundo turno se aproximando, as estratégias dos candidatos e a mobilização de seus eleitores serão cruciais para determinar o resultado final.

O segundo turno em Palmas promete ser uma disputa marcada por reviravoltas e estratégias intensas na reta final, com ambos os candidatos buscando consolidar suas bases e conquistar o voto dos indecisos. A decisão que será tomada nas urnas no dia 27 de outubro não apenas definirá o futuro gestor da capital tocantinense, mas também dará sinais claros sobre os rumos da política local e sua relação com o cenário nacional.

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