O aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses abrange 45,8% dos bebês no Brasil; 52,1% aos 12 meses; e 35,5% aos 24 meses de vida, de acordo com o quarto relatório técnico do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), divulgado em novembro 2021. Além disso, dois em cada três bebês são amamentados na primeira hora de vida (62,4%). Contudo, os números ainda estão distantes da meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2030: 70% na primeira hora de vida, 70% nos primeiros seis meses, de forma exclusiva, 80% no primeiro ano e 60% aos dois anos de vida.
Em virtude disso, a campanha Agosto Dourado, busca em todo o país, ressaltar a importância da amamentação e auxiliar as mães que muitas vezes querem amamentar seus filhos, mas têm dificuldades.
Para a pediatra Larissa Trivelato, que atende em Goiânia, a falta de estímulo e apoio à mãe é o fator que mais atrapalha a amamentação. “Comentários como ?Será que seu leite é fraco?? ou ?Esse bebê está chorando, deve ser fome!? , colocam em dúvida a capacidade da amamentação e da mãe de nutrir o bebê. A puérpera está na fase mais sensível da sua vida, ela necessita de apoio e encorajamento. Se algum familiar se sentir inseguro quanto ao processo, ele deve estimular a mãe a procurar o pediatra e pode inclusive se oferecer para levá-la e acompanhar a consulta”.
Segundo a especialista, para uma boa amamentação é preciso haver uma pega correta, que acontece quando a boca do bebê acopla bem no seio da mãe pegando tanto o bico quanto a aréola. “O bebe deve estar com a boca bem aberta com os lábios voltados para fora e abocanhar a maior parte da aréola, a qual deve estar mais visível na parte acima da boquinha do que abaixo. As bochechas do neném devem estar redondas e não fazendo furinho, o queixo encostado na mama, nariz desobstruído e ele não deve fazer estalos. Porém devemos lembrar que cada binômio (mãe-bebê) terá suas particularidades e que nada deve ser colocado com uma receita rígida, mas sim avaliado caso a caso”, detalha.
Dificuldades mais comuns ao amamentar
Muitas mães reclamam da sensibilidade dos mamilos durante a amamentação, e a pediatra Larissa Trivelato ressalta que a sensibilidade é algo individual e pode desestimular a mulher a manter a amamentação. “É importante verificar se a pega está correta e se a criança não possui algum tipo de anquiloglossia (alteração de freio lingual) que cause o desconforto e até lesões. É preciso orientar a mãe que com o tempo essa sensibilidade irá diminuir e oferecer a ela opções como a laserterapia ou mesmo banho de sol nos mamilos por 5-8 minutos uma a duas vezes ao dia. Além disso, deve-se deixar os seios sempre secos evitando o contato com tecidos e passar o próprio leite no mamilos após as mamadas. Existem ainda produtos que podem ser aplicados na mama, sob orientação médica, e que não prejudicam a amamentação”.
Outros problemas comuns em lactantes são fissuras no seio, mastite e candidíase mamária, afirma a especialista. “Nas fissuras podemos observar lesões nos mamilos, sangramento e muita dor local. A mastite é uma infecção portanto, pode ter febre, prostração, mal estar, vermelhidão e sensação de calor ao toque no seio, endurecimento da mama acometida, além de dor. A candidíase mamária pode se manifestar apenas como dor ao amamentar até lesão local e no bebê. Todas essas condições exigem tratamento médico e orientação no processo de amamentação”, detalha.
Larissa Trivelato destaca que os bicos artificiais, seja de chupetas ou mamadeiras, seguem sendo vilões para amamentação e levar a confusão de bico. “A criança posiciona sua língua de forma diferente no bico artificial e ao seio, o que pode levar a dificuldade na pega correta com lesão na mama e até a recusa dela. A mamadeira libera o fluxo de leite muito mais rápido e sem tanto esforço. O bebê tende a buscar o que é mais fácil e pode preferir o fluxo da mamadeira ao seio, levando a irritabilidade e novamente a recusa do peito. O bebê precisa sugar e isso tem inúmeros motivos e benefícios. A sucção do bebê ao seio é o que estimula a produção de leite, portanto, principalmente no primeiro mês, ela deve ocorrer de forma frequente e por um período prolongado. Se perdermos esse estímulo colocando uma chupeta podemos ter uma produção reduzida”, salienta.
A relação tamanho do mamilo e boca do bebê não é um problema na amamentação, segundo a pediatra. “Mamilos muito grandes podem dificultar a pega principalmente em bebês prematuros por estimularem o reflexo de vômito. Contudo, o que vemos na prática é que os bebês, mesmo os muito pequenos, têm uma capacidade de se adaptar ao seio da mãe e eles encontram o seu encaixe”, revela ela, destacando a importância da mãe ter uma rede protetora da amamentação. “Amamentar é um processo que pode ser diferente do que imaginamos e que pode necessitar de apoio, porém sempre é recompensador e a melhor escolha”, ressalta Larissa Trivelato.
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