O Arraiá da Capital, o evento que se tornou a maior festa junina do Tocantins completa 30 anos este mês, cresceu junto com Palmas e transformou histórias como a da Cida, da Delacir e da Fernanda, vidas que se entrelaçam e se confundem com a própria história do Arraiá.
Uma carta escrita à mão. Foi essa a escolha da Maria Aparecida Brito, a Cida, para contar sua história junto ao Arraiá da Capital. Em 1999 as opções de lazer para os jovens de uma Palmas ainda menina eram escassas, mas na região Sul o movimento junino já tinha força. Foi nessa época que a Cida se mudou para a região e se juntou à quadrilha atuante na comunidade, a ‘Cafundó do Brejo’. Mal sabia que esse seria o primeiro passo para a formação de sua família. “As danças, ensaios, preparações do arraiá encantavam e meu encantamento pelo Dhionatan de Oliveira, que já dançava desde 1997, foi só aumentando. Já ensaiava com o pensamento no lindo moreno de sorriso maroto”, conta Cida.
Cida e Dhionatan começaram a namorar, casaram e continuaram no Arraiá. “Na época, todos os anos participamos das competições do Arraiá, dançando juntos ou separados até 2010, quando foram noivos da ‘Pizada da Butina’. Fui consagrada rainha de Arraiá em 2002 e 2006. No ano de 2007 a minha imagem foi colocada em um banner de divulgação da festa”.
Hoje o casal já não dança mais, “a idade chega”, brinca Cida, porém Dhionatan ainda atua no suporte e assessoria do movimento junino e a família, que começou há 23 anos no Arraiá da Capital, é formada pelo casal de brincantes e três filhos, que já dançam quadrilha na escola. “E foi porque há 23 anos o Arraiá nos uniu que hoje temos uma família linda. De dois brincantes juninos, hoje temos a Júlia, a Bárbara e o Heitor. Sempre que podemos estamos lá, prestigiando as juninas no Arraiá, porque arrepia, nos engrandece. Mas, principalmente por ser o nosso elo infinito, de como nossa família começou”, conclui Cida.
Testemunha do início
Desde a primeira edição, em 1993, Delaci Bezerra participa do Arraiá da Capital, quando a ‘Cafundó do Brejo era composta por jovens do grupo ‘Júpiter’ da comunidade São Francisco de Assis, no Jardim Aureny II. Foi no movimento junino que a Delaci formou família, então casada com Cláudio Maranhão, teve a primeira filha, Luana Micaelle dos Santos, em 1996, que no ano de 2015 conquistou os títulos de Melhor Noiva do Arraiá da Capital, Melhor noiva Estadual e Melhor noiva Nacional em Fortaleza – CE. A segunda filha nasceu em 2000, Lana Claudia dos Santos, também componente da junina, este ano participa como ‘cangaceira’. Já em 2003 veio o Caio Caua Bezerra dos Santos, que, além de dançar, era vice-presidente da ‘Cafundó do Brejo’ até 2022, o jovem, que faleceu neste ano, será homenageado pelo movimento junino durante as apresentações no Arraiá.
De 1993 até 2019, a Delaci seguiu dançando no evento, foi noiva, rainha, ‘cangaceira’, atuou no suporte. É impossível separar a história da Delaci e a história do Arraiá, a festa e sua família estão entrelaçadas. “Todos os meus filhos nasceram e cresceram dentro da junina. Em 2016 atuei como presidente da ‘Cafundó do Brejo’, mas em todos os anos estive na diretoria. Amo o meio junino, a cultura, o folclore brasileiro e as artes cênicas. Quando o Arraiá da Capital nasceu, era a única competição que tínhamos. Então todas as nossas energias eram focadas para lá, faz parte da nossa história, da nossa vida”, afirma.
Duas décadas
Fernanda Lopes das Silva Reis era adolescente quando conheceu o movimento junino. Em 2002 foi em um ensaio da ‘Cafundó’ apenas para acompanhar amigos, gostou e ficou. Lá começou a namorar o Carlos Alexandre dos Reis, com quem se casou e juntos construíram família, sempre participando do Arraiá. “Eu era novinha, tinha uns 14 anos quando comecei e, desde então, sempre me apresento no Arraiá. Eu e meu marido dançamos algumas vezes como casal, outras não. Nesse período tivemos dois filhos, e minha família sempre está junto na quadrilha, meu marido não dança mais por causa do trabalho, mas morre de vontade de voltar”, conta.
Para Fernanda, que dançou grávida do segundo filho até os nove meses, a quadrilha junina, além do lazer e das relações de amizade, é terapia. “Eu faço com amor, quando vamos ensaiar a gente esquece tudo, se diverte, encontra os amigos, no movimento junino fiz amigos, encontrei uma família”, reforça.
Além da participação como brincante, Fernanda também interpreta a boneca Juju, que junto com o palhaço Batatinha, animou as lives do Arraiá da Capital em 2020 e 2021.
A brincante conta que dois anos sem Arraiá presencial deixou ‘sequelas’ tanto físicas, por causa da falta de ensaios, quanto na organização do movimento. “Esse ano está sendo muito difícil para a gente voltar, depois de dois anos o pessoal perdeu preparo físico, alguns ficaram debilitados, todas as juninas estão com dificuldade, mas estamos de volta e vamos mostrar um belo espetáculo”, conclui.
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