Durante a participação no reality evangélico Dom, a cantora evangélica Aymeê Rocha cantou uma música autoral fazendo referência ao tema de exploração sexual infantil na Ilha do Marajó. Depois, aos jurados do programa, ela disse que o local, onde mora, sofre com problemas de tráfico de órgãos e “pedofilia em nível hard”:
As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5″, afirmou Aymeé no vídeo, que já teve mais de 2 milhões de visualizações.
A repercussão do vídeo acendeu um alerta sobre a região do que diz respeito à situação precária na Ilha, já que a violência sexual contra crianças e adolescentes no Marajó é uma realidade grave e reconhecida tanto pelo MPF (Ministério Público Federal) como pelas promotorias estaduais do Pará.
Segundo dados do MP-PA (Ministério Público do Pará), foram abertos 550 processos de crimes cometidos contra crianças e adolescentes em todos os 17 municípios do arquipélago do Marajó em 2022 ? média de 1,5 registro por dia. A estatística inclui dados do município de Oeiras do Pará, que passou a ser considerado parte do Marajó em janeiro daquele ano.
O número representa um crescimento de quase 3% em relação a 2021, quando foram abertos 534 processos sobre crimes desse tipo.
O principal delito registrado foi o de estupro de vunerável, com 407 casos em 2022;
Em seguida, aparecem os casos de estupro, com 111 registros;
Também foram registrados 16 casos de importunação sexual, 13 de assédio sexual, cinco de “favorecimento da prostituic?a?o ou outra forma de explorac?a?o sexual de vulnera?vel” e cinco de “satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente”.
Na canção, a artista também alegou que haveria casos de tráfico de órgãos na região. O MPF, que trata de ocorrências internacionais e virtuais, e as promotorias de Justiça estaduais do Pará, representadas pelo MP-PA, no entanto, nunca registraram denúncias desse tipo de crime nas cidades do arquipélago.
Desinformação
A viralização do vídeo da artista também fez com que ressurgissem nas redes uma série de peças de desinformação sobre a Ilha de Marajó:
Um vídeo que mostra dezenas de crianças sendo transportadas em um carro no Uzbequistão, por exemplo, tem circulado como se fosse uma prova de tráfico de crianças na região;
Outra gravação que vem sendo descontextualizada é a que mostra um homem abusando sexualmente de uma criança de seis anos em um barco junto da legenda “passeio na ilha do Marajó”. O vídeo, no entanto, foi feito no Mato Grosso do Sul em 2021;
Usuários também têm criticado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por ter revogado o programa Abrace o Marajó em 2023. As publicações, no entanto, omitem que o plano foi, na verdade, substituído por outro, de nome Cidadania Marajó.
A viralização de conteúdos alertando sobre situações de exploração infantil no Marajó misturada a uma onda de peças desinformativas e denúncias sem provas tem preocupado o Governo Federal, Estadual, bem como as autoridades do país.
A Advocacia-Geral da União se prontificou a investigar a existência de uma rede de desinformação sobre a Ilha. Além disso, o Governo Federal apura as denúncias para desarticular as redes de tráfico humano e exploração sexual infantil em todo o país.
Nesta segunda, 26, a Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher (CMCVM) do Senado, marcou uma reunião para esta quarta-feira (28), às 14h30, para votação de pelo menos quatro requerimentos previamente pautados, entre eles o que solicita a realização de diligência para a Ilha de Marajó, a fim de investigar a acusação de exploração infantil (REQ 4/2024). A reunião também servirá para apresentação do Relatório de Atividades da Comissão no Biênio 2019-2020.
O que diz o Governo do Pará?
Em nota oficial, o Governo do Pará afirmou que executa de forma integrada, com outros órgãos estaduais, o combate a crimes sexuais contra crianças e adolescentes, com operações contínuas e campanhas de conscientização e divulgação dos canais de denúncia.
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