Os bens duráveis estão mais caros hoje do que há 20 anos. A casa e o carro próprios, sonhos da maioria das famílias, ficaram 150% mais caro do que eram há 20 anos atrás. É o que afirma a economista e professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich.
Não à toa, é muito comum ver nas redes sociais memes e brincadeiras de jovens dizendo que “na minha época de ser adulto” as coisas ficaram mais caras. E ao contrário dos pais e avós, as novas gerações buscam formas diferentes de viver, preferindo alugar esses tipos de bens duráveis, fomentando a economia circular.
QUANTO CUSTAVA E QUANTO CUSTA HOJE
A professora da FECAP calculou a inflação de casas e carros nos últimos 20 anos.
Casa própria:
– Apartamento: Metragem média entre 40 e 60 m².
– Casa: Metragem média entre 70 e 100 m².
Média em 2004: R? 150.000,00 (valores do IBGE)
Equivalente hoje: R? 375.000,00
Aumento real: 150%
Carro popular:
Média em 2004: R? 25.000,00 (valores da FIPE)
Equivalente hoje: R? 62.500,00
Aumento real: 150%
Na opinião de Nadja, a decisão de comprar ou alugar um imóvel deve ser individualizada, considerando as necessidades, estilo de vida e objetivos financeiros de cada indivíduo/família.
“Nesse cenário, a depender da escolha de cada um, investir o valor excedente entre aluguel e compra pode ser uma boa opção para alcançar os objetivos financeiros e contribuir para um futuro mais sustentável. A economia circular ainda está em desenvolvimento, mas apresenta um grande potencial para transformar a forma como consumimos e interagimos com os bens duráveis”, afirma a docente.
COMPRAR OU ALUGAR?
Segundo a professora da FECAP, a decisão entre alugar ou comprar um imóvel, por exemplo, depende de diversos fatores, como renda, estilo de vida, planos futuros etc.
Compra:
- Investimento inicial: Entrada + financiamento (considerando 30% de entrada e juros em média de 8% a.a.).
- Custos mensais: Prestação do financiamento + IPTU + seguro + condomínio (se houver) + manutenções.
- Vantagens: Patrimônio próprio, valorização do imóvel a longo prazo, liberdade para reformas e personalização.
- Desvantagens: Alto investimento inicial, indisponibilidade de capital para outros fins, custos de manutenção e responsabilidades com o imóvel.
Aluguel:
- Investimento inicial: Aluguel adiantado (geralmente 2 ou 3 meses) + fiador ou seguro fiança.
- Custos mensais: Aluguel + taxas de condomínio (se houver).
- Vantagens: Menor investimento inicial, flexibilidade para mudança, responsabilidade do proprietário com reparos e manutenções.
- Desvantagens: Ausência de patrimônio próprio, reajustes anuais do aluguel, possibilidade de mudança a qualquer momento, menos liberdade para reformas.
Para comparar os custos de forma precisa, é necessário considerar:
- Valor do imóvel: Influencia diretamente o valor da compra e do aluguel.
- Localização: Imóveis em áreas valorizadas costumam ter aluguéis mais altos e preços de compra mais elevados.
- Condições do imóvel: Quanto mais novo ou reformado, maior o aluguel e o preço de compra.
- Situação financeira: É necessário avaliar a renda disponível, a capacidade de poupança e o perfil de endividamento.
Ferramentas úteis:
- Simuladores de financiamento: Vale a pena estimar o valor das prestações e o custo total da compra.
- Sites de busca de imóveis: Comparar preços de venda e aluguel em diferentes regiões.
- Consultores financeiros: É possível obter orientação profissional para tomar a melhor decisão de acordo com as necessidades de consumidor.
INVESTIR A DIFERENÇA PODE SER UM BOM NEGÓCIO
O financiamento imobiliário apresentou um custo total entre 10.49% e 11,49% ao ano. Se a pessoa optar pelo aluguel e sobrar dinheiro, pode considerar investir o valor excedente para alcançar seus objetivos financeiros.
A economista elenca algumas opções de investimento a seguir:
Renda Fixa:
CDI: 12,35% (acumulado dos últimos 12 meses);
Fundos Imobiliários (FIIs):
Dividend Yield superior a 17% (acumulado de 2023);
Ações:
Ibovespa: Ganhos de 20,9% (acumulado de 2024).
ECONOMIA CIRCULAR PODE SER UMA SAÍDA PARA OS ALTOS PREÇOS
Na opinião da professora da FECAP, a economia circular surge como uma alternativa promissora para as gerações mais jovens repensarem sua relação com os bens duráveis. Esse modelo propõe um ciclo de vida mais sustentável para os produtos, desde a concepção até o descarte.
Existe uma tendência entre as gerações mais jovens, principalmente a partir da geração Z (nascidos entre 1997-2010), de optar por adiar ou até mesmo não comprar bens duráveis. As principais razões incluem:
- Prioridades diferentes: Valorizam mais experiências e viagens do que bens materiais.
- Insegurança no mercado de trabalho: Preocupam-se com a instabilidade econômica e com a dificuldade de conseguir um emprego fixo.
- Alto custo de vida: Dificuldade de arcar com altos custos de moradia, alimentação e outros itens essenciais.
- Consciência ambiental: Preferem soluções mais sustentáveis, como transporte público e economia de energia.
No contexto dos bens duráveis, a economia circular pode se traduzir em:
- Casas: Construções com materiais reciclados e duráveis, com designs modulares que facilitam adaptações e reformas ao longo do tempo. Plataformas de aluguel de longo prazo e serviços de reparo e manutenção facilitam o acesso à moradia sem a necessidade de compra imediata.
- Carros: Veículos elétricos compartilhados ou autônomos podem reduzir a necessidade de propriedade individual, além de promover a sustentabilidade e a otimização do uso. A indústria automotiva também investe em carros modulares e com peças intercambiáveis, facilitando reparos e atualizações.
Nadja afirma que é difícil prever o futuro com certeza, mas algumas tendências podem influenciar a relação das novas gerações com os bens duráveis:
- Aumento da oferta de serviços compartilhados: Uber, Airbnb, etc., podem oferecer alternativas mais acessíveis e flexíveis à propriedade de bens.
- Economia circular: Foco na reutilização, reparo e reciclagem de produtos, reduzindo a necessidade de utilização de recursos não renováveis.
Economia circular traz uma nova perspectiva para a relação do indivíduo com os bens duráveis.
- Durabilidade: Projetar produtos mais resistentes e duradouros, que durem por mais tempo e necessitem de menos reposição.
- Reparo: Facilitar o reparo e a manutenção dos produtos, estendendo sua vida útil e reduzindo o descarte prematuro.
- Reuso: Incentivar a reutilização de produtos, seja através do mercado de usados, doações ou iniciativas de compartilhamento.
- Reciclagem: Implementar sistemas eficientes de reciclagem para transformar materiais descartados em novos produtos.
Economia circular pode beneficiar as gerações futuras:
- Redução do impacto ambiental: Menor consumo de recursos naturais, diminuição da geração de resíduos e menor emissão de gases poluentes.
- Acesso mais democrático a bens e serviços: Modelos de compartilhamento e economia circular podem tornar produtos e serviços mais acessíveis para todos, independente da capacidade de compra.
- Estímulo à inovação: Novas tecnologias e modelos de negócios surgem para atender às demandas da economia circular, impulsionando o crescimento econômico e a criação de empregos.
“A economia circular apresenta um caminho promissor para as gerações mais jovens repensarem sua relação com os bens duráveis. Ao priorizar a sustentabilidade, o acesso e a inovação, esse modelo pode contribuir para um futuro mais justo, próspero e em harmonia com o planeta”, finaliza a docente.
A especialista:?Nadja?Heiderich?é Doutora em Ciências (Economia Aplicada) na Universidade de São Paulo. Possui mestrado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo (2012). Graduada em Ciências Econômicas pela FECAP (2008). É professora no Centro Universitário FECAP. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, modelagem matemática, logística, agronegócio.
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