A cidade de Paraíso do Tocantins, porta de entrada para o Vale do Araguaia, enfrenta dias de agonia com os incêndios de grandes proporções que consomem a Serra do Estrondo. A fumaça densa cobre o município e atinge diretamente a saúde da população, especialmente de pessoas com problemas respiratórios e cardiovasculares.
O drama é sentido por moradores como Simplícia Vieira da Silva, residente do bairro Serrano Dois. Com hipertensão e dificuldades respiratórias, a aposentada tem convivido com uma situação insustentável. “Não tem condições, esse fogo aqui não tem autoridade para resolver”, desabafa, evidenciando o desamparo diante do avanço das chamas.
A estrutura municipal para enfrentar a crise ambiental também preocupa. A cidade conta com apenas sete brigadistas, número mínimo exigido para pontuar no critério Combate às Queimadas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS-Ecológico). A equipe, claramente insuficiente, tenta combater o fogo que se alastra rapidamente devido à vegetação seca e aos ventos intensos da região.
Paraíso do Tocantins ocupa a 13ª posição no ranking de queimadas do estado e está a apenas 60 km de Pium, um dos municípios com maiores registros de focos de incêndio no Tocantins. A proximidade com áreas de alto risco eleva a necessidade de estratégias mais efetivas e recursos para o combate ao fogo. Apesar disso, a cidade parece desprotegida e os moradores, desamparados.
O cenário de devastação não se restringe aos impactos ambientais. A fumaça e a fuligem dificultam a visibilidade nas vias urbanas e geram transtornos para o tráfego. O sistema de saúde local também sente os efeitos, com aumento na procura por atendimento médico para problemas respiratórios, principalmente entre idosos e crianças.
Paraíso, que deveria se destacar como polo de desenvolvimento no Vale do Araguaia, vê-se, mais uma vez, refém de uma crise que se repete anualmente. As queimadas, que além de destruir a vegetação local, geram prejuízos econômicos e de saúde pública, evidenciam a falta de políticas efetivas de prevenção e controle.
Enquanto isso, a população segue convivendo com o medo e a incerteza. O desabafo de Simplícia Vieira resume o sentimento de muitos paraisenses: “Estamos respirando fumaça o dia inteiro, as crianças e os idosos estão sofrendo. Até quando vamos viver assim, sem que ninguém faça nada?”. A falta de perspectiva de melhorias a curto prazo agrava ainda mais a situação.
A crise na Serra do Estrondo reflete um problema estrutural que vai além dos limites de Paraíso do Tocantins. As políticas ambientais de prevenção e combate às queimadas precisam ser revistas e ampliadas, com investimentos em tecnologia, capacitação e aumento do efetivo de brigadistas. Somente assim será possível reverter o quadro atual e proteger a população de futuras catástrofes.
Enquanto as autoridades não agem, os moradores continuam a pagar o preço da negligência, enfrentando a fumaça e o fogo que consomem não apenas a Serra do Estrondo, mas também a esperança de dias melhores.
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