Tecnologias como Uber, iFood e Farmácias APP transformaram hábitos cotidianos, impulsionaram o modelo on-demand e desafiam regulação trabalhista
De pedir uma pizza às 23h a agendar um táxi para o aeroporto com dois toques na tela, os aplicativos de serviço transformaram a vida cotidiana do brasileiro. A chamada economia on-demand, baseada em consumo sob demanda e intermediação digital, ganhou tração nos últimos anos — especialmente após a pandemia de Covid-19, quando isolamento e restrições aceleraram a digitalização do consumo.
Plataformas como Uber, 99Táxi, iFood, Farmácias APP, Rappi e Zé Delivery não só se popularizaram como moldaram novos comportamentos. A comodidade de receber uma refeição quente, um remédio de última hora ou uma carona particular em minutos fez desses apps elementos quase indispensáveis na rotina urbana.
— O modelo on-demand muda a lógica da posse e da espera. Hoje, o tempo vale mais do que o produto. E as plataformas entendem isso ao oferecer soluções em tempo real — explica o cientista de dados Luís Ottoni, especialista em tecnologia e comportamento do consumidor.
Do delivery à farmácia: o consumo redesenhado
Dados do IBGE indicam que mais de 72% dos brasileiros conectados já utilizaram algum tipo de aplicativo de entrega. O crescimento foi mais acentuado entre os anos de 2020 e 2022, durante a crise sanitária. O setor de delivery de medicamentos, por exemplo, saltou de um serviço complementar para canal prioritário em diversas redes. Em alguns estados, farmácias parceiras de apps como Farmácias APP e Rappi Saúde representam hoje mais de 30% do faturamento dessas unidades, segundo estimativas do setor.
— A pandemia antecipou em cinco anos o comportamento digital do consumidor. O que era exceção virou regra — aponta Juliana Guedes, consultora em inovação no varejo farmacêutico.
Um novo mercado de trabalho, mais instável
O crescimento vertiginoso da economia de plataforma, no entanto, trouxe também novos desafios — especialmente no campo das relações de trabalho. Estima-se que mais de 1,5 milhão de pessoas no Brasil trabalhem como motoristas ou entregadores em plataformas digitais, segundo dados do Ipea. Sem vínculo formal e com alta rotatividade, esses trabalhadores vivem na fronteira entre a autonomia e a precarização.
Para o professor Alexandre Pina, da Faculdade de Direito da UFRJ, há um vácuo jurídico na regulamentação:
— A legislação atual foi pensada para vínculos formais. O desafio agora é construir um modelo que garanta direitos sem engessar o dinamismo das plataformas. A Europa já discute isso há mais tempo; o Brasil começa a se mover.
Infográfico sugerido: “Antes e depois dos apps”
Antes
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Pedir táxi: aceno na rua ou ligação para centrais
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Comprar remédio: deslocamento até farmácias
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Pedir comida: telefone e cardápio impresso
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Comprar bebida: ida ao supermercado
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Ganhar renda extra: venda direta ou bicos
Depois
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Uber/99: motoristas em 5 minutos
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Farmácias APP/Rappi: entrega em até 1h
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iFood: cardápio digital, pagamentos via app
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Zé Delivery: cerveja gelada em casa
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Plataformas: renda por meio de apps com geolocalização
Um futuro regulado?
Comissão no Congresso discute a criação de uma legislação específica para os trabalhadores de aplicativos. O Ministério do Trabalho avalia formas de garantir proteção mínima, como previdência e seguro contra acidentes. Paralelamente, as próprias empresas testam modelos de benefícios por produtividade ou tempo de uso.
No entanto, o cenário ainda é difuso. Para especialistas, o desafio é equilibrar inovação e proteção. Como resume a advogada trabalhista Renata Vilela:
— O que está em jogo é o pacto entre eficiência e dignidade.
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