As recentes declarações de Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, colocaram o Brasil em uma posição delicada nas relações diplomáticas com a Ucrânia. Yermak solicitou formalmente o apoio brasileiro para mediar a devolução de cerca de 20 mil crianças ucranianas alegadamente sequestradas e levadas à Rússia durante o conflito.
Embora o governo brasileiro tenha reconhecido a gravidade da situação, a resposta foi marcada por cautela. O Ministério das Relações Exteriores afirmou estar disposto a colaborar para um acordo de paz, mas evitou comprometer-se diretamente com a mediação ou com a adesão ao movimento ucraniano “Bring Kids Back”.
A postura reflete a tradição diplomática do Brasil de neutralidade em conflitos internacionais. No entanto, diante de uma crise humanitária dessa magnitude, questiona-se até que ponto a neutralidade pode ser mantida sem que haja omissão frente a violações de direitos humanos.
Especialistas em relações internacionais argumentam que a posição do Brasil é uma tentativa de equilibrar relações com a Ucrânia e a Rússia, com quem mantém laços históricos e econômicos importantes, especialmente por meio do bloco dos Brics. Por outro lado, a postura neutra do governo brasileiro tem sido criticada, inclusive por Zelensky, que questionou o real comprometimento do Brasil com a paz.
Além disso, a ausência de um convite ao presidente ucraniano para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro foi lamentada por Yermak, ainda que o chefe de gabinete tenha elogiado a decisão brasileira de barrar a participação do presidente russo, Vladimir Putin, no evento.
Esse cenário coloca em evidência a necessidade de o Brasil reavaliar sua postura diplomática. A defesa dos direitos humanos e a proteção de crianças em zonas de conflito são princípios universais que não podem ser ignorados em função de interesses geopolíticos.
Adotar uma posição mais ativa na mediação do conflito poderia reafirmar o compromisso do Brasil com a paz e a justiça internacional, além de fortalecer sua imagem como líder regional comprometido com valores humanitários. A neutralidade, quando aplicada a crises humanitárias, corre o risco de ser confundida com passividade – algo que o Brasil, como um importante ator global, não pode permitir.
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