Goiânia, junho de 2025 — A inesperada declaração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que encontrou um comprador para as operações do TikTok no país gerou forte repercussão internacional — e deixou os criadores de conteúdo brasileiros em alerta. A afirmação foi feita neste domingo (29) durante uma entrevista à emissora Fox News, em meio à conturbada disputa política pela sucessão presidencial norte-americana. Segundo Trump, a negociação envolve um grupo de “pessoas muito ricas”, cujos nomes serão anunciados em até duas semanas.
A declaração reacende o debate sobre soberania digital, uso de dados pessoais e os rumos da economia da atenção em escala global. A transação ocorre no contexto de uma lei sancionada pelo governo norte-americano em 2024, que obriga a ByteDance — empresa chinesa proprietária do TikTok — a vender os ativos da plataforma nos Estados Unidos ou ter o aplicativo banido do território. O prazo atual para a conclusão do negócio vai até 17 de setembro de 2025.
Geopolítica da tecnologia
A disputa pela posse do TikTok é um capítulo emblemático da crescente tensão entre EUA e China pelo controle de tecnologias emergentes e dados em larga escala. O TikTok, com cerca de 170 milhões de usuários ativos apenas nos Estados Unidos, é visto por autoridades norte-americanas como uma ameaça à segurança nacional, sob a alegação de que dados de cidadãos americanos poderiam ser compartilhados com o governo chinês.
A proposta de venda, porém, não é nova. Em 2020, Trump já havia tentado forçar a alienação da plataforma, mas a iniciativa foi paralisada após ações judiciais e mudanças administrativas. Em 2024, o Congresso aprovou uma legislação específica que deu respaldo à exigência. Desde então, o ex-presidente, que busca voltar à Casa Branca, prorrogou o prazo de venda por três vezes, sob o argumento de que é preciso “proteger a juventude americana da influência estrangeira”.
Apesar de ainda não revelar os nomes dos investidores envolvidos, Trump se mostrou otimista quanto à aprovação do negócio por parte da China. Analistas, no entanto, lembram que o governo de Pequim já sinalizou anteriormente que pode vetar a transferência de tecnologia sensível — como o algoritmo do TikTok — a empresas estrangeiras, o que pode travar a conclusão da operação.
Repercussão entre influenciadores brasileiros
No Brasil, onde o TikTok soma mais de 92 milhões de usuários, a notícia da venda teve ampla repercussão entre influenciadores digitais. Muitos manifestaram preocupação com a possibilidade de mudanças nos critérios de entrega de conteúdo, monetização e regras de moderação.
Com a plataforma sob nova direção — especialmente se associada a interesses políticos e econômicos americanos — há receio de que o alcance dos criadores latino-americanos seja reduzido, favorecendo influenciadores sediados nos Estados Unidos. Outra incerteza gira em torno dos pagamentos: ainda não está claro se a nova gestão manterá o modelo atual de remuneração de vídeos ou se haverá cortes em programas como o TikTok Creator Fund.
Especialistas em economia digital alertam para o risco de “nacionalização silenciosa” de plataformas globais. Segundo eles, ao permitir que grandes potências imponham exigências legais unilaterais sobre aplicativos amplamente utilizados em outros países, cria-se um precedente perigoso para a fragmentação da internet — com consequências diretas para a liberdade de expressão, a competitividade e o ecossistema da comunicação digital.
Caminhos possíveis
A operação ainda depende de três etapas críticas. A primeira é a formalização do grupo comprador, com divulgação de nomes e condições do negócio. Em seguida, será necessária a autorização das autoridades chinesas, especialmente no que diz respeito à exportação de tecnologias sensíveis. Por fim, a compra terá de ser aprovada por agências reguladoras dos Estados Unidos, que devem avaliar potenciais impactos concorrenciais e geopolíticos.
Há especulações de que o grupo interessado seja liderado por nomes do mercado financeiro e por empresários próximos a Trump. Um dos nomes ventilados é o do bilionário Frank McCourt, que já propôs adquirir o TikTok por meio de seu projeto voltado à criação de uma internet descentralizada. Também circulam rumores sobre o envolvimento de grandes empresas de tecnologia, como Oracle e Amazon, e até de influenciadores milionários do YouTube.
Brasil pode ser afetado
Embora a negociação envolva apenas as operações do TikTok nos Estados Unidos, os impactos sobre a plataforma em escala global são praticamente inevitáveis. Alterações no algoritmo ou nas regras de moderação adotadas pela nova gestão norte-americana podem repercutir em todos os mercados onde o aplicativo opera — inclusive o Brasil.
A ausência de uma regulamentação nacional específica para plataformas estrangeiras amplia a vulnerabilidade de criadores e empresas brasileiras, que podem ser afetados por decisões tomadas em Washington ou Pequim, sem qualquer mediação local. Enquanto países como a União Europeia já iniciaram processos para exigir maior transparência das plataformas digitais, o Brasil ainda debate projetos genéricos como o PL das Fake News.
Um mercado bilionário em jogo
A venda do TikTok, se concretizada, poderá se tornar uma das maiores transações da história recente envolvendo redes sociais. Avaliações de mercado apontam que a operação nos EUA pode ultrapassar os 100 bilhões de dólares, considerando a base de usuários, os dados acumulados e o potencial de influência política e econômica da plataforma.
No Brasil, estima-se que o TikTok movimente mais de R$ 5 bilhões por ano em publicidade, vendas via social commerce e contratos com influenciadores. Qualquer mudança na estrutura da plataforma, portanto, tem potencial de gerar efeitos significativos sobre a economia da atenção e o marketing digital.
O futuro do TikTok é hoje uma das questões centrais na disputa por poder no universo digital. A tentativa de compra conduzida por aliados de Donald Trump, embora apresentada como uma medida de segurança nacional, levanta preocupações sobre censura, interesses políticos e concentração de poder tecnológico. Para os usuários e criadores brasileiros, o alerta está aceso: o que ocorre hoje nos Estados Unidos pode ditar os rumos da comunicação digital no Brasil — e no mundo.
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