Os estados de Tocantins e Goiás enfrentam desafios únicos no setor elétrico devido às suas características geográficas, demográficas e climáticas. Apesar disso, avanços significativos em infraestrutura, qualidade do fornecimento e atendimento ao cliente têm sido registrados nos últimos anos, impulsionados por investimentos robustos das concessionárias locais, Energisa Tocantins e Equatorial Goiás. No entanto, os problemas recorrentes no fornecimento de energia ainda causam transtornos à população e afetam o desenvolvimento econômico regional.
Tocantins: O avanço de uma rede desafiadora
O Tocantins, com 89% de sua rede elétrica localizada em áreas rurais, enfrenta condições adversas, como a alta incidência de raios e dificuldades de acesso às localidades mais isoladas. Segundo dados recentes, o estado registrou, entre janeiro e novembro de 2024, mais de 4 milhões de descargas atmosféricas, um dos maiores volumes anuais da última década. Essas condições resultaram em frequentes interrupções de energia, prejudicando residências e atividades econômicas, especialmente em áreas rurais.
Moradores do assentamento São Francisco, em Porto Nacional, relataram que ficaram sem energia por cinco dias consecutivos em dezembro de 2024, causando perdas significativas, como alimentos estragados e dificuldades no dia a dia. Apesar desses desafios, a Energisa Tocantins tem implementado melhorias que tornaram o estado um dos destaques em qualidade do fornecimento no Brasil.
Desde que assumiu a concessão em 2014, a Energisa investiu R$ 3,7 bilhões na modernização e expansão do sistema elétrico do Tocantins. Em 2024, o investimento anual foi recorde, atingindo R$ 763,4 milhões, o maior já registrado. Projetos como novas subestações em Bernardo Sayão e Araguaína IV e linhas de transmissão de alta tensão estão em andamento para melhorar ainda mais a qualidade do fornecimento.
Os avanços são evidentes nos indicadores de qualidade. Desde 2014, o DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) foi reduzido em 17,72 horas, enquanto o FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) caiu 8,66 vezes. Em 2024, a Energisa Tocantins ficou 2,73 horas abaixo do limite regulatório do DEC e 5,79 vezes abaixo do FEC, consolidando-se como a melhor distribuidora da região Norte, segundo a Aneel.
Goiás: O legado de problemas e os desafios de renovação
A situação em Goiás apresenta características distintas, mas igualmente desafiadoras. A transição de concessão da Enel para a Equatorial Goiás, em 2023, trouxe à tona problemas estruturais significativos na rede elétrica estadual. Segundo a Aneel, a concessionária ultrapassou os limites de tempo sem energia em 91% das áreas do estado no último ano, refletindo um legado de infraestrutura sucateada e investimentos insuficientes.
Eventos climáticos extremos, como a onda de calor em setembro de 2023, que elevou a demanda por energia em 16%, exacerbaram as falhas na rede elétrica, causando frequentes interrupções no fornecimento. Em resposta, a Equatorial Goiás anunciou planos de investimento para renovar e modernizar a infraestrutura, mas o impacto positivo dessas ações ainda é incipiente.
A insatisfação dos consumidores é evidente. Em 2024, Goiás registrou 3.298 processos judiciais relacionados a problemas no fornecimento de energia, uma média de 14 ações por dia. Esses números evidenciam a urgência de ações concretas para melhorar o atendimento e a estabilidade do sistema.
Composição tarifária e impactos no consumidor
Tanto no Tocantins quanto em Goiás, a composição tarifária reflete desafios semelhantes. No Tocantins, por exemplo, a tarifa média é de R$ 0,82 por kWh, com 35,7% do valor da conta destinado à operação da Energisa. O restante é repassado a geradoras, transmissoras e encargos tributários, como ICMS e PIS/COFINS. Já em Goiás, o preço da tarifa segue próximo à média nacional, mas a percepção negativa da qualidade do serviço impacta diretamente a avaliação dos consumidores.
Investimentos e perspectivas para 2025
Os investimentos no setor elétrico em ambos os estados prometem transformar o panorama energético. No Tocantins, a previsão para 2025 é de continuidade nos aportes robustos, com obras como a linha de alta tensão Colinas-Araguaína III e uma nova subestação em Taguatinga. Em Goiás, a Equatorial anunciou um plano de modernização que inclui melhorias na rede e expansão do atendimento a áreas de difícil acesso.
No âmbito nacional, o Ministério de Minas e Energia (MME) projeta a implantação de 1.500 km de novas linhas de transmissão e um aumento de 7.900 MVA na capacidade de transformação em 2025, reforçando o Sistema Interligado Nacional (SIN). A conclusão da linha Manaus-Boa Vista, que conectará Roraima ao SIN, é outro marco esperado para o próximo ano.
Os estados de Tocantins e Goiás ilustram os desafios e avanços do setor elétrico brasileiro. Enquanto Tocantins se consolida como um exemplo de melhoria contínua, Goiás ainda enfrenta as consequências de uma infraestrutura debilitada. Investimentos em modernização, expansão da rede e melhoria no atendimento ao consumidor são fundamentais para garantir um fornecimento de energia estável e eficiente, promovendo o desenvolvimento econômico e o bem-estar da população.
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