Justiça mantém prisão de Eduardo Siqueira; novo prefeito em exercício afirma que gestão continuará normalmente, com foco em cronograma de obras e chamamento de aprovados em concurso da educação.
A Justiça manteve, na noite desta sexta-feira (27), a prisão do prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), após audiência de custódia, no âmbito da nova fase da operação Sisamnes da Polícia Federal, que apura um esquema de vazamento de informações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Com a decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o prefeito e outros dois presos – o advogado Antônio Ianowich Filho e o policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz – foram encaminhados ao Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar, onde permanecerão custodiados.
A prisão e o afastamento imediato de Eduardo abriram espaço para a ascensão do vice-prefeito Carlos Velozo (Agir), que já assinou o termo de posse como prefeito em exercício. Em entrevista à TV Anhanguera neste sábado (28), Velozo assegurou que a máquina administrativa seguirá operando com normalidade: “Tudo o que estava previsto será mantido. Palmas não pode parar por causa de instabilidades políticas. Nossa prioridade é garantir continuidade e segurança institucional”.
Continuidade administrativa
Carlos Velozo reafirmou que o cronograma de obras em andamento, bem como as reformas previstas por Eduardo, estão sob revisão, mas não sofrerão interrupções imediatas. Ele também confirmou a convocação dos mais de 1,2 mil aprovados no concurso público da educação. O ato de chamamento, embora ainda não publicado oficialmente, foi anunciado pela própria gestão nas redes sociais e reiterado por Velozo.
“Já foi divulgada essa previsão e nós vamos dar continuidade a tudo que estava sendo feito. O grupo permanece coeso. Não haverá prejuízo à população”, reforçou o prefeito interino.
A equipe de transição já foi acionada para revisar as mudanças administrativas que estavam sendo conduzidas por Eduardo Siqueira. Velozo declarou que está solicitando relatórios técnicos de cada pasta para avaliar a real necessidade e urgência das alterações. “Algumas propostas estavam em discussão, mas não passaram pelo crivo de todo o governo. Cabe a mim, neste momento, analisar com responsabilidade o que deve avançar e o que pode ser adiado”, ponderou.
Prisões confirmadas
Eduardo Siqueira Campos foi preso na manhã de sexta-feira, por determinação do ministro Zanin, após representação da Polícia Federal e parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR). A investigação apura o funcionamento de uma possível organização criminosa que teria atuado no vazamento sistemático de decisões judiciais sob sigilo. De acordo com a PF, essas informações estariam sendo repassadas a investigados com o objetivo de frustrar ações policiais e proteger aliados políticos.
Na audiência de custódia, as prisões dos três envolvidos foram ratificadas. Todos foram levados ao quartel da PM, sem direito à prisão domiciliar. Ao ser conduzido ao Instituto Médico Legal (IML), Eduardo se limitou a declarar: “Com a mesma serenidade de sempre, com a mesma tranquilidade de sempre”.
A Prefeitura de Palmas divulgou nota oficial afirmando que a prisão do prefeito “não guarda relação com a gestão atual” e que Eduardo “recebeu a decisão com serenidade, colaborando com as investigações”.
Relação com o caso Thiago Barbosa
Eduardo é citado em diálogos que indicam seu suposto envolvimento com o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, sobrinho do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos). Thiago está preso desde março de 2025, também por decisão do STF, acusado de embaraçar investigações que envolvem o uso de recursos públicos em compras emergenciais no governo estadual.
Embora o prefeito afirme que a relação com Thiago é apenas “afetiva” e que jamais repassou dados sigilosos, interceptações telefônicas obtidas pela Polícia Federal e divulgadas pela GloboNews indicam que Eduardo teria conhecimento prévio de processos em andamento no STJ e mencionava “ter uma fonte” dentro do tribunal.
Apesar disso, Wanderlei Barbosa não é formalmente investigado. Em nota, o governador nega ter recebido qualquer informação privilegiada e se diz “surpreso com os desdobramentos”.
OAB e SSP acompanham o caso
A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Tocantins (OAB-TO), informou que está adotando todas as medidas para garantir a observância das prerrogativas profissionais do advogado preso. A entidade afirma que não teve acesso à decisão judicial até o momento.
Já a Secretaria da Segurança Pública do Estado informou que o caso envolvendo o policial civil será acompanhado pela Corregedoria-Geral da SSP, que avaliará as medidas administrativas cabíveis diante da gravidade das acusações.
O advogado Juvenal Klayber, que representa o policial Marco Augusto, afirmou que a defesa já ingressou com pedido de revogação da prisão e, caso seja negado, pretende recorrer. “Vamos demonstrar que ele não tem nenhuma responsabilidade nos fatos investigados”, declarou.
Repercussão política
Nos bastidores, aliados de Eduardo avaliam que a prisão pode provocar um realinhamento político no Tocantins, sobretudo no grupo que o apoiou nas últimas eleições. A prisão do prefeito ocorre em um momento de pré-campanha municipal em todo o estado, e há expectativa de como isso pode impactar a imagem do Podemos na capital.
Velozo, que é pastor evangélico e entrou na política pela primeira vez em 2024, busca reforçar um discurso de estabilidade institucional. “A minha responsabilidade é manter a cidade funcionando. Vamos nos concentrar na entrega de obras, na convocação de servidores e na transparência da gestão”, afirmou.
Eduardo Siqueira permanecerá preso, por ora, sem previsão de soltura, até que o Supremo Tribunal Federal avalie o mérito do caso e os recursos que serão apresentados pelas defesas. A operação Sisamnes, por sua vez, segue avançando nas investigações, com possibilidade de novos desdobramentos nos próximos dias.
Enquanto isso, a Prefeitura de Palmas tenta manter o discurso de “normalidade institucional”. No Diário Oficial de sexta-feira, a nomeação de Velozo foi publicada com validade imediata. Já nas redes sociais da prefeitura, nenhuma menção direta foi feita à operação, apenas comunicados reforçando a manutenção de políticas públicas e projetos em curso.
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