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Profecia gravada em 2022 reaparece após pastor assumir Prefeitura de Palmas e reacende debate sobre fé e poder político

Vídeo viral cita entrega da “chave da cidade” e é usado por apoiadores de Carlos Velozo como confirmação espiritual de sua posse; críticos alertam para instrumentalização religiosa da política local

A posse interina do pastor Carlos Velozo (Agir) no comando da Prefeitura de Palmas, após a prisão do prefeito Eduardo Siqueira Campos (Podemos), reacendeu não apenas a crise política, mas também um debate espinhoso: os limites entre fé e poder público. O estopim veio com a viralização de um vídeo antigo, gravado em setembro de 2022, no qual uma pastora profetiza que Deus entregaria a Velozo a “chave da cidade”.

Na gravação, que circula amplamente nas redes sociais desde o último fim de semana, a líder religiosa afirma:
“Eu tô dando a chave desta cidade nas vossas mãos. Tô tirando alguém, tô te colocando lá dentro.”

Dois anos depois, o contexto político transformou a profecia em peça central do discurso simbólico de apoiadores do novo prefeito. Para seus eleitores, o vídeo seria a confirmação de que sua ascensão ao cargo foi antecipada por uma “promessa divina”. Para críticos, no entanto, trata-se de um exemplo preocupante de como a religiosidade vem sendo utilizada para legitimar movimentos políticos.

Repercussão nas redes: entre louvor e instrumentalização

Após a prisão preventiva de Eduardo Siqueira, determinada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, e a consequente posse de Carlos Velozo, o vídeo rapidamente ganhou tração. Nas redes sociais, comentários como “já estava escrito”, “cumprimento da palavra de Deus” e “nenhum plano resiste ao propósito divino”tomaram conta de postagens pró-governo.

Ao mesmo tempo, juristas e analistas políticos manifestaram preocupação com o uso do conteúdo religioso como ferramenta de mobilização e reforço político. Especialistas alertam que esse tipo de narrativa pode contribuir para a confusão entre Estado laico e Estado confessional, especialmente em regiões onde a presença evangélica na política cresce de forma acelerada.

“Cadeira de Davi” e vocabulário messiânico

O vídeo, com pouco mais de dois minutos, menciona também a chamada “cadeira de Davi”, expressão de forte carga simbólica no meio evangélico e que remete à legitimidade de um trono divinamente concedido. A pastora também declara que Deus estaria “mexendo na política desta cidade” e que “não é os Estados Unidos, é Palmas”, em uma tentativa de ancorar a profecia no contexto local.

A linguagem messiânica e os códigos religiosos presentes na gravação funcionam como elemento de reforço à narrativa de destino, fortalecendo a imagem de Velozo entre eleitores com base evangélica. A associação entre autoridade espiritual e autoridade administrativa, ainda que informal, é lida por analistas como um fenômeno em expansão no cenário municipal e estadual.

Mudança de postura e os primeiros atos como prefeito

Pastor da Assembleia de Deus Nação Madureira, Carlos Velozo tem 47 anos e está em seu primeiro mandato político. Ele foi eleito vice-prefeito em 2024 na chapa encabeçada por Eduardo Siqueira e era considerado até então um dos aliados mais fiéis do prefeito afastado.

A relação política entre os dois, no entanto, começou a se desgastar com a mudança de comando. Já no primeiro dia útil como prefeito em exercício, Velozo exonerou o secretário de Governo, Carlos Antônio da Costa Júnior — homem de confiança de Eduardo — e o procurador-geral do município, Renato Oliveira. Os atos foram interpretados como sinal de ruptura e realinhamento interno.

Apesar das decisões, Carlos Velozo divulgou nota oficial em tom conciliador:
“Eduardo é um amigo-irmão que Deus colocou em nossa vida. Tenho certeza de que a vontade de Deus e do nosso povo será respeitada. Palmas seguirá seu caminho de prosperidade e desenvolvimento.”

Crise política e investigação no STF

Eduardo Siqueira Campos está preso desde sexta-feira (27), por determinação do Supremo Tribunal Federal, acusado de envolvimento em um esquema de vazamento de informações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça. A ação faz parte da 10ª fase da Operação Sisamnes, conduzida pela Polícia Federal.

Também foram presos o advogado Antônio Ianowich Filho e o policial civil Marco Augusto Albernaz. As investigações apontam a existência de uma rede montada para proteger investigados com fins políticos. A prisão do prefeito, ainda sem data definida para revisão, aprofundou a instabilidade no Executivo palmense e ampliou as especulações sobre possíveis pedidos de impeachment por parte da Câmara Municipal.

Fé, política e estratégia

A retomada da profecia no atual contexto revela mais do que um simples episódio de religiosidade pública. Ela expõe a complexa engrenagem de narrativas que atravessam fé, poder e comunicação política. Em um momento de incerteza institucional, o resgate de um vídeo de 2022 cumpre função simbólica — seja como amparo espiritual aos fiéis, seja como ferramenta retórica para sedimentar apoios.

Especialistas em ciência política e sociologia da religião alertam que esse tipo de operação narrativa — que transforma eventos religiosos em previsões políticas — reforça uma lógica de personalismo messiânico. No caso de Carlos Velozo, a “chave da cidade” virou senha para a construção de um novo ciclo de poder.

A Prefeitura, por sua vez, reiterou que a investigação federal não tem relação com a atual administração e que a gestão interina seguirá normalmente, enquanto durar o afastamento do titular. Mas, como mostra o vídeo resgatado e a força que ganhou, não se governa apenas com decretos e atos administrativos — governa-se, também, com símbolos.

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