“A Substância” marca não apenas o aguardado retorno de Demi Moore (Elizabeth) ao cinema, mas também consolida Margaret Qualley (Sue) como um dos grandes nomes de sua geração. O filme surpreende ao conquistar tanto a crítica especializada quanto o público geral, criando expectativas ousadas para a temporada de premiações.
Este terror corporal dirigido por Coralie Fargeat apresenta uma narrativa visceral e metafórica, acompanhando a trajetória de Elizabeth, uma estrela em decadência que, ao consumir uma misteriosa substância, dá à luz — pelas costas — a uma versão de si mesma. Ambas compartilham as mesmas memórias, mas alternam a existência, vivendo apenas uma semana cada. A premissa, excêntrica e ousada, se desenvolve com força nos dois primeiros atos, que exploram não apenas os experimentos envolvendo Elizabeth e Sue, mas também os impactos devastadores da pressão estética em Hollywood. Essa crítica social é amplificada pelo contexto de vulnerabilidade da protagonista, expondo como a autodestruição pode se tornar um reflexo cruel dessa indústria, especialmente para as mulheres.
No entanto, é no terceiro ato que o filme encontra sua assinatura definitiva. Embora alguns críticos possam considerá-lo desnecessário ou excessivo, é nele que a obra se transforma em um terror genuinamente perturbador. Arrisco dizer que essa conclusão tem o potencial de redefinir os padrões do gênero, consolidando “A Substância” como um marco para o cinema de horror.
A direção de Coralie Fargeat merece um destaque especial. Sua habilidade em criar cenas que horrorizam tanto pelo explícito quanto pelo sugerido é impressionante. Um exemplo memorável é uma cena aparentemente comun envolvendo camarões, que me causou repulsa suficiente para evitá-los por meses. Esse domínio sobre o grotesco sutil, combinado com a estética neo-expressionista que permeia a obra, eleva o filme a um patamar artístico singular.
“A Substância” não é apenas um terror para chocar, mas um comentário profundo sobre identidade, autodestruição e o peso das expectativas sociais, embalado em uma experiência visual e emocional única. É o tipo de filme que pode deixar marcas — não apenas no espectador, mas também na indústria.
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