De retina a medula: estudos recentes mostram recuperação funcional em doenças graves e raras com o uso de células-tronco e edição genética
Por Redação
O ano de 2024 consolidou uma série de avanços na medicina regenerativa e genética. Pesquisas de ponta revelaram resultados promissores no uso de células-tronco e novas terapias genéticas para tratar doenças até então consideradas irreversíveis, como Parkinson, esclerose lateral amiotrófica (ELA), lúpus e distúrbios genéticos raros. A combinação de tecnologia, biologia celular e inteligência genética avança para o centro das estratégias de cura e reabilitação funcional.
Implantes celulares e restauração funcional
Técnicas com células-tronco têm sido testadas com sucesso em doenças neurodegenerativas, especialmente em fases avançadas.
Na degeneração macular relacionada à idade (DMRI), pesquisadores usaram epitélio pigmentar da retina derivado de células-tronco para restaurar parcialmente a visão. Os resultados indicam melhora significativa da percepção visual em pacientes com quadro crítico.
Para Parkinson, ensaios clínicos de fase 1 mostraram progressos em funções motoras de pacientes tratados com células-tronco neurais dopaminérgicas. A pesquisa é conduzida em centros na Europa e nos Estados Unidos.
Já no caso da esclerose lateral amiotrófica (ELA), um estudo demonstrou que células-tronco implantadas na medula espinhal permaneceram ativas por até três anos e meio, liberando proteínas terapêuticas e retardando a progressão da doença.
Japão lidera com células iPS
O Japão se destaca como polo de desenvolvimento de terapias com células-tronco pluripotentes induzidas (iPS). Entre os projetos em andamento estão tratamentos para cegueira, paralisia e demência. A expectativa é de que os primeiros tratamentos com base nessa tecnologia sejam aprovados ainda em 2025.
CRISPR e a engenharia de genes
A terapia gênica avança com a aplicação da técnica CRISPR-Cas9, especialmente em doenças genéticas raras. A anemia falciforme e a beta-talassemia já são tratadas, em caráter experimental, com a exagamglogene autotemcel (Casgevy), aprovada nos EUA e no Reino Unido.
Outro marco é a aprovação da Lenmeldy, terapia gênica para leucodistrofia metacromática, doença neurodegenerativa que atinge crianças. A medicação insere uma cópia funcional do gene mutado e tem custo estimado em US$ 4,5 milhões por dose.
Imunoterapia genética contra doenças autoimunes
Uma das principais surpresas veio da adaptação da terapia CAR-T, até então usada apenas em oncologia, para o tratamento do lúpus eritematoso sistêmico. Pacientes em estágio grave conseguiram alcançar remissão total da doença, sem necessidade de medicamentos contínuos. A descoberta pode revolucionar o tratamento de doenças autoimunes.
Nova rota para o cérebro
Pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram um novo método de entrega genética que atravessa a barreira hematoencefálica, uma das grandes dificuldades da neurociência. Utilizando proteínas humanas, é possível levar material genético diretamente ao cérebro, abrindo caminho para terapias mais eficazes em Alzheimer e outras doenças cerebrais.
Vacinas personalizadas e combate ao câncer
Vacinas personalizadas com tecnologia de mRNA também despontam como promessa para tratamento de cânceres como melanoma, pâncreas e cabeça e pescoço. O NHS britânico lidera ensaios clínicos que ajustam o imunizante ao perfil genético do tumor de cada paciente.
Nos Estados Unidos, a FDA aprovou a Amtagvi (lifileucel), uma terapia com linfócitos T infiltrantes de tumor (TIL), que utiliza células do próprio tumor do paciente, expandidas em laboratório para atacarem o câncer. A abordagem representa uma nova geração de tratamentos para cânceres resistentes à quimioterapia tradicional.
O que esperar nos próximos anos
As expectativas são altas. Com o avanço da engenharia genética, terapias celulares e inteligência artificial aplicada à medicina, especialistas apontam que a próxima década será marcada por tratamentos mais personalizados, com foco na reversão de danos, controle genético de doenças e eliminação de efeitos colaterais severos.
A medicina do futuro, cada vez mais, se aproxima do que parecia ficção científica. O desafio agora é garantir o acesso equitativo e sustentável a essas tecnologias.
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