specialistas alertam para o uso indevido de semaglutida e liraglutida, substâncias que viraram febre nas redes sociais, mas cujo uso exige prescrição e acompanhamento médico rigoroso
Fernanda Cappellesso – Especial para o Diário Tocantinense– Nas redes sociais, celebridades, influenciadores fitness e até perfis anônimos têm exaltado os supostos “milagres” das chamadas canetas injetáveis para emagrecimento. Produtos como Ozempic, Wegovy e Saxenda, todos à base de semaglutida ou liraglutida, ganharam status de “aceleradores de dieta”. Mas, mais recentemente, uma nova promessa começou a circular com força: o uso desses medicamentos para melhorar a performance sexual masculina e até para aumentar o pênis. Mas o que há de fato nisso tudo?
Canetas para emagrecimento: o que são?
As substâncias utilizadas em medicamentos como Ozempic e Wegovy são análogos do GLP-1, um hormônio que age sobre o pâncreas e o cérebro, regulando a produção de insulina e provocando maior sensação de saciedade. Elas foram desenvolvidas originalmente para tratar diabetes tipo 2, mas ganharam uso também no controle de obesidade, sob prescrição médica e em casos específicos.
Em entrevista ao Diário Tocantinense, o endocrinologista Dr. Marcelo Aguiar, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), alerta:
“Esses medicamentos são seguros quando indicados por profissionais, dentro de protocolos bem definidos. O problema está na automedicação e no uso por pessoas que não têm indicação clínica, o que pode gerar efeitos adversos graves.”
Entre os principais efeitos colaterais estão náuseas, vômitos, constipação intestinal, pancreatite e risco de hipoglicemia, especialmente em pessoas sem diabetes.
Uso para libido e disfunção erétil tem comprovação?
Apesar de viralizar nas redes como um novo “viagra natural”, não há comprovação científica robusta de que a semaglutida ou liraglutida aumentem o desejo sexual ou provoquem crescimento peniano.
Segundo o urologista Dr. Ricardo Navarro, há estudos iniciais em andamento que avaliam se os efeitos indiretos da perda de peso e do controle glicêmico poderiam melhorar quadros de disfunção erétil, especialmente em pacientes com sobrepeso, mas nada que justifique o uso do fármaco com esse objetivo principal.
“Emagrecer melhora o desempenho sexual por fatores indiretos: autoestima, circulação sanguínea e redução de comorbidades. Não existe relação direta entre essas substâncias e aumento peniano. Esse tipo de promessa é irresponsável”, afirma.
Casos de uso fora da bula crescem no Brasil
A reportagem conversou com dois usuários de canetas de semaglutida que relataram, sob anonimato, terem buscado o medicamento por indicação de amigos ou pelas redes sociais. Em ambos os casos, o uso foi iniciado sem prescrição, e os dois enfrentaram efeitos colaterais intensos, como náuseas, diarreia e fraqueza. Um deles interrompeu o uso em menos de 15 dias.
A busca desenfreada pelos medicamentos gerou, inclusive, escassez nas farmácias em diversas capitais brasileiras. A Anvisa e o Conselho Federal de Medicina já emitiram alertas sobre o uso off-label (fora das indicações da bula) e reforçaram que emagrecimento não deve ser tratado como tendência, mas como condição de saúde.
Promessas falsas e riscos nas redes
No TikTok, vídeos que prometem “emagrecimento acelerado” e “potência sexual aumentada” com uso de Ozempic ou Wegovy acumulam milhões de visualizações. O fenômeno preocupa autoridades de saúde e profissionais da medicina, que veem nisso um novo ciclo de medicalização da estética, agora atrelado à sexualização do corpo masculino.
O endocrinologista Marcelo Aguiar é enfático:
“Estamos vendo uma distorção completa dos objetivos terapêuticos desses medicamentos. Associar isso a ganho sexual é charlatanismo puro. Além do risco físico, existe também o risco emocional e psicológico.”
O que dizem os fabricantes?
A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, informou em nota que não recomenda o uso dos produtos fora das indicações aprovadas pela Anvisa e que qualquer comunicação que relacione os medicamentos a efeitos sexuais não tem respaldo científico.
A farmacêutica reforça que os produtos são indicados apenas para tratamento de diabetes tipo 2 (Ozempic) e obesidade crônica (Wegovy e Saxenda), sempre sob prescrição médica e com acompanhamento clínico contínuo.
As chamadas “canetas para emagrecer” não são solução mágica nem para a balança, nem para o desempenho sexual. O uso indiscriminado, estimulado por promessas sem respaldo científico nas redes sociais, coloca em risco a saúde e desinforma a população. A orientação de médicos especialistas é clara: procure ajuda profissional, evite a automedicação e desconfie de soluções que prometem tudo com facilidade.
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