O ano de 2024 trouxe dados alarmantes sobre a mortalidade no Tocantins, conforme o painel da Secretaria de Saúde do Estado. Foram registrados 7.502 óbitos, abrangendo mortes por causas naturais, externas, infantis e maternas. A análise desses números revela a urgência de ações coordenadas para enfrentar os desafios estruturais e sociais que comprometem a saúde pública no estado.
A desigualdade de gênero na mortalidade
Entre os óbitos gerais, a disparidade de gênero é evidente: 59,74% das mortes foram de homens, enquanto 40,26% das vítimas eram mulheres. Essa diferença reflete questões comportamentais e a maior exposição masculina a situações de risco, como aponta a epidemiologista Dra. Juliana Moreira. “Os homens estão frequentemente mais envolvidos em situações de violência urbana e acidentes de trânsito, fatores que impactam diretamente os índices de mortalidade. Essa realidade precisa ser enfrentada com campanhas educativas e políticas de segurança mais eficazes,” afirma.
Causas externas de mortalidade: acidentes e violência lideram
Das 1.363 mortes por causas externas, os acidentes corresponderam a 60,9% (830 óbitos), seguidos por homicídios (19,88%) e suicídios (12,69%). A infraestrutura precária e o aumento no número de veículos nas estradas tocantinenses são apontados como fatores cruciais para a alta taxa de acidentes fatais.
O especialista em segurança pública Dr. Rafael Santos destaca a necessidade de investimentos em infraestrutura e fiscalização. “O Tocantins, com sua extensa malha rodoviária, carece de políticas voltadas à segurança no trânsito. Melhorar as condições das vias, intensificar a fiscalização e educar a população são passos essenciais para reduzir esses números,” explica.
Os homicídios, por sua vez, refletem problemas sociais mais profundos, como desigualdade, desemprego e falta de oportunidades para jovens. “As políticas públicas precisam abordar as causas estruturais da violência, não apenas os seus efeitos,” reforça Santos.
Mortalidade infantil: avanços limitados em meio a desafios persistentes
A mortalidade infantil é outro ponto crítico no Tocantins. Em 2024, foram registrados 216 óbitos infantis, com destaque para os neonatais precoces (108), relacionados a complicações no parto e condições evitáveis. Embora o estado tenha apresentado avanços em relação a anos anteriores, os desafios permanecem.
A pediatra Dra. Mariana Silva ressalta a importância de um pré-natal de qualidade: “Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas com acompanhamento adequado durante a gestação. Faltam médicos e recursos nas regiões mais remotas, onde a população enfrenta dificuldades para acessar serviços básicos de saúde,” pontua.
Os óbitos pós-neonatais (71 casos) também chamam atenção, indicando problemas como infecções e desnutrição em recém-nascidos. Isso evidencia a necessidade de fortalecer os programas de assistência às famílias mais vulneráveis.
Mortalidade materna: uma questão de desigualdade no acesso à saúde
Com 10 óbitos maternos em 2024, o Tocantins enfrenta desafios que refletem desigualdades regionais. As principais causas foram complicações obstétricas, transtornos hipertensivos e problemas relacionados ao parto. De acordo com a Dra. Juliana Moreira, “a mortalidade materna é um termômetro da saúde pública. Esses números mostram que, em muitas regiões, as mulheres ainda não têm acesso a serviços de saúde de qualidade durante a gestação e o parto.”
A especialista aponta ainda que a falta de leitos de UTI neonatal e maternidades equipadas agrava o problema. “Precisamos garantir que todas as mulheres, independentemente de onde vivem, tenham acesso ao suporte necessário. Isso inclui profissionais capacitados, transporte eficiente e infraestrutura adequada,” conclui.
Reflexos das desigualdades regionais
Um dado que chama atenção é a concentração de mortes em determinadas regiões, evidenciando a desigualdade no acesso à saúde. Enquanto algumas cidades contam com hospitais regionais bem equipados, outras dependem de unidades básicas de saúde com recursos limitados. Essa disparidade reflete o histórico de investimentos desiguais e a dificuldade em distribuir recursos de forma equitativa.
O economista especialista em políticas públicas, Dr. Felipe Andrade, reforça que a solução passa por um planejamento estratégico: “Os recursos precisam ser direcionados para onde há mais carência. Isso inclui desde a construção de novas unidades de saúde até a capacitação de profissionais e o fornecimento de equipamentos. Sem isso, continuaremos a ver essas desigualdades impactando os dados de mortalidade.”
Propostas para 2025: políticas integradas e prevenção como prioridade
Os desafios apresentados pelos números de 2024 mostram que o Tocantins precisa investir em políticas integradas para reverter esse quadro. Entre as propostas, estão:
- Fortalecimento da atenção básica: Expansão de equipes de saúde da família, com foco em regiões vulneráveis.
- Investimento em infraestrutura: Melhorias nas estradas para reduzir acidentes e construção de maternidades regionais.
- Capacitação de profissionais: Treinamentos para médicos e enfermeiros em áreas como atendimento neonatal e emergências obstétricas.
- Campanhas de conscientização: Foco na segurança no trânsito, saúde preventiva e planejamento familiar.
Como ressalta o Dr. Felipe Andrade, “a saúde pública deve ser uma prioridade contínua, e isso requer esforço conjunto entre governos, sociedade civil e iniciativa privada. Só assim será possível salvar vidas e garantir qualidade de vida para todos os tocantinenses.”
A urgência de ações efetivas
Os dados da mortalidade no Tocantins em 2024 revelam uma situação desafiadora que demanda ação imediata. A saúde pública no estado reflete, em muitos aspectos, as desigualdades socioeconômicas e estruturais que ainda precisam ser enfrentadas. Para 2025, espera-se que as políticas sejam mais inclusivas e que os avanços cheguem a todas as regiões do estado, garantindo um futuro mais justo e seguro para todos.
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