Pesquisadores analisam evolução do coronavírus com foco nos esforços regionais de sequenciamento genômico e identificação de subvariantes.
Nos últimos dois anos, a pandemia da COVID-19 entrou em uma nova fase no Brasil, marcada pelo declínio de casos e hospitalizações, ampliação da vacinação e redução de medidas preventivas. Nesse contexto, um estudo publicado na Viruses em janeiro de 2025 revelou dados importantes sobre a evolução do SARS-CoV-2 no país, com destaque para Tocantins. A pesquisa, conduzida por Ueric José Borges de Souza e Fabrício Souza Campos, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), analisou mais de 55 mil sequências genômicas do vírus entre julho de 2022 e julho de 2024.
Sequenciamento genômico: Tocantins é referência nacional
O estudo evidenciou disparidades regionais nos esforços de sequenciamento genômico. Enquanto estados como São Paulo e Rio de Janeiro lideraram em números absolutos de genomas sequenciados, Tocantins apresentou taxas de sequenciamento superiores, considerando o número de casos confirmados. Com isso, destacou-se como um dos estados mais proativos no monitoramento genômico.
Segundo os pesquisadores, “Tocantins demonstrou um esforço significativo de vigilância genômica, priorizando o sequenciamento mesmo com um número moderado de casos”. Essa dedicação reflete a importância estratégica do estado em compreender a evolução do vírus no Brasil e informar políticas públicas.
Evolução do vírus: de BA.5 a novas subvariantes em 2024
O estudo identificou 626 linhagens distintas do SARS-CoV-2 circulando no Brasil durante o período analisado. As subvariantes BA.5 dominaram em 2022, mas em 2023 o cenário mudou com o surgimento de recombinantes como XBB e, posteriormente, JN.1, que lideraram em 2024. Essa transição destaca a capacidade adaptativa do vírus, impulsionada por mutações que aumentam a transmissibilidade e a evasão imunológica.
As análises também revelaram mutações regionais específicas. Em Tocantins, mutações como H245N e E554K, presentes na proteína spike, foram identificadas com frequência significativa. Essas alterações são importantes para entender a interação do vírus com o sistema imunológico e o impacto na eficácia das vacinas.
Vigilância e desafios para o futuro
Embora o estudo tenha destacado o avanço em estados como Tocantins, ele também apontou desigualdades no monitoramento genômico entre as regiões. Estados como Maranhão, Piauí e Roraima apresentaram esforços de sequenciamento abaixo do esperado, considerando seus números de casos. Essa disparidade reflete diferenças na alocação de recursos e na capacidade técnica.
Os pesquisadores ressaltam a importância de um financiamento mais equitativo e do fortalecimento de redes colaborativas para ampliar a vigilância genômica. “Sem esforços contínuos de monitoramento, corremos o risco de atrasar a detecção de variantes preocupantes, o que pode comprometer a eficácia das medidas de saúde pública”, alerta Souza.
Impactos na saúde pública e implicações globais
Os resultados reforçam a importância de manter a vigilância genômica mesmo em um cenário pós-pandemia. As mutações observadas na proteína spike, alvo principal das vacinas, sugerem a necessidade de atualizações periódicas dos imunizantes. Além disso, a pesquisa destaca a relevância do compartilhamento de dados genômicos em plataformas globais, como o GISAID, para facilitar a resposta conjunta a ameaças emergentes.
No Tocantins, o estudo também demonstra como investimentos em ciência e tecnologia podem posicionar o estado como líder em pesquisas genômicas no Brasil. Essa expertise é crucial para enfrentar futuras pandemias e contribuir para a saúde pública global.
O trabalho realizado pela equipe da UFT é um marco na pesquisa genômica do SARS-CoV-2 no Brasil. Ele evidencia a importância de um esforço coordenado para monitorar a evolução do vírus e ajustar estratégias de saúde pública. Tocantins, com sua proatividade em vigilância genômica, serve como exemplo para outros estados e reforça o papel da ciência no enfrentamento de desafios globais.
A vigilância genômica tem sido um pilar crucial no acompanhamento da evolução do SARS-CoV-2 no Brasil. Fabrício Campos, especialista em biotecnologia e coautor de um estudo recente sobre o tema, destaca que “o número de sequenciamentos de genomas diminuiu de 2022 a 2024 em função do controle da pandemia através da vacinação, o que também propiciou o surgimento de sublinhagens da Ômicron, como é o caso da JN.1.” Apesar da redução geral no número de sequenciamentos, Campos aponta que estados como Tocantins e Amazonas apresentaram taxas de sequenciamento elevadas em relação ao número de casos, o que evidencia esforços proativos de monitoramento.
Segundo Campos, “é essencial uma distribuição mais equitativa de recursos para que todos os estados possam contribuir de forma equilibrada com a vigilância genômica.” Ele reforça que o monitoramento contínuo do vírus é indispensável não apenas para prevenir novas ondas da COVID-19, mas também para atualizar vacinas de forma eficiente e preparar o país para futuras pandemias. Esse esforço coletivo é vital para proteger a saúde pública e garantir respostas rápidas frente à evolução viral.
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