A NASA deu mais um passo estratégico rumo ao retorno de astronautas à Lua com a realização de testes que simulam a iluminação extrema do polo sul lunar. O experimento, realizado no Flat Floor Facility, no Marshall Space Flight Center, no Alabama, busca antecipar os desafios que os astronautas enfrentarão ao caminhar sobre a superfície do satélite natural sob condições de luz e sombra muito distintas daquelas encontradas na Terra.
A missão Artemis III, prevista para 2026, será a primeira da história a levar seres humanos ao polo sul da Lua — uma região com potencial para descoberta de gelo e futuros recursos. Para isso, a agência espacial dos Estados Unidos desenvolve uma série de simulações com o objetivo de testar a segurança e a eficácia das operações em um ambiente onde a luz solar permanece sempre próxima da linha do horizonte.
Iluminação rasa, sombras profundas
Dentro do Flat Floor Facility, engenheiros posicionaram luzes de 12 e 6 kilowatts em ângulos baixos, recriando o comportamento da luz solar no polo sul lunar. A iluminação lateral, comum nessa região, projeta sombras extremamente longas e profundas, criando obstáculos visuais que podem comprometer tarefas básicas de navegação e inspeção.
“A luz no polo sul da Lua pode transformar superfícies brancas em áreas quase cegantes e criar sombras que se estendem por vários metros”, explica Emma Jaynes, engenheira de testes da NASA. Segundo ela, o laboratório funciona como uma mesa de hóquei invertida, com uma camada de ar que permite mover réplicas de equipamentos e estruturas lunares, simulando sua locomoção no ambiente de baixa gravidade.
O piso do laboratório foi coberto por tecidos que imitam as propriedades ópticas do regolito — a poeira e fragmentos rochosos que cobrem a superfície lunar. Além disso, foram montadas réplicas em escala real de pedras, crateras e do módulo de pouso da missão. O objetivo é observar, em tempo real, como os astronautas reagirão a mudanças visuais e obstáculos inesperados.
Realidade aumentada e segurança operacional
Os testes não se limitam à simulação de iluminação. Sensores, câmeras de alta precisão e tecnologias de realidade aumentada permitem aos engenheiros analisar o desempenho dos astronautas sob diferentes condições de visibilidade e movimento. O foco está em garantir que mesmo tarefas simples, como caminhar ou recolher amostras, possam ser feitas com segurança e precisão.
A simulação também oferece dados que serão aplicados no desenvolvimento de ferramentas específicas para uso lunar, como lanternas, sensores e painéis de navegação adaptados ao ambiente de sombra extrema. Os resultados servirão ainda como referência para futuros projetos voltados à exploração de Marte, onde condições de iluminação semelhantes poderão ser encontradas.
Parceria com a SpaceX
A missão Artemis III será conduzida em colaboração com a SpaceX, empresa de Elon Musk, responsável pelo desenvolvimento do Starship Human Landing System — o sistema de pouso que transportará os astronautas entre a órbita lunar e a superfície. O módulo da SpaceX será utilizado pela primeira vez em uma missão tripulada no espaço profundo, representando um marco na parceria entre a agência espacial e o setor privado.
Avanço científico e simbolismo histórico
Além do ineditismo geográfico, a Artemis III marcará o primeiro pouso lunar de uma mulher e de uma pessoa negra, como parte do compromisso da NASA com a diversidade e a equidade em missões espaciais. Para muitos cientistas, o polo sul lunar representa a nova fronteira da exploração espacial — com potencial para bases permanentes e pesquisas sobre sobrevivência em ambientes extremos.
“O que está sendo testado hoje no Alabama vai definir os padrões operacionais de toda uma nova era de presença humana fora da Terra”, diz Jaynes.
Com o avanço dos testes e a consolidação de parcerias estratégicas, a NASA reafirma seu compromisso com a segurança, a inovação tecnológica e o futuro da presença humana no espaço.
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