Ex-presidente nega conspiração, diz que buscava “alternativas constitucionais” e afirma que atos do 8 de Janeiro foram conduzidos por “loucos” — cobertura global destaca impacto para 2026
Diário Tocantinense – Brasília-Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro negou ter participado ou orientado qualquer tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. O interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, durou pouco mais de duas horas e teve como foco as acusações que envolvem a elaboração de um decreto inconstitucional, a tentativa de uso das Forças Armadas e a mobilização de aliados políticos e militares para sustentar um plano de ruptura institucional.
Segundo Bolsonaro, não houve conspiração, apenas “discussões sobre alternativas constitucionais”. Ele negou ter revisado ou assinado qualquer documento com teor golpista, apesar das declarações do tenente-coronel Mauro Cid — ex-ajudante de ordens — que afirmou em delação premiada que o ex-presidente teria participado da redação de um texto prevendo a prisão de ministros do STF.
“Golpe é coisa de maluco. Nunca pedi a ninguém que violasse a Constituição. Tive que engolir o resultado das eleições, como qualquer um”, disse Bolsonaro durante o depoimento.
O ex-presidente também tentou se desvincular dos atos golpistas de 8 de janeiro, classificando os participantes como “gente desequilibrada” e afirmando que “não houve orientação do governo ou da campanha para qualquer tipo de mobilização violenta”.
Juristas e cientistas políticos analisam impacto jurídico e político
Especialistas ouvidos pelo Diário Tocantinense avaliam que o depoimento teve dois focos: evitar condenação penal no processo em curso no STF e reposicionar a narrativa política para 2026. Embora Bolsonaro esteja inelegível até 2030, uma eventual reversão judicial ainda é considerada possível por aliados.
Para o jurista e professor, Thiago Bottino, o caso “marca um precedente histórico na responsabilização de um ex-presidente por tentativa de subverter a ordem democrática”. Segundo ele, ainda que a estratégia da defesa seja negar a existência de um plano concreto, as evidências de conversas, rascunhos e articulações paralelas podem ser suficientes para configurar crime.
Já a cientista política Carla Mattos, avalia que “o depoimento buscou manter a fidelidade da base bolsonarista, apostando na vitimização e na tese de perseguição judicial, algo recorrente nos discursos do ex-presidente desde 2019”.
Repercussão internacional amplia pressão
A imprensa internacional repercutiu com destaque o depoimento de Bolsonaro. Veículos como CNN, BBC, The New York Times e El País classificaram o episódio como um “teste da democracia brasileira” e destacaram o simbolismo de um ex-chefe de Estado ser interrogado pelo Supremo por suposta tentativa de golpe.
A BBC enfatizou que Bolsonaro reconheceu discussões sobre o uso das Forças Armadas, mesmo negando plano formal. O El País afirmou que o depoimento pode fortalecer a narrativa do Judiciário brasileiro como pilar de estabilidade institucional. Já o The New York Times descreveu a sessão como “um divisor de águas para a política latino-americana”, apontando que o caso pode influenciar decisões em outros países da região.
Reflexos para 2026 e desdobramentos jurídicos
Nos bastidores políticos, a avaliação é que, embora o ex-presidente tenha mantido a linha de defesa conhecida, o impacto do depoimento pode variar conforme o posicionamento do STF e a pressão da opinião pública. Bolsonaro enfrenta ao menos quatro ações diretas relacionadas aos eventos de 2022 e 2023 — além de já estar inelegível por decisão do TSE.
Se condenado por tentativa de golpe de Estado, poderá receber pena de até 12 anos de prisão, além de ter os direitos políticos suspensos por tempo prolongado. O julgamento ainda está em fase de instrução e os ministros têm até outubro para emitir parecer final.
Link para compartilhar: