Investigação sobre casas de apostas é marcada por insinuações, supostas menções a familiares e suspeitas de lobby nos bastidores da Assembleia.
A CPI das Apostas Esportivas — conhecida como CPI das Bets — instalada na Assembleia Legislativa do Tocantins entrou em nova fase nesta semana sob clima de tensão interna. Parlamentares ouvidos pelo Diário Tocantinenserelataram pressões políticas e tentativas de interferência externa, inclusive com menções indiretas a familiares e assessores de membros da comissão. A reportagem apurou que há movimentações nos bastidores que sugerem tentativas de desestabilizar os trabalhos da comissão e blindar operadores influentes do setor.
Embora nenhum nome de parente tenha sido citado formalmente nos depoimentos, fontes internas afirmam que circulam, de forma velada, insinuações sobre ligações de pessoas próximas a parlamentares com empresas de apostas e consultorias que atuam junto ao mercado digital.
Parlamentares reagem a bastidores
Um dos membros titulares da CPI, sob reserva, confirmou à reportagem que houve “tentativas de constrangimento e abordagens indiretas” após os primeiros requerimentos aprovados. “Houve quem insinuasse que a CPI poderia acabar respingando em quem não tem nada a ver com o caso. Isso, para mim, é ameaça velada”, afirmou.
Outro parlamentar, também em condição de anonimato, relatou pressões de empresários locais ligados ao setor de tecnologia e entretenimento esportivo. “As apostas são apenas a fachada. Há muito dinheiro e interesses cruzados por trás”, disse.
Assessores na mira e lobby crescente
Juristas consultados destacam que, se confirmadas interferências sobre membros da CPI ou tentativas de obstrução, a conduta pode configurar crime de responsabilidade e justificar ações no âmbito do Ministério Público.
“Mesmo sem formalização, ameaças veladas e tentativas de intimidação são gravíssimas e devem ser apuradas. O ambiente da CPI precisa ser preservado com independência”, afirma a jurista e ex-procuradora de Justiça Ana Cláudia Martins.
Relatos de bastidores também apontam para a atuação de lobistas que tentam influenciar os rumos da CPI por meio de interlocução com gabinetes, visitas fora da agenda oficial e oferta de informações sigilosas. Uma fonte ligada ao plenário revelou que houve pelo menos duas reuniões com representantes de empresas de apostas que não constam em registros públicos.
Interesses políticos em jogo
A CPI foi criada para apurar a atuação de plataformas de apostas digitais no Tocantins, incluindo possíveis vínculos com campanhas eleitorais, patrocínios esportivos irregulares e evasão fiscal. O setor movimenta bilhões anualmente e ganhou atenção nacional após escândalos no futebol brasileiro.
Nos bastidores, há quem afirme que parte das tensões internas decorre da proximidade de eleições municipais, em que alguns parlamentares pretendem lançar aliados. Um relatório técnico da assessoria da Assembleia já aponta “sobreposição de interesses político-partidários” no andamento da comissão.
Silêncio e estratégia
Até o momento, a presidência da CPI evita comentar as supostas pressões, alegando que “a investigação segue sob sigilo em trechos sensíveis”. Questionada pela reportagem, a assessoria oficial reiterou que não houve formalização de denúncias sobre parentes, mas confirmou que está monitorando “possíveis tentativas de influenciar o curso dos trabalhos”.
Parlamentares da base do governo e da oposição se dividem sobre a condução dos trabalhos. Enquanto alguns defendem maior rigor nas convocações, outros sugerem cautela para não transformar a CPI em “palanque eleitoral”.
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