A nova onda de violência no Oriente Médio acendeu um alerta entre líderes religiosos, turistas brasileiros e especialistas em política internacional. Em solo tocantinense, representantes das comunidades evangélica, judaica e muçulmana relatam temor crescente entre os fiéis e reforçam o impacto emocional, espiritual e político do conflito, que já soma milhares de mortos na Faixa de Gaza e provoca reações divergentes no cenário global.
Pastor da Igreja Assembleia de Deus, Elias Carvalho esteve recentemente em Jerusalém e afirma que o ambiente era de “pressão psicológica constante”, mesmo antes da intensificação dos ataques. “O turismo religioso ainda acontecia, mas com um aparato de segurança que mudava o tom das visitas. Templos, ruas sagradas e lugares históricos estavam cercados por soldados armados. A guerra parecia próxima demais”, descreve.
Elias participou de cultos no Monte das Oliveiras e no Cenáculo. Segundo ele, o sentimento dos fiéis que encontrou era de frustração com a ausência de diálogo entre os povos. “O que mais ouvi foram orações pela paz. Mas também vi medo e silêncio nos rostos. As sirenes interrompiam pregações. E havia pastores que se perguntavam se era seguro continuar por ali.”
A estudante goiana Ana Letícia Borges, natural de Gurupi, fazia intercâmbio em Tel Aviv quando os primeiros ataques de foguetes foram registrados. “As explosões eram constantes. Cheguei a dormir em um abrigo subterrâneo de uma universidade. As pessoas corriam, mas não havia pânico visível — era uma rotina de guerra que os moradores já conheciam”, relata.
Já o engenheiro civil Daniel Moraes, visitava familiares em Ramallah, na Cisjordânia, e afirma que o bloqueio de estradas e os confrontos nas ruas tornaram os deslocamentos quase impossíveis. “Chegamos a ficar dois dias dentro de casa sem conseguir sair. A sensação era de que tudo podia piorar a qualquer momento.”
Vozes religiosas expressam dor e desconfiança
Líder da comunidade judaica, o empresário Levi Stein diz que a nova ofensiva militar traz de volta uma sensação conhecida entre os judeus: a de perseguição silenciosa. “Não é apenas um ataque a Israel. É também simbólico. A cada bomba, sentimos o enfraquecimento do direito à existência de um povo que já perdeu demais.”
Por outro lado, Jamal Baruki, representante da comunidade muçulmana e neto de palestinos refugiados, critica a narrativa dominante nos meios de comunicação. “Quantas matérias chamam de ‘operação militar’ o que são bombardeios contra escolas, hospitais e casas em Gaza? Falta humanidade nesse noticiário. E isso também se comunica ao Tocantins. Temos crianças aqui que crescem ouvindo que seus avós são ‘do lado errado da história’. Isso marca.”Para ele, o conflito não é só político. “É sobre dignidade, sobre território e sobre um povo que ainda vive sem direito de ir e vir.”
G7 manifesta preocupação com desproporcionalidade dos ataques
A repercussão internacional da nova escalada militar levou os líderes do G7 a emitirem nota oficial pedindo contenção por parte de Israel. O documento, divulgado na última semana, afirma que “as operações devem respeitar o direito internacional humanitário” e cita a necessidade de abertura de corredores para ajuda humanitária em Gaza.
A cientista política Ana Luísa Figueiredo, avalia que a pressão sobre Tel Aviv é inédita. “Os Estados Unidos continuam como aliados estratégicos, mas a União Europeia e o Japão têm dado sinais de desconforto com a intensidade da resposta militar. A China e a Rússia, por sua vez, aproveitam o vácuo diplomático para defender uma solução multilateral — o que desloca o protagonismo ocidental no processo de paz.”
Segundo ela, o Brasil tem buscado um “equilíbrio ambíguo”. “O Itamaraty tem falado em cessar-fogo, mas evita culpar diretamente Israel. Há uma leitura política por trás disso: o governo teme desagradar tanto os evangélicos quanto setores progressistas que apoiam a causa palestina.”
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