Conflito relâmpago entre as duas potências expôs limites militares, aprofundou isolamentos diplomáticos e reacendeu o risco nuclear na região
Tel Aviv e Teerã emergiram do conflito iniciado em junho de 2025 sem poder declarar vitória. Em apenas 12 dias, o mundo assistiu a uma escalada sem precedentes entre Irã e Israel — duas das potências mais influentes e antagonistas do Oriente Médio — que terminou com dezenas de mortos, estruturas críticas destruídas e um cessar-fogo negociado sob forte pressão internacional. Os danos imediatos foram visíveis. Mas os efeitos estratégicos e políticos ainda estão em disputa.
O confronto, iniciado após uma série de ataques cibernéticos e movimentações militares sigilosas, ganhou contornos dramáticos quando Israel bombardeou instalações nucleares iranianas com apoio tático dos Estados Unidos. O Irã, por sua vez, respondeu com ataques a bases militares, uso de mísseis balísticos e drones, além de ações coordenadas de milícias aliadas na Síria, no Líbano e no Iraque.
Apesar da intensidade, o conflito foi curto. A guerra terminou em 24 de junho com um cessar-fogo instável, negociado com intermediação de países do Golfo e do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, agora em campanha por um novo mandato. Nenhum tratado formal foi assinado, e as hostilidades cessaram mais por esgotamento tático do que por consenso político.
Israel: vitória parcial, pressão diplomática
Em Tel Aviv, o governo de Benjamin Netanyahu celebrou a operação como um “êxito cirúrgico”. Foram destruídas pelo menos três instalações associadas ao programa nuclear iraniano — entre elas, partes das usinas subterrâneas de Natanz e Fordow. A ação foi vista como uma resposta direta a alertas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que vinha denunciando a elevação dos níveis de enriquecimento de urânio no Irã.
Militarmente, Israel conseguiu impor perdas ao aparato estratégico iraniano. Mas o custo foi elevado: 28 mortos, centenas de feridos, prejuízo econômico e forte pressão internacional. Em Haifa e Ashdod, sirenes de ataque aéreo e escolas fechadas tornaram-se rotina durante os dias de conflito.
Internamente, Netanyahu viu sua popularidade subir momentaneamente. No entanto, a reação global à ofensiva foi mista: países europeus e aliados históricos como França e Alemanha cobraram explicações sobre a proporcionalidade do ataque e alertaram para o risco de desestabilização regional duradoura. A ONU, por sua vez, denunciou a ausência de aval do Conselho de Segurança.
Irã: regime sobrevive, mas sofre golpe estratégico
Em Teerã, o discurso oficial foi de resistência. O governo de Masoud Pezeshkian, recém-eleito presidente após eleições marcadas por baixa participação, afirmou que o país saiu fortalecido e que “nenhuma força externa conseguirá dobrar a soberania iraniana”.
Na prática, no entanto, o Irã perdeu capacidade operacional, viu parte de seu programa nuclear ser danificada e teve baixas importantes entre oficiais da Guarda Revolucionária. A AIEA estima que o cronograma iraniano para enriquecimento de urânio foi atrasado em seis a oito meses. Especialistas falam em retrocesso temporário, mas não irreversível.
As perdas estratégicas expuseram a fragilidade das defesas iranianas diante da tecnologia bélica israelense. Ainda assim, o regime manteve sua base de apoio interno — em parte, reforçada pela retórica de vítima de uma agressão estrangeira.
Risco de proliferação e nova corrida armamentista
O ponto mais sensível do pós-guerra é a retomada do debate sobre a proliferação nuclear no Oriente Médio. Para analistas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), o ataque israelense quebrou um tabu histórico: ao alvejar diretamente estruturas nucleares em solo iraniano, Tel Aviv teria sinalizado que não aceitará a existência de um Irã nuclear sob nenhuma hipótese — mesmo sem consenso internacional.
O temor, agora, é que outros países — como Arábia Saudita, Egito e Turquia — acelerem seus próprios programas de defesa avançada. A ausência de uma mediação ativa dos EUA e o esvaziamento diplomático da ONU no conflito alimentam esse risco.
Cessar-fogo instável e ameaças veladas
O cessar-fogo, anunciado sem fotos, documentos ou conferência conjunta, foi mais um recuo tático do que um acordo de paz. Israel mantém vigilância máxima sobre possíveis reativações do programa nuclear iraniano. O Irã, por sua vez, suspendeu cooperação com a AIEA e prometeu vingança “na hora certa”.
As milícias aliadas ao regime iraniano — como o Hezbollah e os Houthis — permanecem mobilizadas. A fronteira sul do Líbano segue como ponto sensível, com relatos de movimentações de tropas. A Síria, já devastada por sua própria guerra civil, voltou a ser palco de bombardeios cruzados.
Impacto regional e consequências para o Brasil
Para o Oriente Médio, o conflito representa um alerta: os equilíbrios de dissuasão estão cada vez mais frágeis, e o espectro de guerras localizadas que rapidamente ganham proporção regional permanece presente.
No Brasil, a escalada afetou temporariamente o mercado de combustíveis e fertilizantes, e acendeu o debate sobre segurança energética e acordos comerciais com países árabes. O Itamaraty defendeu o cessar-fogo imediato e se manteve neutro quanto às responsabilidades diretas no conflito, seguindo a tradição da diplomacia brasileira de não alinhamento automático.
Balanço da guerra Irã x Israel – Junho de 2025
País | Mortos estimados | Alvos atingidos | Reação internacional | Perspectiva interna |
---|---|---|---|---|
Israel | 28 mortos | 3 usinas nucleares, 17 alvos estratégicos | Apoio dos EUA; críticas da ONU e UE | Governo fortalecido, mas sob pressão |
Irã | 142 mortos | Bases da Guarda Revolucionária, radares e centros de comando | Apoio da Rússia e China; isolamento no Ocidente | Regime sobrevive, mas com danos internos e imagem abalada |
Sem paz formal, a guerra deixa uma região ainda mais polarizada — e com um risco maior de que o próximo confronto, se vier, não dure apenas 12 dias.
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