Mensagem sobre “Fenômeno Afélio” alarmou moradores com previsões falsas; especialista afirma que não há nada fora do normal para o clima do estado
Circula pelas redes sociais e grupos de WhatsApp no Tocantins uma mensagem alarmista sobre um suposto “frio extremo” que duraria até agosto deste ano. A justificativa do texto, que viralizou principalmente entre moradores da região Centro-Norte do país, é a ocorrência do “Fenômeno Afélio”, supostamente responsável por afastar a Terra em “66% do Sol” e provocar uma onda de frio “como nunca antes vista”. O conteúdo, repleto de emojis, instruções exageradas e recomendações caseiras, gerou dúvidas, preocupações e muitos compartilhamentos — mas não tem respaldo científico.
A meteorologista Elizabeth Assis, em entrevista ao Diário Tocantinense, desmentiu a mensagem e esclareceu os fatos. Segundo ela, embora o afélio seja um fenômeno real, sua ocorrência não provoca alterações significativas no clima de regiões tropicais como o Tocantins.
“Essa coisa de ser mais frio, como nunca antes visto, é algo muito específico para o Sul do país. Aqui no Tocantins, não tem nada fora do normal. O afélio acontece todo ano e está associado ao inverno porque é o período do afastamento natural da Terra em relação ao Sol. Isso faz parte do ciclo climático anual, mas não provoca frio extremo por si só, muito menos aqui na nossa região”, explicou Elizabeth.
O que é o afélio?
O afélio é o ponto da órbita da Terra em que o planeta está mais distante do Sol. Em 2025, o afélio ocorre por volta das 5h27 do dia 5 de julho. Nesse momento, a Terra estará a aproximadamente 152 milhões de quilômetros do Sol — algo em torno de 5 minutos-luz. Essa variação, porém, é anual e natural, e não tem influência direta nas temperaturas extremas registradas nas diferentes regiões do país.
A ideia de que estamos “66% mais longe do Sol” no afélio, como sugere a mensagem viral, é incorreta. A distância entre a Terra e o Sol varia cerca de 3% entre o periélio (ponto mais próximo, em janeiro) e o afélio (ponto mais distante, em julho). Essa diferença não é suficiente para causar mudanças bruscas de temperatura, especialmente em zonas tropicais.
Tocantins: o que esperar do inverno?
No Tocantins, o inverno é marcado por calor diurno, noites mais amenas e baixa umidade relativa do ar, sobretudo entre junho e agosto. A estação não costuma registrar frio intenso como nas regiões Sul e Sudeste. O que preocupa os especialistas não é o frio, mas os efeitos da secura do ar, que provoca:
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Crises de rinite e sinusite;
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Viroses respiratórias;
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Aumento nos casos de asma;
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Irritação nos olhos e vias respiratórias.
“Aqui é verão seco. O que a gente enfrenta são os problemas típicos dessa época: umidade baixa e doenças respiratórias. Não tem nenhuma previsão de frio intenso ou anormal para o Tocantins. É mais um boato que se espalha e causa alarme sem motivo”, reforçou Elizabeth Assis.
Brasil: frio pontual no Sul, mas nada inédito
A frente fria que atinge o Sul e parte do Sudeste neste fim de junho tem origem em massas de ar polar, e não no afélio. Meteorologistas alertam que, embora algumas cidades do Sul devam registrar temperaturas abaixo de zero nos próximos dias, essa condição não se estende ao Centro-Oeste, Norte ou Nordeste.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) reforça que não há previsão de queda brusca de temperatura no Tocantins nos próximos 15 dias. O que deve ocorrer é a permanência de tempo seco, com umidade relativa do ar abaixo dos 30% em diversas cidades, o que exige cuidados com a saúde e a hidratação.
Boato em cadeia: o texto do viral
A mensagem que circula nas redes tem características típicas de fake news: tom urgente, uso exagerado de emojis, dados pseudocientíficos e apelos para compartilhamento em massa. O texto cita dados incorretos sobre distância da Terra ao Sol, recomenda evitar sair de casa sem agasalho e alerta para um suposto “colapso de imunidade” até agosto.
Entre as orientações dadas estão: “manter os pés aquecidos”, “tomar sucos de frutas cítricas”, “evitar tomar chuva” e “compartilhar com o maior número de pessoas possível”. A recomendação do Ministério da Saúde, no entanto, segue sendo: hidratar-se, cuidar da alimentação e proteger-se da baixa umidade, que é, de fato, uma questão crítica neste período para regiões como Tocantins, Goiás e Distrito Federal.
Não compartilhe sem checar
O fenômeno do afélio não representa risco ou fator de preocupação para o Tocantins ou para outras regiões tropicais do Brasil. Ele acontece anualmente e faz parte da mecânica orbital da Terra. O clima do Tocantins nos meses de junho a agosto segue o padrão histórico: calor durante o dia, noites um pouco mais frescas e ar seco, com aumento de doenças respiratórias típicas do inverno seco.
Antes de compartilhar mensagens alarmistas, consulte fontes oficiais como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Defesa Civil e especialistas da área. A desinformação climática pode provocar pânico, reforçar mitos e prejudicar o acesso a orientações corretas de saúde pública.
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