Redação I Diário Tocantinense-Em clima de mobilização política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou nesta sexta-feira (27) no Tocantins acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva. A comitiva foi recebida no aeroporto de Palmas por três nomes centrais da cena local: o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), a senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil) e o senador Irajá Abreu (PSD). A agenda, que teve como vitrine programas federais como o PAC e o Minha Casa Minha Vida, também serviu como vitrine para alianças eleitorais mirando as urnas de 2026.
Lula discursou em Araguatins para uma plateia formada por lideranças políticas, prefeitos e movimentos sociais. Enfatizou a retomada das obras paradas e reforçou a narrativa de reconstrução. “O Tocantins tem pressa, e o Brasil tem compromisso. Estamos aqui para garantir que o desenvolvimento chegue também à região Norte”, afirmou. Ao lado do presidente, Wanderlei Barbosa centrou o discurso na pauta agrária e pediu ao governo federal isonomia com o Amapá, onde foi realizada recentemente uma ampla regularização fundiária. “Queremos que o Tocantins também possa regularizar essas terras e oferecer segurança jurídica aos produtores rurais. Essa talvez seja a agenda mais importante para o desenvolvimento do agronegócio na região”, disse.
Nos bastidores, a visita é lida como um gesto político calculado de Lula para reforçar alianças com governadores do centro-norte e dar musculatura à base governista em estados considerados estratégicos. Wanderlei, que lidera as intenções de voto para o Senado, tem evitado declarações públicas sobre sua candidatura, mas interlocutores dizem que ele já articula discretamente uma chapa competitiva. Segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado em abril, Barbosa aparece com 52,9% das intenções, à frente de Eduardo Gomes (PL), com 32,5%, e Irajá Abreu, com 17,8%.
A senadora Dorinha também marcou presença na visita presidencial e, embora evite declarações diretas sobre 2026, tem circulado com desenvoltura nos bastidores do União Brasil como possível nome para o governo estadual. A leitura entre analistas locais é que Lula, ao se aproximar de Dorinha e Wanderlei, tenta construir um palanque plural no Tocantins, mesmo com as diferenças internas entre aliados.
As tensões entre o governador e o senador Irajá ficaram visíveis na véspera da visita. Em evento político, Wanderlei ironizou o adversário: “Quem tirou ele [Irajá] foi o povo, não eu. Ele apostou no caos”. Irajá respondeu duramente: “Governador há três anos, Wanderlei foi incapaz de começar e concluir uma obra relevante”, declarou em nota à imprensa.
Além das sinalizações políticas, a visita também teve peso simbólico. Janja participou de reuniões com primeiras-damas, lideranças femininas e representantes de movimentos sociais. O tom foi de protagonismo. “Precisamos das mulheres nos espaços de decisão e nas políticas públicas. Estamos aqui por elas e com elas”, disse durante um encontro no Palácio Araguaia.
A movimentação de Lula no Tocantins soma-se a outras visitas presidenciais em estados do Norte e do Nordeste, numa tentativa clara de retomar a liderança nas articulações locais. A estratégia visa neutralizar o avanço de bolsonaristas em áreas onde o governo federal ainda possui capital político. Embora sem declarações explícitas sobre 2026, o gesto é interpretado como parte da montagem de palanques regionais, com figuras como Wanderlei Barbosa, Dorinha e Eduardo Gomes despontando como peças-chave para a formação de alianças no estado.
Com discursos afinados, aparições públicas lado a lado e reforço de programas sociais e de infraestrutura, o governo federal ensaia o que pode ser a reedição de uma coalizão ampla em torno do nome de Lula no cenário tocantinense. Até lá, o jogo permanece aberto.
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