A prisão do prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), ocorrida na manhã desta sexta-feira, 27 de junho, desencadeou uma reação em cadeia nos meios político e jurídico do Tocantins e chamou a atenção da imprensa nacional. A ação foi executada pela Polícia Federal no âmbito da 10ª fase da Operação Sisamnes, que apura um esquema de vazamento de informações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Segundo a investigação, Eduardo Siqueira teria tido acesso prévio a dados protegidos por sigilo judicial e repassado essas informações a aliados políticos. O mandado de prisão preventiva foi expedido pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, sob suspeita de que o prefeito tenha atuado para antecipar-se a ações judiciais e policiais. A operação também levou à prisão de um advogado e de um policial civil. Além das prisões, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em Palmas.
De acordo com os autos, a Polícia Federal teve acesso a conversas extraídas do celular de Eduardo Siqueira que indicam um possível contato com membros do STJ. Em uma das mensagens interceptadas, o prefeito afirma que o ministro João Otávio de Noronha teria antecipado informações sobre medidas judiciais, como o afastamento de desembargadores, e sinalizado a existência de operações policiais em andamento. A suspeita é de que o prefeito fazia parte de uma engrenagem voltada à proteção de figuras públicas de alto escalão, frustrando ações de combate à corrupção em troca de favorecimentos políticos e jurídicos.
Com histórico político consolidado, Eduardo Siqueira Campos foi o primeiro prefeito de Palmas entre 1993 e 1996, deputado federal, senador e deputado estadual. Ele voltou ao comando do Executivo municipal em 2024, sendo eleito com mais de 53% dos votos válidos. Filho do ex-governador e fundador de Tocantins, Siqueira Campos, Eduardo é uma das figuras mais influentes da política local. Ainda assim, não é a primeira vez que aparece no centro de investigações da Polícia Federal. Em 2016, foi citado na Operação Acrônimo e, em 2017, foi alvo da Operação Ápia, ambas ligadas a contratos e desvios de recursos públicos.
Diante da nova operação, a Prefeitura de Palmas divulgou uma nota afirmando que as investigações “não se relacionam com a atual gestão municipal” e que o prefeito recebeu a decisão “com serenidade”, comprometendo-se a colaborar com os trabalhos da Justiça. O comunicado também destaca a atuação respeitosa dos agentes federais e reforça o compromisso da administração com a estabilidade institucional da capital.
O partido Podemos, ao qual o prefeito é filiado, manifestou apoio irrestrito à sua conduta, afirmando confiar na lisura de Eduardo Siqueira e solicitando cautela diante do que chamou de “manifestações levianas”. Em nota, o Podemos Nacional declarou que o prefeito “trabalha normalmente diante dos olhos de quem quer que fosse, demonstrando compromisso com os valores democráticos, a ética na vida pública e o respeito às instituições”.
O vice-prefeito de Palmas, Pastor Carlos Eduardo Velozo, também se posicionou em defesa do gestor. Em sua declaração pública, afirmou ter confiança de que tudo será esclarecido e afirmou que Palmas seguirá “seu caminho de prosperidade e desenvolvimento”.
No Congresso Nacional, a senadora Professora Dorinha Seabra demonstrou preocupação com o uso da prisão preventiva antes da conclusão das investigações. Em nota oficial, afirmou que a Constituição garante a presunção de inocência e que medidas extremas, como a prisão sem condenação, devem ser aplicadas com prudência. Dorinha também fez referência a declarações anteriores do próprio ministro Cristiano Zanin, quando ainda era advogado, contra a prática de “prender para depois investigar”.
Tiago Dimas, deputado federal e presidente do Podemos no Tocantins, classificou a prisão como “desproporcional” e afirmou que Eduardo Siqueira “vem conduzindo a capital com responsabilidade, com resultados concretos e compromisso com a população”. Segundo ele, trata-se de uma medida que atinge não apenas a honra pessoal do prefeito, mas o exercício legítimo de seu mandato.
Enquanto a defesa do prefeito aguarda acesso integral aos autos para formular os próximos passos jurídicos, a Polícia Federal continua a apuração de eventuais conexões entre os vazamentos e outras autoridades públicas. O processo corre sob sigilo.
Eduardo Siqueira Campos permanece preso preventivamente, e seu afastamento do cargo já foi comunicado. A gestão interina da Prefeitura de Palmas será conduzida pelo vice-prefeito, que deve manter a agenda administrativa em funcionamento.
A operação Sisamnes, batizada em referência a um juiz corrupto da Grécia Antiga punido com o próprio corpo esfolado em praça pública, já levou à abertura de inquéritos envolvendo figuras do Judiciário, políticos e operadores do direito. A nova fase reacende o debate sobre os limites entre investigação, garantias constitucionais e o uso do sistema judicial como instrumento de controle político.
Nos bastidores, o episódio tem provocado tensão entre lideranças partidárias e poderá ter efeitos duradouros sobre o cenário eleitoral em Palmas e no Tocantins. Aliados do prefeito avaliam que a prisão pode ser revertida nas instâncias superiores e apostam na mobilização pública e jurídica para reabilitar a imagem do gestor. Já adversários veem na operação uma janela para reorganização de forças visando 2026.
Enquanto isso, a cidade de Palmas acompanha com atenção os desdobramentos de um caso que combina poder, justiça e o desgaste político de uma das figuras mais tradicionais da política tocantinense.
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