Boletim Focus aponta Selic elevada e crescimento modesto; IPCA deve seguir acima da meta e real segue pressionado frente ao dólar
Colinas do Tocantins – 21 de março de 2025
O ano de 2025 deve ser mais um capítulo de desafios econômicos para o Brasil, segundo projeções divulgadas pelo Boletim Focus desta quinta-feira (21), publicação semanal do Banco Central que compila estimativas de bancos, consultorias e economistas do mercado financeiro. O relatório projeta um cenário de inflação ainda elevada, crescimento econômico modesto e câmbio instável, com impactos diretos sobre o consumo, o investimento e a política monetária.
A mediana das expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, permanece em 5,65% para 2025, valor que supera a meta central de 3,00%, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). É a mesma projeção registrada há quatro semanas, mas acima do teto da meta, que é de 4,50%.
Para 2026, a inflação projetada foi revisada para cima pela segunda semana consecutiva, passando de 4,48% para 4,50%, o que reforça a percepção de que o processo de desinflação pode ser mais lento do que o inicialmente esperado.
PIB com crescimento modesto e sem sinal de retomada robusta
O Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma de todas as riquezas produzidas no país, deve crescer apenas 1,98% em 2025, uma leve piora em relação à projeção de 2,01% registrada quatro semanas atrás. O movimento indica viés de baixa nas expectativas de crescimento, refletindo as incertezas fiscais, a taxa de juros elevada e o ambiente internacional instável.
Para 2026, o mercado mantém a projeção de crescimento do PIB em 1,60%, sinalizando um cenário de estagnação econômica prolongada. O dado preocupa analistas, que veem dificuldade em gerar emprego e renda sem um impulso estrutural nas contas públicas e na confiança dos investidores.
Câmbio sob pressão e real desvalorizado
A projeção para o dólar em 2025 caiu levemente, passando de R$ 6,00 para R$ 5,95, mas ainda evidencia pressão cambial persistente. O mercado segue atento a fatores como o avanço da taxa de juros nos Estados Unidos, as incertezas sobre a política fiscal brasileira e o cenário eleitoral de 2026.
Para 2026, a expectativa de câmbio foi mantida em R$ 6,00, consolidando uma percepção de que o real deve continuar fraco frente ao dólar nos próximos anos — o que impacta diretamente nos preços de combustíveis, alimentos importados e insumos industriais.
Selic elevada mantém política monetária restritiva
A taxa básica de juros (Selic) deve encerrar 2025 em 15,00% ao ano, segundo o Focus — mesma projeção mantida há 11 semanas consecutivas. O dado reforça a leitura de que o Banco Central seguirá com uma postura firme no combate à inflação, mesmo diante do fraco desempenho da atividade econômica.
Para 2026, a expectativa é de queda para 12,50%, mas com estabilidade nas previsões nas últimas semanas. O mercado considera que o ciclo de cortes será lento e condicionado ao comportamento da inflação, especialmente diante de um ambiente global menos favorável a países emergentes.
Projeções de longo prazo: alívio gradual até 2028
As expectativas para 2027 e 2028 indicam desaceleração tanto da inflação quanto dos juros. O IPCA deve recuar para 4,00% em 2027 e 3,78% em 2028, enquanto a Selic deve cair para 10,50% em 2027 e 10,00% no ano seguinte.
Apesar da tendência de acomodação, os números ainda estão distantes do cenário ideal desejado pela equipe econômica: juros reais baixos e inflação dentro da meta. Analistas reforçam que o Brasil seguirá demandando rigor fiscal, estabilidade política e reformas estruturais para viabilizar um ambiente de crescimento sustentável.
Análise: cenário de alerta para famílias e empresas
Com inflação elevada, crédito caro e atividade econômica fraca, os desafios para 2025 são múltiplos. Famílias tendem a enfrentar perda de poder de compra, enquanto empresas devem manter uma postura cautelosa com investimentos e contratações. O consumo das famílias, principal motor da economia brasileira, pode ser freado pelo custo elevado do financiamento e pela redução da renda disponível.
Economistas também destacam que, mesmo com a manutenção da Selic em patamar elevado, as expectativas de inflação seguem acima da meta, o que compromete a credibilidade do regime de metas e exige ação mais coordenada entre as políticas monetária e fiscal.
As projeções do Boletim Focus divulgadas em 21 de março de 2025 revelam um cenário ainda desafiador para a economia brasileira. O país enfrenta a difícil tarefa de equilibrar inflação, juros, crescimento e câmbio em meio a incertezas internas e externas. Para analistas, a retomada da confiança será essencial para destravar investimentos e reverter o quadro de estagnação projetado para os próximos anos.
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