Economistas projetam impacto em cadeia após bombardeios ao Irã; Tocantins pode sentir efeitos já nas próximas semanas
A ofensiva dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã acendeu um novo alerta nos mercados globais de energia. Com o aumento da tensão no Golfo Pérsico, o preço do petróleo tipo Brent subiu 4,3% nesta segunda-feira (23), cotado a US$ 94,10, e analistas já preveem reflexos diretos sobre o preço da gasolina e do diesel no Brasil.
No Tocantins, onde o abastecimento depende majoritariamente do transporte rodoviário, o impacto tende a ser mais imediato. A expectativa é de que postos de combustíveis repassem o aumento ao consumidor final ao longo das próximas semanas, caso a cotação internacional se mantenha em alta.
Segundo o economista Vitor Silva, pesquisador na área de energia, a atual conjuntura internacional exige atenção redobrada do Brasil.
— A tensão no Oriente Médio tem impacto direto sobre a cotação do petróleo, e, embora o Brasil produza boa parte do que consome, a política de preços ainda acompanha o mercado internacional. Em regiões mais distantes dos polos de refino, como o Tocantins, o repasse tende a ser mais rápido — afirma o especialista.
Os bombardeios ordenados por Washington atingiram três complexos nucleares subterrâneos no Irã: Fordow, Natanz e Isfahan. A ação foi classificada pelo governo norte-americano como preventiva e estratégica. Em resposta, Teerã elevou seu nível de alerta militar e ameaçou bloquear o Estreito de Ormuz, ponto por onde passam cerca de 20% do petróleo comercializado no planeta.
A Petrobras informou, em nota, que monitora a situação e que “qualquer decisão sobre reajuste será tomada com base em critérios técnicos e de mercado”. Até o momento, a estatal não anunciou mudanças nos preços.
Distribuidoras que atuam no Tocantins já trabalham com projeções de aumento entre R$ 0,15 e R$ 0,30 por litro do diesel. A gasolina, que atualmente custa em média R$ 6,29 na capital Palmas, pode ultrapassar R$ 6,50 até o início de julho, dependendo da volatilidade do barril e do dólar.
Caminhoneiros ouvidos pela reportagem relatam preocupação com os custos crescentes. Alcides Tavares, que transporta cargas entre Gurupi e o Maranhão, diz que a rotina na estrada fica mais difícil a cada reajuste.
— O frete não acompanha o preço do diesel. Tem rota que já deixei de fazer. A gente fica no prejuízo — lamenta.
Motoristas de aplicativo também sentem os efeitos. Érica Borges, que trabalha em Palmas há quatro anos, afirma que reajustes sucessivos ameaçam a sustentabilidade da atividade.
— Se aumentar de novo, fica impossível rodar. O passageiro já reclama do valor. Mas a gente também precisa cobrir o custo — diz.
O governo federal convocou uma reunião emergencial entre os Ministérios da Fazenda, de Minas e Energia e da Casa Civil para avaliar medidas caso a escalada do conflito persista. Entre as possibilidades discutidas estão o uso de estoques reguladores da ANP e eventuais desonerações tributárias temporárias.
O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir nesta terça-feira para tratar da situação. Até lá, o mercado segue atento aos desdobramentos e ao comportamento de Teerã diante das sanções e da ofensiva militar ocidental.
A tensão no Golfo Pérsico já provocou desvalorização de moedas emergentes e valorização do dólar e do ouro. No Brasil, o dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,54. Economistas alertam para o efeito em cadeia sobre a inflação e os preços de bens essenciais.
— Estamos diante de um cenário instável, que combina risco geopolítico, mercado nervoso e pressão inflacionária. O impacto será tanto nos combustíveis quanto nos alimentos e no frete, afetando diretamente a população — afirma Vitor Silva.
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