Grileiros de fazendas de Wanderlândia não moram no local, revela áudio do presidente da Associação

Um áudio de aplicativo de mensagem do presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Wanderlândia/Piraquê, Sebastião Sousa Melo Filho, revela como estava sendo orquestrada a tentativa de invasão da Fazenda Corrente Rio Laje, em Wanderlândia (TO), em 28 de janeiro. Ação semelhante foi realizada em outra propriedade nas imediações. 

Na conversa com grileiros, Melo explica que os que se dizem "moradores" passam a semana na cidade e vão para o local apenas no final de semana. "Os caras não estão morando dentro, né? Ali é só o Seu João mesmo", afirma Melo na gravação. 

A Fazenda Rio Laje está na mira de grileiros desde quando foi comprada por uma empresa do Paraná. Além disso, já houve denúncia, por parte dos grileiros e Sebastião Melo,  que teve como desdobramento a Operação "Terra Tombada", da Polícia Civil, para verificar a  presença de pessoas que estariam "ameaçando" os supostos "moradores" nesta área de 327 alqueires.  Isto também é desmentido na gravação do presidente da Associação, que diz conversar "numa boa" com os verdadeiros trabalhadores contratados pela proprietária da fazenda. "Eu já falei foi pra eles mesmo. Tipo, rapaz, se eu já ir fechar e fazer a cerca bem, já era. Não tem pra onde correr… Os caras não estão morando dentro, né? Ali é só o Seu João mesmo", diz o presidente em outra parte da gravação. Na Fazenda Rio Laje mora apenas uma família, João e Deusa, citado no áudio como "seo João". 

"A empresa que adquiriu a área busca na Justiça a proibição para que esses grileiros não adentrem na propriedade, tudo em conformidade com a legislação vigente", diz o advogado da proprietária. No entanto, os invasores alegaram viver no local, embora Melo explique na mensagem que as famílias têm residência fixa na cidade de Araguaína (TO). A situação se agrava pelo fato de se instalarem às margens do rio Laje, em Área de Proteção Permanente (APP), e devastarem o local para venda de madeira extraídas de forma ilegal.

A revelação do conteúdo dos áudios demonstra as estratégias utilizadas pelo grupo para convencer enganosamente autoridades sobre a permanência das famílias invasoras na fazenda. "Que não tem ninguém morando, aí fica difícil. Ali em cima ali pra nós ali (outra área ? fazenda vizinha), graças a Deus que já tá vindo, tem mais três famílias pra lá já, e tem uma lá que tem muita gente, só um lote daqui dali vão fazer, acho que abriu umas quatro casas lá, entendeu? Então tem, estão mudando já, mudou pra mais três famílias lá pra cima já. Um tava fazendo as casas, outros, acho que agora, no final do mês agora. Sim, então, como tu diz né, ali é uma situação totalmente diferente dos de lá debaixo", planeja o presidente da associação. Segundo os atuais proprietários, eles têm total interesse em resolver a questão dentro da legalidade e de forma pacífica, "evidentemente".

Em outro trecho do áudio, o líder dos invasores afirma que recebeu orientação do advogado identificado como "Léo", mandando que limpassem os terrenos em volta dos barracos e simulassem estarem fazendo plantação, para convencer autoridades sobre a versão deles, no caso de aparecerem "visitas" e remarcam os encontros do grupo. Durante visita da equipe de reportagem, foi possível verificar que não há cultivo permanente, por parte dos invasores.

A conversa segue e o presidente da Associação fala no plano de pedir usucapião das terras e comenta sobre uma conversa com um homem chamado Jair: "Eu falei assim, eu peguei e falei, Gilmar, eu vou te dizer que é uma coisa, o Jair sabe do que eu já falei pra ele como que é a situação aqui, o Juninho sabe que nós já ?conversemos? sobre isso aí, já foi eles mesmo quem aconselharam fazer o usucapião aqui em cima, entendeu?" 

O caso segue na Justiça e tem audiência marcada para esta terça-feira (20/02). O DT abre espaço para todos os envolvidos. 

Confira os audios aqui!
 

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