Tocantins em chamas: seca implacável e queimadas descontroladas ameaçam colapsar o estado

A situação climática no Tocantins continua a inspirar preocupação, de acordo com o Boletim Semanal divulgado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) do estado. Entre os dias 10 e 16 de setembro, os níveis dos principais rios tocantinenses apresentaram quedas expressivas, e os focos de queimadas aumentaram de forma alarmante. Especialistas apontam para um cenário crítico, em que os efeitos da seca e dos incêndios ameaçam não apenas o meio ambiente, mas também a saúde e a economia da população local.

Níveis dos rios em queda preocupam

Os dados do boletim mostram que, em muitas regiões do estado, os níveis dos rios estão abaixo do registrado nos últimos três anos. No Rio Formoso, por exemplo, a estação Dorilândia apontou uma redução de 1,61 metros em 2023 para 1,50 metros em 2024. Já no Rio Manuel Alves, o nível na Fazenda Lobeira caiu de 0,36 metros, no ano passado, para 0,34 metros neste ano.

Segundo o geógrafo e especialista em recursos hídricos Marcos Brandão, essa redução é um reflexo direto das condições climáticas adversas que o Tocantins vem enfrentando, aliadas ao uso intensivo dos recursos hídricos para irrigação e consumo humano. “A combinação de pouca chuva, altas temperaturas e uso excessivo da água tem contribuído para uma redução significativa dos níveis dos rios. Isso pode afetar não apenas a fauna e flora locais, mas também as comunidades que dependem desses recursos para suas atividades diárias”, explica Brandão.

Ele alerta que a persistência dessa situação pode levar a uma crise hídrica no estado, com impactos diretos na agricultura e na produção de energia. “Se os níveis dos rios continuarem a cair, haverá menos água disponível para a irrigação, o que pode prejudicar a produção agrícola, que é uma das principais atividades econômicas da região. Além disso, a geração de energia nas hidrelétricas também pode ser comprometida, afetando o fornecimento de eletricidade para milhares de pessoas”, completa.

Seca avança no Tocantins

O Monitor de Secas do Tocantins, atualizado em agosto de 2024, aponta para uma piora nos indicadores de seca em várias regiões do estado. A área com seca moderada (S1) se expandiu no leste e oeste, enquanto o centro e o sul apresentam agora uma seca grave (S2), com impactos de curto e longo prazo. Os principais efeitos incluem danos às culturas agrícolas, pastagens ressecadas e escassez de água em córregos, reservatórios e poços.

O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) explica que a combinação de fatores climáticos e geográficos torna o Tocantins especialmente vulnerável à seca. “O estado está localizado em uma região de transição entre o Cerrado e a Amazônia, o que significa que, durante o período de estiagem, ele sofre com a falta de chuvas e temperaturas elevadas. Além disso, a vegetação característica do Cerrado, com muitas áreas de pastagem, é altamente inflamável, o que facilita a propagação de incêndios”, esclarece.

Segundo o especialista, a previsão para os próximos meses não é animadora. “Estamos entrando na fase mais crítica do ano, com temperaturas que podem ultrapassar os 35°C e umidade relativa do ar em torno de 30%. Sem chuva significativa no horizonte, a tendência é de que a seca se agrave e os focos de queimadas se tornem ainda mais frequentes e intensos”, alerta.

Queimadas em ritmo acelerado

O boletim da SEMARH indica que, apenas na última semana, foram registrados 13.448 focos de queimadas no estado, com um aumento de 1.801 focos em relação à semana anterior. A região mais afetada é a Lagoa da Confusão, que concentrou 353 focos, representando 19,6% do total estadual. O município de Pium vem logo em seguida, com 255 focos (14,2%), seguido por Formoso do Araguaia, com 187 focos (10,4%).

A rápida propagação dos incêndios preocupa as autoridades locais, que temem que a situação se torne incontrolável se medidas preventivas e de combate não forem intensificadas. Segundo o tenente-coronel dos Bombeiros, Carlos Souza, a situação é crítica e exige uma mobilização conjunta. “Estamos trabalhando incansavelmente para combater os focos de incêndio, mas a população também precisa colaborar. Evitar queimadas controladas e denunciar ações suspeitas são atitudes essenciais para prevenir tragédias maiores”, afirma Souza.

Ele destaca ainda que as queimadas no Tocantins têm se intensificado nos últimos anos, resultado de práticas agrícolas inadequadas e do uso indiscriminado do fogo para limpeza de pastagens. “Precisamos conscientizar a população sobre os riscos e impactos dessas ações. As queimadas não afetam apenas o meio ambiente, mas também a saúde pública, com o aumento de problemas respiratórios causados pela fumaça”, acrescenta o tenente-coronel.

Impactos ambientais e sociais

Além dos danos diretos ao meio ambiente, as queimadas e a seca trazem consequências significativas para as comunidades locais. Segundo a bióloga Letícia Andrade, especialista em ecossistemas do Cerrado, os incêndios afetam gravemente a biodiversidade da região, colocando em risco várias espécies de fauna e flora. “O fogo destrói habitats e dificulta a sobrevivência de várias espécies. A recuperação das áreas queimadas é lenta e, muitas vezes, irreversível, especialmente em regiões que já estão fragilizadas pela seca”, explica.

Letícia também alerta para os efeitos da seca prolongada na economia local. “A escassez de água compromete a produção agrícola e a pecuária, que são atividades essenciais para a economia do estado. Com a redução dos níveis dos rios e a falta de chuva, os produtores enfrentam dificuldades para manter suas plantações e rebanhos, o que pode resultar em prejuízos financeiros e na redução da oferta de alimentos”, diz.

Monitoramento constante

O monitoramento constante das condições climáticas e dos níveis dos rios é fundamental para antecipar problemas e adotar medidas preventivas. O governo estadual, em parceria com o INMET e outras instituições, realiza o acompanhamento dos indicadores de seca e das condições meteorológicas, além de monitorar os focos de queimadas em todo o território.

A previsão é de que, nos próximos dias, o risco de incêndios permaneça alto, especialmente nas regiões norte e central do estado, onde a umidade relativa do ar está abaixo de 40%. As autoridades reforçam o pedido para que a população evite o uso de fogo em áreas de vegetação e denuncie qualquer foco de incêndio para as autoridades competentes.

Recomendações para a população

Diante do cenário crítico, o Ministério da Saúde emitiu algumas recomendações para a população do Tocantins. Entre as principais orientações estão:

Aumentar a ingestão de água e líquidos para manter as membranas respiratórias úmidas e protegidas.

Evitar atividades físicas ao ar livre durante o período do dia em que a qualidade do ar esteja pior.

Utilizar umidificadores de ar ou toalhas molhadas nos ambientes internos para aumentar a umidade relativa do ar.

As autoridades também pedem que a população fique atenta às informações e alertas meteorológicos e siga as recomendações de segurança para prevenir incêndios e preservar a saúde.

 

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