Entre os dias 16 e 24 de setembro, o Parque Estadual do Cantão (PEC) foi palco da terceira campanha de monitoramento de ariranhas deste ano, organizada pelo Programa Pró-Ariranha, uma iniciativa do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). Esta fase do projeto concentrou-se na observação de adultos e filhotes da espécie *Pteronura brasiliensis*, popularmente conhecida como ariranha, durante a estação seca, em conformidade com a Portaria Naturatins nº 70/2022. O monitoramento é realizado trimestralmente, cobrindo as estações de cheia, vazante, seca e enchente, permitindo um acompanhamento detalhado do comportamento e habitat da espécie ao longo do ano.
Importância da conservação no Parque Estadual do Cantão
O Parque Estadual do Cantão, localizado na região do Bico do Papagaio, no Tocantins, é uma unidade de conservação que abrange mais de 90 mil hectares de áreas de várzeas e florestas alagáveis, proporcionando um ambiente propício para a fauna e flora locais. A região, considerada uma área de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado, possui uma biodiversidade rica, abrigando espécies ameaçadas como a ariranha, o peixe-boi e diversas aves aquáticas.
De acordo com Samara Almeida, bióloga e coordenadora do Pró-Ariranha, a proteção de áreas como o PEC é fundamental para a sobrevivência das ariranhas. “As unidades de conservação desempenham um papel crucial na mitigação dos impactos antrópicos, como a caça ilegal e a destruição de habitat. O monitoramento contínuo possibilita a adoção de medidas específicas para cada estação do ano, aumentando as chances de preservação da espécie”, destaca.
Metodologia de Monitoramento
Durante a campanha, as equipes de monitoramento percorreram o rio do Coco e seus afluentes, além de áreas de lagos e furos, habitats naturais das ariranhas. A metodologia inclui a identificação individual dos animais por meio das manchas brancas únicas em seus pescoços, um método não invasivo que permite o acompanhamento detalhado dos indivíduos ao longo do tempo.
Segundo Aline Vilarinho, inspetora de Recursos Naturais do PEC, o monitoramento constante é essencial para garantir a conservação da espécie e do ecossistema como um todo. “A ariranha é uma espécie indicadora de saúde ambiental. Sua presença sugere que os ecossistemas aquáticos estão relativamente intactos e com boa oferta de alimento, principalmente peixes. Monitorá-la nos dá informações valiosas sobre o estado de conservação das águas e da biodiversidade na região”, explica.
Ações de conservação e desafios
O Programa Pró-Ariranha foi instituído em 2022 com o objetivo de promover a preservação das populações remanescentes de ariranhas no Parque Estadual do Cantão e em outras áreas protegidas do Tocantins. O programa abrange 17 ações que incluem a capacitação de equipes, o suporte a pesquisas científicas e a implementação de estratégias de conservação.
Além do monitoramento populacional, o programa foca na educação ambiental e no combate à caça ilegal e à pesca predatória, práticas que ainda ameaçam a ariranha e outros animais na região. Emival Pinto Rocha, guarda-parque que participa da iniciativa, ressalta que, apesar das dificuldades logísticas, o trabalho é gratificante. “Temos que abrir trilhas na vegetação densa para alcançar os lagos onde as ariranhas se escondem. Além disso, lidamos constantemente com pescadores que veem as ariranhas como concorrentes. No passado, elas foram caçadas quase até a extinção por causa do valor de suas peles. Hoje, precisamos mostrar que a preservação delas é vital para o equilíbrio do ecossistema”, comenta.
Impactos econômicos e ecoturismo
O sucesso das ações de conservação também pode trazer benefícios econômicos para a região. A presença de ariranhas atrai ecoturistas, o que pode impulsionar o desenvolvimento sustentável no entorno do parque. A bióloga Aline Vilarinho acredita que o turismo consciente pode ser uma ferramenta poderosa para a preservação. “O turismo de observação de fauna, quando bem gerido, contribui para a conscientização e gera recursos que podem ser revertidos em ações de proteção ambiental”, afirma.
Ariranha: Espécie Sentinela
Classificada como ameaçada de extinção pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), a ariranha foi dizimada pela caça predatória durante o século XX, além de sofrer com a degradação de seu habitat. Atualmente, as ariranhas são encontradas em fragmentos de florestas e áreas alagadas da Amazônia, Pantanal e Cerrado. Por serem predadores de topo de cadeia, elas desempenham um papel importante na regulação das populações de peixes e na manutenção do equilíbrio ecológico.
A conservação de ariranhas beneficia não apenas a espécie, mas todo o ecossistema aquático. A proteção dos habitats onde elas vivem, como rios e lagos, assegura a sobrevivência de inúmeras outras espécies que compartilham o mesmo ambiente. Programas como o Pró-Ariranha são, portanto, essenciais para a preservação da biodiversidade e para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas.
Perspectivas Futuras
Com o encerramento desta terceira campanha de 2024, o Programa Pró-Ariranha segue empenhado em fortalecer a conservação da biodiversidade no Parque Estadual do Cantão. Os dados coletados durante as campanhas serão utilizados para aprimorar as estratégias de manejo e conservação da espécie, além de contribuir para a elaboração de novas políticas ambientais.
A continuidade das campanhas de monitoramento e a integração com outras iniciativas de conservação no Brasil são fundamentais para garantir o futuro das ariranhas. O desafio, segundo os pesquisadores, é aliar a preservação da biodiversidade ao desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem no entorno das áreas protegidas.
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