Pastor é condenado a 13 anos por abusos sexuais e fraude religiosa em Guaraí

O pastor Gilmar Ferreira Maróstica, líder religioso em Guaraí, foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão, em regime fechado, por crimes de estupro, atos libidinosos e conjunção carnal mediante fraude religiosa ou abuso de autoridade. A sentença foi divulgada no último dia 22 de outubro e é resultado de um processo conduzido pelo Ministério Público do Tocantins (MPTO).

De acordo com a denúncia, apresentada pela 1ª Promotoria de Justiça de Guaraí , o pastor utilizava sua posição de liderança em uma denominação evangélica para abusar de dez adolescentes, sendo sete meninos e três meninas. Os atos criminosos incluíam toques íntimos sem consentimento, envio de mensagens de cunho sexual e rituais supostamente destinados a “curar pecados”. O processo corre em segredo de justiça e investigações indicam que mais vítimas podem ser identificadas.

Pastor realizou fraude religiosa e manipulação

O pastor prometia libertação de “demônios” e cura para questões como masturbação e homossexualidade, utilizando discursos religiosos para justificar os abusos. Relatos apontam que Maróstica realizava “unções” em partes íntimas das vítimas, apresentando-se como um “pai espiritual” que conduziria os jovens à redenção.

“É um caso de abuso de poder religioso que precisa ser enfrentado com seriedade. Ele usava a fé como ferramenta de manipulação para cometer crimes graves”, destacou a promotora responsável pelo caso, que preferiu não ser identificada.

As denúncias também indicam que o condenado recorria a estratégias de intimidação e manipulação emocional para silenciar as vítimas e impedir que os abusos fossem revelados. A condenação foi baseada em testemunhos e provas coletadas ao longo das investigações.

Mobilização de movimentos sociais

O caso ganhou notoriedade nacional com o envolvimento do projeto Nossas Histórias Curam, liderado pelo pastor Anderson Silva, de Brasília. O movimento, que combate abusos cometidos em ambientes religiosos, acompanhou o processo em Guaraí e tem incentivado outras possíveis vítimas a denunciarem.

“Este homem usava a fé para justificar atrocidades, prometendo curas absurdas. Casos como esse mostram a urgência de apoiar as vítimas e garantir que os responsáveis sejam punidos”, afirmou Silva. Criado há três anos, o projeto oferece suporte jurídico, psicológico e financeiro às vítimas, além de promover campanhas para conscientizar comunidades religiosas sobre o tema.

Respostas das denominações religiosas sobre o caso do pastor

Duas igrejas emitiram notas oficiais em resposta às denúncias contra Maróstica. A Embaixada Apostólica Filadélfia, onde ele atuou anteriormente, afirmou desconhecer as práticas criminosas durante o período em que o pastor integrava a instituição. A igreja informou que o afastou de suas funções ao tomar conhecimento das acusações.

Já a Igreja Família Vitoriosa, em Guaraí, onde o pastor passou a congregar em 2019, explicou que ele foi acolhido para “restauração espiritual” após ser disciplinado por sua antiga denominação. A igreja afirmou que não houve registros de práticas irregulares enquanto ele esteve sob sua supervisão, mas confirmou que ele foi afastado de qualquer atividade ministerial após as denúncias.

Desdobramentos e investigações sobre o caso do pastor

Embora o pastor já tenha sido condenado, o MPTO acredita que o número de vítimas pode ser maior. As investigações seguem em andamento e novas denúncias estão sendo avaliadas. O sigilo do processo foi mantido para proteger as vítimas e garantir a integridade das apurações.

O caso de Maróstica expõe um padrão de abuso de poder em contextos religiosos, em que líderes manipulam a vulnerabilidade emocional e espiritual dos fiéis para cometer crimes. Para especialistas, a falta de fiscalização e a confiança irrestrita em figuras de autoridade religiosa contribuem para a perpetuação desses casos.

“A fé não pode ser usada como instrumento de violência. É essencial que instituições religiosas criem mecanismos de prevenção e que as vítimas sejam encorajadas a buscar justiça”, comentou a psicóloga Mariana Nunes.

Impacto e prevenção

Casos como o de Guaraí destacam a importância de fortalecer mecanismos de proteção e conscientização dentro das comunidades religiosas. Para o pastor Anderson Silva, o apoio às vítimas é essencial para romper o ciclo de silêncio e impunidade. “Não podemos permitir que espaços de fé sejam transformados em ambientes de abuso. Precisamos unir forças para proteger os mais vulneráveis.”Com a condenação de Gilmar Maróstica, espera-se que o caso sirva como exemplo para coibir práticas semelhantes e incentivar denúncias de abusos em ambientes religiosos.

Procurada, a Secretária de Segurança Pública do Tocantins informou ao Diário Tocantinense, por meio de nota que o caso foi investigado pela 5ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Vulneráveis (Deamv – Guaraí). A nota diz ainda que as investigações foram concluídas no ano de 2023 e o suspeito foi indiciado pelos crimes de estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e importunação sexual. A SSPTO disse ainda que o procedimento foi encaminhado ao Poder Judiciário com vistas ao Ministério Público que ratificou o indiciamento e ofereceu denúncia por todos os crimes anteriormente citados. A ação penal se encontra em segredo de justiça devido as vítimas serem menores de idade.

A equipe de reportagem tentou contato com o Ministério dos Direitos Humanos, com o Conselho Regional de Psicologia do Tocantins e a com a Prefeitura Municipal de Guaraí para saber quais os suportes que estão sendo dados para as vítimas. Até o momento, não obtivemos resposta. A reportagem entrou em contato com o Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins que disse que não iria comentar o caso que, segundo eles, segue em sigilo de justiça.

Confira a íntegra da nota enviada pelo Ministério Público Estadual do Tocantins ao site Diário Tocantinense

O Ministério Público do Tocantins (MPTO) obteve a condenação de um homem à pena de 13 anos e seis meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, pelos crimes de estupro, ato libidinoso e conjunção carnal mediante fraude religiosa ou abuso de autoridade. Os casos aconteceram na cidade de Guaraí, distante 190 quilômetros de Palmas. A sentença foi publicada em 22 de outubro.

De acordo com a denúncia do MPTO, o homem fez uso da posição de líder espiritual de uma denominação evangélica para praticar os atos criminosos contra dez adolescentes, sendo sete rapazes e três moças. Entre os relatos, por exemplo, o então pastor de jovens da igreja era procurado para tratar de casos de abuso infantil, pornografia e masturbação e aplicava “procedimentos para libertação dos pecados”. Nesse contexto, chegou a tocar intimamente as vítimas sem consentimento e enviar fotos de cunho sexual.

Com base em testemunhos e ainda segundo a denúncia do Ministério Público, apresentada pela 1ª Promotoria de Justiça de Guaraí e recebida pela Justiça em abril deste ano, o condenado praticou estelionato religioso. Como forma de “tirar um demônio” e “espírito de masturbação” de adolescentes, o pastor fazia uso do termo “pai espiritual” ao praticar os crimes. O processo tramita em segredo de justiça e há a possibilidade de existir um maior número de vítimas

Confira a íntegra da nota enviada pelA Secretaria de Segurança Pública  ao site Diário Tocantinense

A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP/TO) informa que o caso foi investigado pela 5ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Vulneráveis (Deamv – Guaraí).
As investigações foram concluídas no ano de 2023 e o suspeito foi indiciado pelos crimes de estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e importunação sexual.
O procedimento foi encaminhado ao Poder Judiciário com vistas ao Ministério Público que ratificou o indiciamento e ofereceu denúncia por todos os crimes anteriormente citados. A ação penal se encontra em segredo de justiça devido as vítimas serem menores de idade.

O Diário Tocantinense abre espaço para que a defesa e/ou os envolvidos comentem o assunto.

 

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