Pesquisa inédita conduzida pelos Institutos Aleias, Alziras, Foz e Travessia Políticas Públicas, com apoio da Fundação Lemann e Open Society Foundations, expôs a vulnerabilidade enfrentada por mulheres em cargos de secretariado em estados e capitais brasileiras. Segundo o levantamento, 93% das entrevistadas relataram sofrer violência psicológica no exercício de suas funções, enquanto 43% mencionaram experiências de violência de gênero e 33% enfrentaram violência sexual.
Cenário de violência institucional
A pesquisa, que ouviu 341 secretárias estaduais e municipais, revelou que uma em cada quatro enfrentou episódios de violência física, frequentemente ocorrendo em contextos de trabalho, como toques não consentidos durante reuniões. Mulheres negras são ainda mais impactadas: 33% relataram ter sofrido violência física, comparado a 22% entre mulheres brancas.
Os principais responsáveis pelas violências de gênero são colegas de trabalho (65%) e membros de partidos políticos (41%), evidenciando uma cultura institucional marcada por práticas excludentes e hostis.
Subnotificação e barreiras à denúncia
Apesar dos números alarmantes, 50% das secretárias optaram por não reportar os casos. Apenas 15% recorreram a canais formais de denúncia, enquanto 28% desabafaram com colegas e 23% informaram chefias diretas. O medo de represálias e a desconfiança nos mecanismos institucionais estão entre as razões para a subnotificação. Além disso, 66% das entrevistadas desconhecem a existência de leis específicas de proteção contra assédio e violência em cargos públicos.
“É essencial implementar programas que capacitem essas mulheres para reconhecerem seus direitos e se protegerem das violências sofridas”, defendeu Esther Leblanc, diretora do Instituto Foz.
Sobrecarga doméstica e impacto no trabalho
A pesquisa também evidenciou a dupla jornada enfrentada por 82% das secretárias, que são mães e assumem a maior parte da gestão doméstica. Para 66%, as responsabilidades familiares dificultam o desempenho profissional, sendo que 18% relataram impactos frequentes.
A falta de suporte contribui para a baixa perspectiva de crescimento político: apenas 17% das secretárias têm intenção de disputar cargos eletivos, com maior interesse entre mulheres negras (22%) do que brancas (14%).
Participação feminina limitada em áreas estratégicas
A primeira etapa do estudo mostrou que as mulheres ocupam apenas 28% dos cargos de secretariado nos estados e capitais, concentradas em pastas como Saúde e Educação. Em áreas como infraestrutura e economia, a representatividade feminina permanece inferior a 30%.
“As secretárias enfrentam riscos aumentados ao demonstrarem ambição política, o que reforça a necessidade de proteção e igualdade de condições para mulheres nesses espaços,” destacou Marina Barros, diretora do Instituto Alziras.
Recomendações para mudança estrutural
Os Institutos responsáveis pela pesquisa propõem medidas como a criação de legislações específicas para combater a violência política de gênero e a promoção de gabinetes paritários. Segundo Luana Dratovsky, diretora do Instituto Aleias, “a Lei 14.192, que aborda violência política, não protege mulheres em cargos não eletivos. É urgente propor novas legislações que contemplem essas lideranças.”
Sobre os Institutos
- Instituto Aleias: Promove a equidade de gênero no setor público, com foco no acesso e permanência de mulheres em cargos de liderança.
- Instituto Alziras: Atua para ampliar a participação feminina na política, com advocacy baseado em evidências e fortalecimento de lideranças.
- Instituto Foz: Trabalha para transversalizar a agenda de gênero em políticas públicas, com articulação e produção de conhecimento.
O relatório completo pode ser acessado em www.censosecretarias.org.
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